Na noite do último domingo (13), a HBO deu partida na tão aguardada segunda temporada de The Last of Us, seu sucesso inspirado na franquia de videogames de mesmo nome. Em “Dias Futuros“, somos alertados do perigo futuro, enquanto a calmaria e a ansiedade cegam os protagonistas.
A vingança será o epicentro da trama
A segunda temporada se inicia mostrando preocupação em demonstrar as consequências da decisão de Joel (Pedro Pascal) no fim da primeira fase da obra. E a personificação deste cenário é Abby (Kaitlyn Dever), que buscará vingança pelo sangue derramado pelo protagonista.
Aqui há uma clara intenção de mostrar os dois lados da história – assim como no segundo jogo, que inspira essa nova fase da série. Mesmo que ainda com pouco tempo de tela, Kaitlyn consegue nos convencer que Abby fara tudo o que estiver ao seu alcance para que Joel morra lentamente e contará com a ajuda de seu grupo em sua missão de vingança.

A calmaria – e a monotonia – sob os muros
Em contrapartida, após um time skip de cinco anos, vemos como está a vida de Ellie (Bella Ramsey), Joel e Tommy (Gabriel Luna), além de sermos apresentados a novos personagens. Enfeitiçada pela paixão por Dina (Isabela Merced), Ellie busca aprender o máximo possível para impressiona-la e Joel enfrenta seus demônios com a ajuda de terapia – algo que se demonstra ainda mais difícil na realidade de The Last of Us.
Com isso, o máximo de ação que temos em tela vem como resultado de uma ação irresponsável de Ellie e Dina em uma excursão de observação do terreno em volta da comunidade, onde também podemos ver como a humanidade, ao menos nesse grupo, lida com menos medo com os infectados – o mesmo de sempre em tramas do gênero: em um mundo pós-apocalíptico os humanos são a verdadeira ameaça.

No entanto, na cena em que nossa protagonista encara um sussurrador podemos ver, assim como na primeira temporada, o quanto a equipe de Craig Mazin e Neil Druckman segue empenhada em trazer para as telas o perigo ambientado nos jogos ao nos depararmos com cada espécie de zumbis, que também parecem estar mais astutos do que antes ao caçar suas presas.
Em suma, Dias Futuros passa longe do possível “episódio evento” esperado por muitos fãs no quesito ação e tensão, algo bem distante do choque do primeiro episódio da temporada anterior e muito próximo da maior parte dos episódios subsequentes, o que foi uma escolha controversa da direção na primeira parte da obra.
No entanto, no pouco que vimos em materiais promocionais e bastidores, os autores pretendem trazer mais ação, principalmente com os infectados, no decorrer desta temporada e o fim do primeiro episódio deixa claro que a fase de calmaria está bem perto de seu fim.
Pedro Pascal convence, já Bella Ramsey…
É importante falar que o tópico trata-se muito mais de caracterização do que atuação. Abrindo rapidamente este parêntese, seria chover no molhado gastar muito tempo elogiando os dois atores principais, que já vimos por diversas vezes cumprir com maestria seus papéis e aqui não é diferente. Mesmo com seus personagens mais distantes após o time skip de cinco anos, ainda é possível sentir o poder da relação entre Ellie e Joel e tanto Pedro quanto Bella entregam muito bem as emoções da dupla de protagonistas.
Pascal, em específico, consegue transparecer naturalmente o peso do envelhecimento em um Joel que já passou por muitas batalhas em sua vida e deposita em Ellie a vontade de voltar a ter uma vida tranquila como pai – o que perdeu junto a parte de sua humanidade após a morte de sua filha Sarah. Porém, Ellie não parece disposta a ser uma filha para ele, por mais grata que possar ser, e a fase da adolescência não ajuda.

Se Pedro convence na pele de Joel, Bella consegue transparecer bem os sentimentos de Ellie, mas sua caracterização está bem longe de convencer que a mesma envelheceu cinco anos. Agora a protagonista possui 19 e, mesmo que a atriz tenha 21 anos, ainda vemos Ellie com a mesma aparência da pré-adolescente da primeira temporada e sua personalidade apenas dificulta que a suspensão da descrença haja em relação ao tempo.
Ellie é irritante, mas uma tela em branco para evolução
Falando em Ellie, a personagem segue de fato tão profunda quanto necessita ser, mas foi um fardo acompanhar sua personalidade em “Dias Futuros” e isso dificulta ainda mais a atuação de Ramsey neste episódio de estreia.
Abro assim, uma reflexão: Ellie nasceu em um mundo pós-apocalíptico e, por mais que os sinais da pré-adolescência fossem claros na primeira temporada, a mesma demonstrava claros sinais de entender toda a complexidade de sobreviver neste cenário. Ela cresceu sem pais, o que até pode explicar a falta de senso de responsabilidade, mas perdeu sua primeira paixão de forma trágica e viu muita gente ao seu redor morrer. Assim, é natural esperarmos que no ponto em que se encontra a segunda temporada, ela estivesse de fato mais madura, mas a narrativa parece querer nos passar uma Ellie no auge da adolescência, como se na verdade ainda estivesse presa em uma fase me que não pôde aproveitar, o que é poético, mas irritante demais de se acompanhar em cena.

No entanto, isso coloca Ellie em um papel ao qual será interessante acompanhar: a evolução pós possíveis traumas que a segunda temporada reserva. Se essa chave ainda não virou na mente de Ellie, acompanharemos seu amadurecimento em tela e a dupla Craig Mazin e Neil Druckman possuem muito potencial em mãos para desenvolver com maestria a personagem, por mais que já a conhecemos bem após a primeira temporada – na verdade, será mesmo que a conhecemos? Iremos descobrir em breve.
A beleza sutil dos Dias Futuros
Por fim, fica impossível não citar a beleza deste primeiro episódio. Assim como na temporada anterior é visível o carinho dos produtores em trazer detalhes sutis que encantam ao mesmo tempo que fazem belíssimas referência aos jogos, um deleite que permanece para os fãs da franquia original e os mantem próximos da narrativa, mesmo com as particularidades apresentadas pela trama – a licença poética segue posta em prática sem desrespeitar o material original e isso é um ponto altíssimo, ao menos até o momento.
Em uma das cenas que com certeza serão utilizadas em comparação com os games pela internet, temos um dos momentos mais belos esteticamente da série até esse ponto: a festa de ano novo. E tudo isso melhora com o convincente primeiro beijo de Dina e Ellie com as luzes e a música ambiente nos fazendo torcer para que tudo ocorresse conforme o esperado. Um clima agradável de romance toma o ar e nos cativa.
Aqui, inclusive, está o ápice da atuação de Bella Ramsey neste episódio, onde podemos ver muito da ansiedade de Ellie em seu olhar, ao mesmo tempo em que ela está pronta para viver o momento que sonhou, disposta a embarcar em uma paixão mesmo após o trauma vivido com Riley em seu passado.

A quebra de expectativa ocorre quando o belo momento é interrompido pelo preconceito de Seth (Robert John Burke) e a brusca e paterna reação de Joel para defender Ellie, o que gera mais um momento de confronto entre os personagens.
Enquanto não quer ser humilhada ao ser protegida por alguém que enxerga fragilidade em sua pessoa, Ellie retribui a proteção de Joel com um momento de humilhação que deve estreitar ou distanciar ainda mais a relação entre os dois nos próximos passos da trama, enquanto perigos muito mais sérios se aproximam da até então tranquila vida de todos os moradores da comunidade, principalmente dos nossos protagonistas.
The Last of Us retorna no próximo domingo (13), às 22h, no canal HBO e na Max. Seguiremos acompanhando semanalmente cada episódio da nova temporada, então fique ligado!
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