O dia enfim chegou… A HBO tentou manter as expectativas baixas para pegar quem ainda restava desapercebido em seu público, mas a maior parte dele, principalmente os que vieram dos jogos originais, já sabiam o que esperar do segundo episódio da nova temporada de The Last of Us.
No último domingo (20), foi ao ar o melancólico “Through the Valley” (“Através do Vale“, em tradução livre). O episódio possui o mesmo título da música de Shaw James que embala e transforma o alegre clima de páscoa em um triste fim de domingo em luto; uma noite que entra para a história das grandes produções de TV.
Diferentes formas de tensão
Bem, aqui vamos direto ao ponto, sem fugir dos spoilers – que já atingiam o público antes mesmo do episódio ir ao ar. A morte de Joel (Pedro Pascal) era esperada por quem passou pela narrativa original nos games, mas não deixou de ser tensa para qualquer espectador.
Enquanto quem não esperava pode vivenciar a tensão causada pela narrativa ao colocar Joel e Abby (Kaitlyn Dever) frente à frente de forma talvez forçada demais, mas poética, quem já sabia o que esperar se agoniava com o clima de impotência do decorrer do episódio, algo que acredito ter sido proposital por parte dos criadores da série – que souberam mexer com todo o público, independente de suas experiências com a lore de The Last of Us.

Paralela a esta tensão, está a causada pela invasão à comunidade de Jackson. Aqui temos a primeira grande demonstração que a série buscará transformar a monotonia causada por parte da trama até aqui na frenesi da luta contra os infectados, que parecem estar em frequente evolução e serão inimigos tão difíceis de lidar quanto os humanos nesta temporada.
Mudanças que enriquecem a trama
A invasão, inclusive, é uma das particularidades da série em relação ao jogo, o que se demonstra como mais um ponto de acerto da obra da HBO. Aqui temos uma verdadeira aula de como trazer originalidade ao mesmo tempo em que se respeita a narrativa original.
Deixar Tommy (Gabriel Luna) em Jackson não só fez com que Dina (Isabela Merced) pudesse vivenciar em seu lugar a captura de Joel – o que pode trazer um tom ainda mais sombrio à busca de vingança de Ellie – como também permitiu com que ele demonstrasse seu papel como líder na invasão dos infectados, além de explorar seu senso de preocupação e proteção como pai e marido.
Aqui temos em destaque a contundente atuação de Gabriel Luna, que deve brilhar ainda mais com os acontecimentos do próximo episódio, onde o veremos lidar com o luto na pele do irmão de Joel e líder de Jackson.

Os infectados são a cereja no bolo
A invasão, inclusive, nos permite apreciar, agora em meio a neve, o cuidado da produção em trazer maquiagens e efeitos perfeitos em cada infectado em tela. Antes mesmo das fantásticas cenas de ação e fugas – que me fizeram imediatamente lembrar de “Guerra Mundial Z” – já foi possível observar o brilhante trabalho da série com as diferentes formas de evolução do fungo Cordyceps. A cena dos infectados prensando Abby na grade antes de ser salva por Joel é o ápice deste momento de apreciação em meio à tensão.

Um show de atuação e sofrimento
Chegamos no momento em que é necessário dar créditos ao brilhantismo que há na atuação de cada um dos envolvidos diretamente no momento da morte de Joel. Kaitlyn Dever nos entrega uma vilã vingativa sem qualquer defeito, mas falarei dela mais tarde, aqui quero resenhar primeiro sobre a dupla de protagonistas.
Cada olhar de Joel ao encontrar-se com os ex-vagalumes e descobrir quem são, transparece seus sentimentos reais, que sabia que esse momento inevitavelmente chegaria, mais cedo ou mais tarde. Já Bella Ramsey chega de supetão nos momentos finais e consegue brilhar ainda mais que o esperado.
Aqui esquecemos todo o contexto da história e, independente da falta de laços sanguíneos e o desdém de Ellie no último episódio, enxergamos o sofrimento de uma filha ao ver seu pai ser morto em sua frente, sem poder defende-lo. É dilacerante ouvi-la gritar para que Joel levante e ainda pior vê-lo tentar obedecer o pedido para defende-la uma última vez se necessário, o que foi em vão.

Bella chegou ao ápice de sua atuação em The Last of Us e precisará mantê-lo ou até mesmo superá-lo agora que terá mais “peso” na narrativa. Isso, porém, dificilmente será um problema para um talento tão natural e poderemos ver Ellie enfim evoluir e amadurecer como personagem no decorrer desta temporada. A frágil e birrenta adolescente se transformará em uma brutal máquina de matar em busca de vingança? É o que esperamos ver…
O ponto de virada para The Last of Us
Assim, nossas expectativas apenas aumentam. The Last of Us chegou em seu ponto de virada e o caos instaurado em Trough the Valley deve manter-se em boa parte dos próximos episódios, onde todos os personagens que fazem a engrenagem girar terão de ocupar papéis cruciais na trama, lidando com verdadeiros demônios, sejam eles infectados, humanos ou até mesmo, e principalmente, psicológicos.

Uma difícil tarefa…
E falando ainda sobre a virada da série a partir deste episódio, precisamos falar sobre a dificílima missão que Craig Mazin e Neil Druckman tem em mãos com Abby. Mesmo com todos os esforços, será difícil transformar a personagem em alguém digna da empatia do público.
Poucos minutos após o episódio, a internet já havia sido tomada por enxurradas de comentários sobre a brutal morte de Joel e muitas das mensagens eram relacionadas à Abby, em sua grande maioria nem um pouco amigáveis.
N vai ter na terra um fã de Abby que vai me fazer perdoar essa cadela… #TheLastOfUs pic.twitter.com/jB5E7FS0au
— Guike (@_Guike_) April 21, 2025
Nos games assumimos o papel de Abby para sermos “forçados” a ouvir e, quem sabe, entender suas motivações. Na série, o fator surpresa foi sacrificado para que a personagem fosse melhor aprofundada antes da morte de Joel, mas será isso suficiente para de fato entendermos e até mesmo torcermos por sua sobrevivência nos próximos episódios? Veremos o que o enredo nos aguarda.
Por fim, também é preciso valorizar a brilhante atuação de Kaitlyn Dever, desde o momento em que sua personagem se encontra com o algoz de seu pai, até ser ela quem precisa assumir esse papel sobre o mesmo. Em cada palavra e pancada causada por Abby podemos ver transbordar seu ódio por Joel e até mesmo entender um pouco de sua dor, tudo isso com um sádico prazer de enfim cumprir seu desejo de vingança. Um momento doloroso, mas sublime!

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