Em menos de um ano após lançar “Chromakopia”, eis que Tyler, The Creator tira um novo álbum da manga. “Don’t Tap The Glass” chega soando como um respiro e um sopro de descontração e leveza após uma era densa, de introspecção, e que ainda está em vigor, com a turnê referente ao disco de 2024 seguindo firme.
Em um ponto onde Tyler se encontra com uma carreira consolidada, marcada pela constante inquietação, renovação e quebra de expectativas, sempre apresentando um trabalho mais ambicioso e provocador, faz todo seu sentido que seu próximo passo seja na direção oposta. Em um álbum curto, com 10 faixas que somam 28 minutos ao todo, o rapper não pretende nada além de se divertir.

Aqui, o artista não apresenta nenhum mega conceito, nenhuma grande reflexão, provocação ou contestação, não se ocupa em muitas experimentações, nem inovações. Há apenas duas regras: não parar de dançar e não tocar no celular, já que o próprio artista contou que a ideia para o novo projeto surgiu após conversar com amigos e ouvir que eles não dançavam em festas por medo de serem gravados. Sendo assim, Tyler ocupa a função de um mestre de cerimônias em uma festa que resgata as raízes do hip hop e referências das pistas dos anos 1980 e 1990.
Ao longo do disco, o artista vai resgatando referências e samples do soul/funk psicodélico, do r&b, do electro-pop, synth-pop, disco music, house, miami bass, e vai costurando com maestria um grande mosaico de ritmos que moldaram a música negra norte-americana nos últimos 40 anos. Tudo aqui vai se encaixando com muita fluidez e naturalidade fazendo com que o ouvinte se mantenha sempre em movimento e seguindo o ritmo irresistível de “Don’t Tap The Glass”.
Na abertura com “Big Poe” já fica explícito o rumos que o álbum irá seguir a partir daí, uma faixa que te transporta direto para um baile hip hop nos anos 1990, contando com a colaboração de Pharrell Williams e Sk8brd e exalando todo o hedonismo e impulsividade que vai dominar nos minutos seguintes. “Sugar On My Tongue” já cai direto em pop eletrônico frenético com ecos de new wave. “Sucka Free” traz uma camada de sensualidade para festa, partindo para o r&b.
“Stop Playing With Me” é um dos momentos mais pulsantes do álbum, com Tyler rimando sob uma batida acelerada. “Ring, Ring, Ring” é outro ponto alto que mistura sexo com um tom irreverência e uma levada irresistível. O ritmo segue sem sombra de cansaço em “Don’t You Worry Baby”, com participação de Madison McFerin e “I’ll Take Care of You”.
O álbum encerra com “Tell Me What It Is” uma balada romântica eletrônica torta, com a dose de excentricidade que se espera de Tyler, mas que tem muita sensibilidade e resgata de leve a fragilidade de “Chromakopia”, como uma ressaca pós euforia.
Em “Don’t Tap The Glass”, Tyler, The Creator abre das suas grandes ambições. Em um momento em que ele já não precisa se provar como artista, o rapper parece tirar um tempo para se divertir, dançar e construir um álbum que, ao mesmo tempo em que soa despretensioso, não deixa de encantar pela minúcia de detalhes e a precisão para combinar uma gama de referências. O artista acerta em apostar no simples, ainda que cheio de complexidades.
Leia também
Deixe uma resposta