Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um perdeu em tensão, mas ganhou em emoção

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Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um perdeu em tensão, mas ganhou em emoção

Lupita Nyong’o é o coração de um longa que parece perdido tentando se equilibrar nos temas propostos.

Existem ideias interessantes e pelo menos uma atuação confiante que mantêm Um Lugar Silencioso: Dia Um coeso, mesmo que, às vezes, pareça um rascunho de um filme final mais rico e complexo. Michael Sarnoski (“Pig”), demonstra habilidade em criar nuances melancólicas e sutis em seus personagens, algo geralmente ausente nesse tipo de blockbusters. No entanto, ele carece das habilidades necessárias para as cenas de ação, um aspecto essencial para um filme como este: as cenas parecem imprecisas demais, e os riscos nunca são altos o suficiente para gerar verdadeira tensão. Ainda assim, o que poderia ter sido uma tentativa de lucro rápido claramente tem aspirações mais elevadas, resultando em um filme que nunca é entediante e provoca grandes questões sobre o que realmente importa neste mundo quando ele está desmoronando.

A sempre excelente Lupita Nyong’o (“Pequenos Monstros”) interpreta Sam, uma paciente com câncer em estágio terminal que concorda em fazer uma viagem a Manhattan para assistir a um show com seu grupo de apoio, liderado por Alex Wolff (que também atuou em Pig). O show de marionetes que eles assistem é bom, mas ela está realmente lá por um pedaço de pizza de Nova York, sabendo que é provavelmente a última vez que terá a chance de saborear algo que ela claramente associa com felicidade. Fazer de Sam uma paciente terminal acrescenta uma camada interessante ao horror que se desenrola. Quão duro você luta para viver quando já está morrendo? Esta é apenas uma das várias ideias intrigantes que o filme de Sarnoski aborda, mas depois se afasta rapidamente, recuando para a estrutura rasa de um thriller de sobrevivência.

Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um perdeu em tensão, mas ganhou em emoção

Outra grande questão é, como você silencia uma das cidades mais barulhentas do mundo? O filme abre nos informando que a cidade de Nova York está regularmente a 90 decibéis, preparando o palco para um filme sobre como uma cidade cheia de tanta agitação pode ficar silenciosa. Mas este não é esse filme. Nunca temos a sensação de estarmos em uma cidade lotada no primeiro dia do fim do mundo, já que Sarnoski não consegue esconder que seu filme não foi filmado em Manhattan (foi filmado em estúdios de Londres). Isso faz com que pareça mais um cenário do que uma realidade vivida.

Seguimos Sam e seu gato, que rouba a cena, Frodo, por essa paisagem até que se juntam a um jovem em pânico chamado Eric (Joseph Quinn). Escolher Nyong’o e Quinn é metade do trabalho de Um Lugar Silencioso: Dia Um, já que seus rostos extremamente expressivos são forçados a carregarem muito do peso dramático enquanto os alienígenas sensíveis ao som tomam conta do mundo ao redor deles. Embora o trabalho de Quinn destoe se comparado com o de Lupita, a dupla entrega fortes atuações no gênero, transmitindo a maior parte da história por pura fisicalidade e expressões faciais.

Um lugar nem tão silencioso assim

Um problema que o filme carrega em seu título é do pouco apuro técnico com o design de som, um dos destaques do primeiro longa, foi perdendo a importância em seus novos filmes. Em Dia Um existe até uma licença poética em uma cena que os personagens soltam gritos em meio a uma trovoada, mas o problema mesmo está na presença de uma trilha sonora incidental que, se fosse em qualquer filme, ela seria só muito cafona com acordes nada inspirados, mas se tratando de um longa onde o silêncio faz parte da experiência, nos lembrados que esse ainda é uma blockbuster de verão.

Outro problema no longa é que há pouca história para contar. No início, conhecemos Henri (Djimon Hounsou), um personagem de “Um Lugar Silencioso: Parte II”; ele tem uma das melhores cenas do filme, quando um homem entra em pânico na frente dele e de seu filho. O que você faria? Até onde você iria para silenciar um homem que poderia colocar sua família em risco? Você o mataria? É um momento que tem um bom retorno mais tarde, quando o pânico de Eric começa a crescer, e nos perguntamos se Sam poderá ter que fazer as mesmas perguntas, mas parece pouco desenvolvido.

Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um perdeu em tensão, mas ganhou em emoção

Quase todos os aspectos temáticos de Um Lugar Silencioso: Dia Um parecem apressados, um ritmo que pode ser o motivo pelo qual o antes vinculado Jeff Nichols (“Clube dos Vândalos”) deixou o projeto devido a diferenças criativas. É difícil acreditar que, na era dos blockbusters exageradamente longos, este parece que deveria ter sido mais longo; seus 99 minutos não permitem um investimento suficiente nos personagens, na construção do mundo ou na verdadeira tensão.

No entanto, o óbvio talento de Sarnoski para nuances aparece em alguns momentos. Ele dirige Nyong’o e Quinn em performances muito sólidas com quase nenhum diálogo, mas gostaria que ele tivesse encontrado um co-diretor que pudesse dar a Um Lugar Silencioso: Dia Um mais de estilo visual e substância, sobretudo nos momentos de tensão em grande escala.

Quando os alienígenas estão em ação, o filme cai em uma lacuna entre o realismo e a ação, nunca parecendo genuinamente tenso, mas nunca como um blockbuster de grande orçamento. São momentos em menor escala – como o das crianças se escondendo em uma fonte para disfarçar o ruído, Eric emergindo de uma estão metrô inundada, uma mão sobre uma boca gritando, os olhos incríveis de Nyong’o – elevam o filme se comparado com outras sequê

acima das sequências criativamente falidas. Este não é esse caso. Tem muito a seu favor para ser descartado de forma tão cínica. Só não espere que alguém o defenda com muita veemência, também.

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