O tecladista Dave Ball, uma das metades do Soft Cell ao lado de Marc Almond, morreu em sua casa na noite de ontem (22) aos 66 anos. A causa da morte do inglês que ajudou a formatar o tecnopop não foi revelada. Entre os sucessos do músico estão a versão definitiva de “Tainted Love” e “Say Hello, Wave Gooddbye“.
Ball se apresentou com o o Soft Cell há poucas semanas no Rewind Festival na Inglaterra e estava bastante ativo em sua carreira. Além de ter completado a gravação do novo disco de estúdio da dupla, ele também estava envolvido no relançamento deluxe de “The Art Of Falling Apart“. O segundo trabalho da dupla voltará ao mercado nesta sexta-feira de Halloween (31) com muitos extras.
Marc Almond lamenta morte de Dave Ball
Marc Almond, o vocalista do Soft Cell, publicou um longo e emotivo, adeus ao seu parceiro no site oficial da dupla. Leia a íntegra:
“É difícil escrever isto, quanto mais processar, já que Dave estava em um momento emocional tão bom. Ele estava concentrado e tão feliz com o novo álbum, que literalmente terminamos há apenas alguns dias. É muito triste, pois 2026 estava totalmente preparado para ser um ano de grandes alegrias para ele. Eu encontro algum consolo no fato dele ter ouvido o disco finalizado e sentiu que era uma grande obra. A música de Dave está melhor do que nunca.
Suas melodias e ganchos continuam sendo inconfundivelmente Soft Cell, mas ele sempre levava tudo a outro nível. Ele era um gênio musical maravilhoso e brilhante, e nós dois seguimos juntos uma jornada por quase 50 anos. Nos primeiros tempos, éramos arrogantes e difíceis — dois estudantes de arte teimosos que queriam fazer as coisas do nosso jeito, mesmo que fosse do jeito errado.
Éramos ingênuos e cometíamos erros, embora nunca os víssemos realmente como tais. Era tudo apenas parte da aventura. Dave e eu sempre fomos um pouco como água e óleo, mas talvez por isso mesmo a química entre nós funcionasse tão bem.
Sempre que voltávamos a nos reunir depois de longos períodos separados, aquela mesma conexão e calor reapareciam. Havia um respeito mútuo profundo que dava ao nosso trabalho conjunto uma força única. Ríamos muito e compartilhávamos o mesmo senso de humor, além de um amor por cinema, livros e música. Dave tinha prateleiras cheias de livros e uma coleção maravilhosa e surpreendente de referências musicais. Ele era o coração e a alma do Soft Cell, e tenho muito orgulho do nosso legado.
De muitas maneiras, é apropriado que nosso próximo (e agora último) álbum juntos se chame Danceteria, já que esse tema nos leva de volta à Nova York do início dos anos 1980, onde muitas das nossas ideias musicais nasceram.
Foi um tempo e um lugar que realmente nos moldaram. Embora fôssemos essencialmente britânicos, sempre sentimos que também éramos uma banda americana honorária. Vivemos dentro dos mitos e histórias do Soft Cell, e Danceteria agora ficará como um álbum que fecha o ciclo para nós.
Só queria que Dave tivesse ficado por aqui tempo suficiente para celebrarmos juntos nossos 50 anos daqui a alguns anos. Ele sempre será amado pelos fãs do Soft Cell, que amam sua música — e sua música e memória continuarão vivas. Em qualquer momento, em algum lugar do mundo, alguém estará sentindo prazer ao ouvir uma canção do Soft Cell.
Obrigado, Dave, por ter sido uma parte imensa da minha vida e pela música que me deu. Eu não estaria onde estou sem você.”
Carreira equilibrou hits pop com experimentalismo

Em sua encarnação original, o Soft Cell, que tinha Ball como o responsável pela criação da parte instrumental das canções, lançou três álbuns. O mais importante e bem-sucedido deles foi “Non-Stop Erotic Cabaret“, a estreia de 1981.
O álbum estourou não só na Inglaterra, mas também nos EUA graças principalmente a “Tainted Love”, cover de um obscuro single gravado por Gloria Jones. A versão chegou ao topo da parada britânica e no top 10 norte-americano.
O sucesso popular levou ao mainstream uma dupla fora dos padrões, que demonstrava um interesse pelo lado mais obscuro e sujo da vida das grandes metrópoles. Ball e Almond conseguiam unir melodias pop e dançantes com temas nada convencionais – vide “Sex Dwarf”,(“Anão Sexual” em tradução livre), um dos destaques do LP.
Eles também tinham talento para criar melodias inesquecíveis, notadamente “Say Hello, Wave Goodbye”, uma balada que já naseu clássica (e tinha um refrão cuja letra seria reutilizada anos depois por Renato Russo na abertura de “Será”).
O Soft Cell chegou ao fim em 1984, após o lançamento do barra pesada “This Last Night in Sodom“. Ball, que lançou um disco solo em 1983, voltaria ao cenário pop com o surgimento da acid house no fim da década de 80.
Além de trabalhar com Genesis P. Orridge no projeto Jack The Tab ele também formou o The Grid com quem lançou uma série de discos, o último deles em 2021.
David Ball e Marc Almond voltaram a trabalhar juntos no ano 2000, quando saíram em turnê e fizeram o álbum “Cruelty Without Beauty“. O trabalho seguinte só sairia em 2022, ano de “Happiness Not Included“. Foi divulgando este álbum que o Soft Cell esteve pela primeira, e infelizmente única, vez no Brasil. Eles foram uam das atarções do C6 Fest do ano passado, em São Paulo.
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