Crítica | Documentário sobre o Devo relembra a banda que subverteu a música pop nos anos 70 e 80
Devo/Divulgação

Crítica | Documentário sobre o Devo relembra a banda que subverteu a música pop nos anos 70 e 80

Chamado simplesmente DEVO, filme pode ser visto na Netflix

Já disponível na Netflix, o documentário sobre o Devo, uma das grandes bandas da new wave, mostra a história do grupo que alcançou o sucesso de massas, mas também pagou um alto preço pelo seu pioneirismo e espírito inovador.

O filme de Chris Smith (“Fyre“), chamado simplesmente DEVO é ancorado, principalmente, nos depoimentos de Gerald Casale e Mark Mothersbough, que fundaram o futuro quinteto em 1973. Os dois criaram a banda/projeto de arte baseados na tese de que a humanidade começava a passar por um processo de involução (ou “devolution”). A certeza veio no fatídico 4 de maio de 1970 quando quatro estudantes da Universidade de Kent, que tinha Casale e Mothersbough entre seus alunos, foram mortos em um confronto com a polícia durante um protesto contra a guerra do Vietnã.

Imagens do primeiro show da banda, uma das preciosidades do longa, mostram que eles não tinham a menor intenção de agradar a quem quer que fosse – eles conseguiram expulsar praticamente toda a plateia do local.  

Punks antes da chegada do gênero

Aos poucos, o Devo foi encontrando o seu som. A chegada do punk lhes deu um movimento musical onde poderiam se encaixar, ainda que eles fossem por demais intelectualizados para realmente serem aceitos por fãs e bandas do novo estilo.

A sorte da banda começou a virar quando David Bowie os conhece e se torna um grande fã, prometendo produzir o disco de estreia dos americanos. O camaleão do rock acabou abrindo mão da tarefa, mas indicou o seu grande amigo e colaborador Brian Eno para assumir o trabalho. O resultado foi “Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!”, disco de 1978, tido como um clássico do rock moderno.

De estrelas a banidos da MTV

Desde o início, o Devo também mostrou interesse na interação de música com imagens. Foi um premiado curta-metragem que eles produziram que levou o nome do grupo para fora de seu estado natal. Anos antes da chegada da MTV o grupo pediu para a Warner, investir em um vídeo para a versão deles para “Satisfaction“, dos Rolling Stones.

Quando em 1981 a emissora musical entrou no ar, ela encontrou no quinteto um de seus primeiros baluartes – dada a falta de vídeos disponíveis, eles estavam sempre em alta rotação. O visual irônico e clipes deliciosamente subversivos eram, ao menos naqueel momento, tudo o que a “Music Television” buscava. A parceria chegou ao auge com “Whip It”, o grande hit da banda que os tornou famosos mundialmente.

A alegria foi passageira. Como o filme detalha, não demorou muito para as gravadoras verem todo o potencial da nova mídia e as coisas mudarem sensivelmente. Os vídeos passam a ser cada vez mais bem produzidos, e caros. Com isso, artistas que faziam clipes de baixo orçamento e pretensão artística, uma especialidade do Devo, foram sumindo da programação da emissora.

O filme de Smith também mostra um grupo que tentava ao máximo “subverter o sistema dentro dele”. As cenas do quinteto em programas de televisão de qualidade pra lá de duvidosa são um dos achados do documentário. Como não poderia deixar de ser, a mensagem da banda, cheia de crítica e uma fina ironia, acabou sendo mal interpretada ou incompreendida por grande parte do público.

DEVO, não avança muito na história dos americanos depois de 1984, quando eles são dispensados pela Warner. Smith mostra de maneira discreta, mas muito eficiente, que o legado do grupo só aumentou e como suas ideias acabaram se infiltrando na cultura pop.

O Devo no clipe de "Satisfaction"

Outro ponto positivo está no formato escolhido pelo diretor, onde apenas pessoas realmente importantes dentro desta história ganham voz – não esperem ver algum novo astro do rock dando depoimento sobre a genialidade do grupo ou coisas do tipo. O cineasta também não tem nenhum interesse que não seja a música ainda hoje inovadora da banda. A vida pessoal de seus integrantes, eventuais brigas ou problemas de foro íntimo não entram na receita do documentário.  

DEVO destrincha a carreira desta banda única em pouco mais de 90 minutos que certamente serão prolongados. Depois de vê-lo difícil não gastar mais algum tempo vendo os clipes do grupo ou ouvindo os seus discos.

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