Nascido em Ribeirão Preto, em São Paulo, cineasta Fernando Coimbra, de 48 anos, se tornou um dos nomes emergentes no cinema brasileiro por explorar em suas obras uma visão do Rio de Janeiro que foge aos estereótipos tradicionais.
Motivado a representar a vida cotidiana dos cariocas comuns, ele busca trazer um retrato fiel dessas regiões, distanciando-se das imagens clichês de cartões-postais e comunidades frequentemente retratadas no audiovisual.
Na estreia de “Os Enforcados”, na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, nós, do Conecta Geek, conversamos com o diretor que compartilhou conosco seu desejo de retratar as áreas menos exploradas da “Cidade Maravilhosa”, que segundo ele, surgiu de forma orgânica em seu primeiro filme, “O Lobo Atrás da Porta”, mas em seu novo longa, ele, mais uma vez, olha para o subúrbio antes de contar sua história.
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Conecta Geek: Seu nome chamou a atenção com o thriller O Lobo Atrás da Porta, apostando na força da história e retratando um Rio de Janeiro suburbano, pouco explorado no audiovisual, seja no cinema ou novelas. Como você faz para fugir do caminho fácil da glamourização da pobreza das comunidades ou do Rio dos cartões postais?
Bom, acho que essa fuga dos cartões postais do Rio e das comunidades, que é o que realmente são explorados como mais clichê no audiovisual, veio um pouco organicamente no primeiro filme [O Lobo Atrás da Porta], porque ele era inspirado num crime que aconteceu no subúrbio do Rio, na Zona Norte, e que, por conta disso, eu fui pesquisar, estudar ali a Zona Norte do Rio, e me interessei não só em contar a história, mas também em retratar esse universo da cidade que é pouco mostrado.
Então, isso já também era um interesse a mais que agregou ali. Mostrar de uma forma mais fiel possível; porque a gente até vê a Zona Norte, muitas vezes em novela, em coisas assim, mas de uma forma mais estereotipada, e eu queria retratar da forma mais fiel possível. Então, eu tentei retratar os bairros, de Oswaldo Cruz e Marechal Hermes, a diferença entre eles, mesmo que sutilmente, no filme você entenda o que é a vida do carioca comum, trabalhador, enfim, que não está envolvido nem com crime e nem está ali nos cartões postais, e que é a maior parte do Rio de Janeiro. É onde se concentra a maior parte da população do Rio. Então, essa já é meio que a motivação quando eu vou fazer os filmes. Eu meio que nem tenho que fugir disso, porque eu, na motivação, já estou fugindo.
Após dirigir projetos internacionais, como o filme Filme “Castelo de Areia” e as séries “Narcos” e “Outcast“ — além de ter trabalhado com atores como Nicholas Hoult e Henry Cavill —, essa nova produção não é apenas um filme brasileiro, mas o retorno de Coimbra em seu comando criativo, escrevendo e dirigindo Os Enforcados.
Conecta Geek: Você trilhou o caminho que alguns diretores brasileiros fizeram após a virada do século. Quando, após um sucesso nacional, comandou uma obra nos Estados Unidos. Existe uma curiosidade normal sobre essa experiência, mas a minha é: como foi fazer um filme brasileiro, sobretudo carioca, após essa experiência?
É essa volta, filmar no Brasil, filmar no Rio. Na verdade, eu vim gestando esse projeto [Os Enforcados] desde que eu estava terminando O Lobo Atrás da Porta. Então, o tempo todo que eu fiquei filmando fora do Brasil, eu estava desenvolvendo meu novo filme autoral. Estava desenvolvendo o roteiro, fazendo cada ano um novo tratamento e tal. Eu estava conectado nisso o tempo todo, e sabendo que eu faria esse filme em breve, acabou levando mais tempo do que eu planejava, mas eu sabia que era o meu próximo filme brasileiro, vamos dizer assim.
Quando eu voltei [ao Brasil], acho que o que foi mais significativo em filmar aqui era poder voltar a trabalhar na minha língua, poder voltar a trabalhar na realidade brasileira, que é muito mais familiar que a realidade de qualquer outro país.
Os Enforcados foi um projeto que eu vim estudando, pesquisando e trabalhando durante muito tempo. Estava muito imbuído desse universo todo, imbuído dessa história, desses personagens e tudo. Então, de certa forma, foi poder voltar a trabalhar num projeto mais autoral, que eu mesmo escrevi, que eu mesmo criei. Essa era a maior diferença dos projetos que eu fiz fora, porque esses não eram autorais, com roteiros de outras pessoas, projetos que surgiram na mão de outras pessoas e que eu fui ali dar a minha contribuição. E aí, voltar para o Rio, depois do O Lobo [Atrás da Porta], sempre um lugar muito familiar. Apesar de eu não morar no Rio, mas esse é um lugar cinematograficamente familiar para mim.
Conecta Geek: Abordei bastante o Rio de Janeiro, mas sobre o futuro, você planeja criar novas narrativas em um novo endereço?
Sim, eu não tenho projetos só no Rio de Janeiro. Também acho que, provavelmente, devo voltar a filmar no Rio de Janeiro, porque sempre acaba voltando [risos], e eu tenho uma outra ideia aqui para fazer um filme no Rio, mas nos próximos projetos eu estou focado mais em outros lugares. Tem projeto que se passa na Amazônia, tem projeto que se passa no Sul do Brasil, tem projeto mais para o ‘interiorzão’ do Brasil. Então, estou aí, gestando alguns projetos que não são no Rio de Janeiro. Mas eu moro em São Paulo e, por incrível que pareça, não tenho nenhum projeto para ser filmado na cidade de São Paulo.
Confira outros textos da nossa cobertura na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo:
- 48ª Mostra | The Surfer, Oeste Outra Vez
- Crítica | Os Enforcados é uma tragédia de erros no subúrbio carioca
- 48ª Mostra | Tudo Que Imaginamos Como Luz, O Banho do Diabo
- Crítica | Ainda Estou Aqui: a força de uma mãe e a luta pela memória
- 48ª Mostra | No Céu da Pátria Nesse Instante, Maria Callas
- 48ª Mostra | Harvest, Dahomey, Salão de Baile
- 48ª Mostra | Sujo; Não Chore, Borboleta
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