A indústria do entretenimento em Hollywood tem atravessado um período turbulento, com desafios que vão desde greves e crises econômicas até desastres naturais devastadores. Em janeiro de 2023, Mark Linsey, executivo da BBC Studios, viveu uma semana de contrastes extremos, passando de um momento de celebração no Globo de Ouro para uma devastadora crise com os incêndios florestais que assolaram Los Angeles.
Esses eventos, que causaram destruição massiva e perda de vidas, também tiveram um impacto profundo na indústria de TV global, forçando produtores e executivos a refletirem sobre as mudanças e adaptações necessárias em um cenário já marcado por outras turbulências.
O contraste entre o início do ano, com prêmios e sucessos, e a crise gerada pelos incêndios de janeiro, que forçou milhares de pessoas a evacuar suas casas, trouxe à tona uma série de desafios para a indústria. Executivos como Linsey e outros nomes de peso, como David George da ITV e Phil Gurin do Shark Tank, compartilharam suas experiências em uma matéria especial do Deadline, apontando não apenas o impacto físico dos incêndios, mas também a introspecção gerada pela destruição. Linsey, que estava ainda se adaptando ao estilo de vida em Los Angeles, descreveu a sensação de impotência diante do desastre, uma espécie de “devastação absoluta” após o otimismo gerado pelos prêmios conquistados pela BBC Studios.
Produções afetadas
Os incêndios em Los Angeles neste início de ano afetaram várias produções de séries e programas de TV. A NBCUniversal suspendeu as gravações de “Hacks”, “Loot”, “Ted”, “Suits: L.A.” e “Happy’s Place”. Nenhum filme da empresa foi impactado, já que todos os longas-metragens estavam sendo filmados fora de Los Angeles. A Amazon adiou o reinício das filmagens da 2ª temporada de “Fallout”, que ocorria na área de Santa Clarita.
Já a CBS Studios interrompeu as produções de “NCIS”, “NCIS: Origins”, “After Midnight”, “Poppa’s House” e “The Neighborhood’, além das gravações de “After Midnight”, pelo restante da semana. Por fim, a Disney teve suas produções de “Doctor Odyssey”, ‘Grey’s Anatomy” e o programa “Jimmy Kimmel Live!” afetadas pelos incêndios.
A realidade pós-desastre
Os incêndios florestais de Los Angeles não foram apenas um desastre natural, mas um divisor de águas para muitos na indústria. A busca por recuperação foi imediata, mas o impacto foi sentido de várias maneiras. Enquanto muitos executivos continuavam suas rotinas profissionais, a destruição das casas e empresas locais gerou uma nova perspectiva sobre a fragilidade do ambiente de trabalho, principalmente para aqueles diretamente afetados. Phil Gurin, por exemplo, destacou a sensação de perda profunda ao ver amigos perderem tudo em questão de horas, e como isso coloca em perspectiva questões triviais, como as disputas de mercado e produção de TV.
A resposta da comunidade internacional foi igualmente notável, com mensagens de apoio e solidariedade surgindo de todas as partes do mundo. No entanto, apesar do apoio, o impacto foi direto no funcionamento da indústria. Muitos executivos foram forçados a evacuar, e a produção de conteúdo foi temporariamente interrompida.
A ITN Productions, por exemplo, teve que adaptar-se rapidamente à situação, criando um documentário sobre os incêndios com um tempo de produção recorde, enfrentando não apenas as dificuldades logísticas, mas também a necessidade de compreender a dor e o trauma dos envolvidos. O documentário foi mais do que uma mera cobertura de um desastre, foi uma tentativa de mostrar a humanidade por trás das perdas e dificuldades enfrentadas pela comunidade de Los Angeles.
O futuro de Los Angeles
O futuro de Los Angeles como centro da indústria de entretenimento foi colocado em xeque, especialmente considerando o impacto das catástrofes naturais e uma crise imobiliária em expansão. David George, da ITV, refletiu sobre a possibilidade de um êxodo de executivos para outras cidades, como Austin ou Atlanta, em busca de um ambiente mais seguro e menos propenso a desastres.
No entanto, o desejo de manter a produção em Los Angeles é forte, com campanhas como a Stay in LA, que buscam reunir forças para preservar a cidade como um polo criativo. Executivos como Gurin também estão à procura de soluções, discutindo formas de melhorar os incentivos fiscais para a produção local, para garantir que Hollywood permaneça competitiva frente a mercados internacionais em expansão.
Em meio a esses desafios, a indústria de TV global continua se adaptando às mudanças, com novas abordagens para coproduções e um foco maior em soluções criativas que permitam a continuidade do trabalho, mesmo em tempos de crise. Mark Linsey reflete sobre a necessidade de adaptação, lembrando-se dos momentos difíceis vividos durante a pandemia de Covid-19.
A indústria, que foi forçada a inovar durante a pandemia, se vê novamente diante de restrições que exigem criatividade e resiliência. A transformação da TV e do mercado global de entretenimento está em andamento, e os próximos anos podem ser decisivos para a sobrevivência e o renascimento de Hollywood, que, embora abalado, continua sendo um símbolo de resiliência e inovação no setor.
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