Dorama
Foto: reprodução/Netflix

K-drama x Dorama: Qual a diferença e por que isso importa?

Chamar todo drama asiático de "dorama" pode parecer inofensivo, mas toca em feridas históricas; entenda!

As séries asiáticas estão dominando o mundo. O que antes era um nicho restrito a fãs dedicados, hoje virou mainstream, com produções lotando catálogos de streaming e conquistando públicos de todas as idades. Mas tem um erro que muita gente comete: chamar qualquer drama asiático de “dorama“. Se você faz isso, pode ter certeza que algum fã de K-drama já revirou os olhos do outro lado da tela.

A confusão é compreensível. Durante anos, a palavra “dorama” foi usada no ocidente como um termo genérico para se referir a séries asiáticas. Mas, na verdade, dorama é um termo exclusivamente japonês, enquanto os dramas coreanos são chamados de K-dramas. Para entender essa diferença, vamos mergulhar na história e nos formatos dessas produções.

O que é “Dorama”?

“Dorama” é como os japoneses chamam suas séries de TV. A palavra vem da pronúncia japonesa de “drama” e abrange produções de diversos gêneros, mas principalmente romance, suspense e histórias familiares. As séries japonesas têm, em média, de 10 a 12 episódios, cada um com cerca de 45 minutos.

Produções icônicas incluem “Meninos Antes de Flores” (“Hana Yori Dango”, 2005), que inspirou adaptações em outros países, “Fugir é Vergonhoso, mas é Útil” (“Nigeru wa Haji da ga Yaku ni Tatsu”, 2016), um romance adorável sobre um casamento por contrato, e “Caderno da Morte” (“Death Note”, 2006), uma versão live-action do famoso mangá.

Os doramas costumam ter uma pegada mais contida e realista. Enquanto os K-dramas investem no glamour e na cinematografia exuberante, os japoneses preferem uma abordagem mais discreta e intimista.

O que é “K-drama”?

“K-dramas” são as séries sul-coreanas, que seguem um formato semelhante ao dos doramas, mas com algumas diferenças notáveis. A maioria das produções tem entre 16 e 20 episódios, cada um com cerca de uma hora.

A Coreia do Sul investiu pesadamente em sua indústria do entretenimento, e os K-dramas se tornaram um dos principais produtos da chamada “Hallyu” (Onda Coreana). Séries como “Descendentes do Sol” (“Descendants of the Sun”, 2016), “Pousando no Amor” (“Crash Landing on You”, 2019) e “Uma Advogada Extraordinária” (“Extraordinary Attorney Woo”, 2022) conquistaram audiências globais.

Os K-dramas são conhecidos por sua alta qualidade de produção, roteiros envolventes e trilhas sonoras marcantes. A cinematografia é impecável, com cenários deslumbrantes e um capricho especial na direção de arte.

C-dramas e Lakorns: Outras vertentes do drama asiático

Os dramas chineses, ou C-dramas, têm ganhado popularidade nos últimos anos. Diferente dos K-dramas e doramas, eles costumam ter mais episódios (entre 30 e 60), e muitos são baseados em romances históricos. Exemplos populares incluem “Eternal Love” (2017) e “The Untamed” (2019).

Já os lakorns são os dramas tailandeses, que têm se destacado principalmente no gênero boys’ love (BL), com séries como “TharnType” (2019) e “KinnPorsche” (2022). Diferente dos dramas coreanos, os lakorns costumam ter atuações mais exageradas e um tom um pouco mais novelão.

A tensão histórica entre Coreia do Sul e Japão

Muita gente pensa que a questão entre chamar K-dramas de doramas é apenas um detalhe linguístico, mas a realidade é bem mais complexa. A relação entre Coreia do Sul e Japão é marcada por um histórico de ocupação e repressão cultural.

Entre 1910 e 1945, a Coreia foi ocupada pelo Japão, que tentou erradicar a cultura e a identidade coreana. O idioma coreano foi banido das escolas, e os coreanos foram forçados a adotar nomes japoneses. Até hoje, esse período gera ressentimentos, e muitos coreanos consideram ofensivo que sua cultura seja misturada com a japonesa.

O uso de “dorama” para se referir aos K-dramas pode parecer inofensivo para nós, mas para um coreano, pode ser um lembrete do apagamento cultural que sofreram no passado.

Como identificar cada tipo de drama asiático?

Se você ainda tem dúvidas sobre como diferenciar cada produção, aqui vai um guia rápido:

  • Dorama: Produção japonesa, geralmente mais curta, com atuações contidas e foco em histórias realistas.
  • K-drama: Produção sul-coreana, com alto valor de produção, cinematografia impecável e uma dose extra de emoção.
  • C-drama: Produções chinesas, frequentemente com enredos mais longos e visuais impressionantes.
  • Lakorn: Produções tailandesas, muitas vezes com tramas exageradas e forte presença do gênero BL.

Como incluir “K-drama” no vocabulário e ensinar sem ser chato?

Muita gente já se acostumou a chamar qualquer série asiática de “dorama”, mas agora que sabemos a diferença, como podemos espalhar essa informação sem parecer chatos? A melhor forma é naturalizar o uso do termo certo no dia a dia. Se alguém disser “esse dorama coreano é incrível!”, você pode simplesmente responder algo como: “Sim, esse K-drama é mesmo muito bom!” Dessa forma, a pessoa percebe a diferença sem sentir que está sendo corrigida de maneira forçada. Outra opção é trazer o assunto em conversas casuais, falando sobre como as produções asiáticas têm identidades próprias e como é legal reconhecer isso.

Também vale lembrar que não é só uma questão de nomenclatura, mas de respeito cultural. Chamar tudo de “dorama” pode parecer um detalhe pequeno para quem está de fora, mas para coreanos, chineses, japoneses e tailandeses, que carregam histórias e culturas bem diferentes, faz toda a diferença. É como se alguém chamasse uma novela brasileira de “drama mexicano” só porque ambos falam português e espanhol e têm histórias parecidas. A gente sabe que não é a mesma coisa, né? Então, nada mais justo do que aplicar esse mesmo cuidado com as produções asiáticas.

Além disso, conhecer as diferenças entre os K-dramas, doramas, C-dramas e lakorns torna a experiência de assistir a essas séries ainda mais interessante. Cada país tem um jeito único de contar histórias, abordando temas e formatos próprios. Os K-dramas, por exemplo, são famosos pelo romance bem construído e pela qualidade cinematográfica. Já os doramas japoneses costumam ser mais contidos emocionalmente, mas têm um toque mais experimental e criativo. Os C-dramas adoram visuais grandiosos e tramas cheias de reviravoltas, enquanto os lakorns tailandeses apostam bastante no melodrama e nos romances exagerados.

No fim, lembrar que “asiático” não é uma identidade única e homogênea, mas um continente inteiro com culturas diferentes, é essencial para consumir entretenimento de forma mais consciente e respeitosa. Assim como não gostaríamos que misturassem Brasil, Argentina e México como se fosse tudo a mesma coisa, os asiáticos também querem que suas produções sejam reconhecidas pelo que são. Usar os termos corretos é um gesto simples, mas que mostra consideração por essas diferenças e pelo trabalho incrível de cada país na indústria do entretenimento.

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Jornalista e formada em Cinema, apaixonada por cultura asiática e por contar histórias. Provavelmente já assisti tanto aos filmes do Adam Sandler que poderia atuar em qaulquer um sem precisar de roteiro.