Lollapalooza 2025 | Alanis Morissette: a anti-heroína dos anos 90 que ainda nos dá lições
Alanis Morissette/Arquivo

Lollapalooza 2025 | Alanis Morissette: a anti-heroína dos anos 90 que ainda nos dá lições

Era 1995. Enquanto o mundo ainda se recuperava do baque da morte de Kurt Cobain e do declínio do grunge como movimento dominante, uma canadense de 21 anos surgia como um furacão para revolucionar o pop-rock. Alanis Morissette não era apenas mais uma voz feminina no cenário musical — ela era um terremoto cultural, a personificação da raiva, da vulnerabilidade e da autenticidade que faltavam na indústria. Trinta anos depois, com “Jagged Little Pill” celebrando seu aniversário de três décadas, Alanis se prepara para comandar o palco do Lollapalooza 2025 neste sábado (29). Mas quem é essa mulher que, nos anos 90, desafiou rótulos, enfrentou a fama e se tornou um ícone atemporal?

De popteen a rainha do rock

Antes de ser a estrela do rock alternativo, Alanis já era uma veterana na música. Aos 10 anos, ela começou a estudar piano; aos 12, já compunha. Aos 16, lançou “Alanis”, um álbum de pop adolescente que a transformou em uma pequena celebridade no Canadá. Dois anos depois, veio “Now Is the Time”, mas algo não encaixava. Aos 21, cansada do controle criativo das gravadoras e da imagem de “princesinha do pop”, ela fugiu para Los Angeles e encontrou Glen Ballard, produtor que a ajudou a desenterrar a artista crua e visceral que sempre quis ser.

O resultado foi Jagged Little Pill, um disco que misturava guitarras distorcidas, letras ácidas e uma honestidade brutal. “You Oughta Know”, o primeiro single, era um soco no estômago — uma carta de ódio pós-termo com participações de Flea (Red Hot Chili Peppers) e Dave Navarro (Jane’s Addiction). A música era tão intensa que muitos ouvintes se perguntavam: “Quem foi o infeliz que inspirou isso?” Alanis nunca confirmou, mas rumores apontam para o ator Dave Coulier (o Tio Joey de “Três é Demais”).

O álbum que mudou tudo

O disco vendeu mais de 33 milhões de cópias, tornando-se um dos mais vendidos da história. Foi um sucesso instantâneo, mas também um divisor de águas: Alanis não era apenas uma cantora, era a voz de uma geração de mulheres que não se encaixavam nos moldes da época.

Em 1996, ela venceu cinco Grammys, incluindo Álbum do Ano, tornando-se a artista mais jovem a conquistar o prêmio (até Taylor Swift quebrar o recorde em 2010). Já Jagged Little Pill foi além da música. Virou um musical da Broadway (indicado a 15 Tonys) e um manifesto feminista antes do termo ser popularizado. E “Ironic”, música mais famosa do álbum é justamente a que Alanis menos gosta. “Não tem ironias de verdade”, admitiu, rindo. “É irônico que as pessoas ainda me perguntem sobre isso”, completou.

Fama, trauma e a luta contra o sistema

O sucesso veio com um preço. Alanis, que sempre foi introspectiva, se viu sufocada pela fama repentina. Em entrevistas, ela revelou que desenvolveu estresse pós-traumático, anorexia e depressão. “Eu costumava ser alguém que observa as pessoas, eu ainda sou. Eu amo ficar vendo a humanidade pelo planeta inteiro. Gosto de me sentar em um banco no parque, sabe? E aí, de repente, veio a fama e todo mundo virou os olhos para mim”, contou ao g1.

A indústria também não sabia como lidar com ela. Em turnês, os produtores a tratavam como uma anomalia: “Era sempre ‘bandas de homens e Alanis Morissette'”, relembrou. Nos bastidores, o machismo era escancarado. “Ou queriam dormir comigo, ou me tratavam como uma irmã. Não sabiam como me encarar”.

O que esperar do show no Lolla?

Lollapalooza 2025 | Alanis Morissette: a anti-heroína dos anos 90 que ainda nos dá lições
Reprodução/Instagram Alanis Morissette/Dennys Ilic.

Alanis não é mais a garota raivosa dos anos 90, mas sua música ainda ecoa com a mesma força. No Lollapalooza, o público pode esperar:

  • Setlist Nostálgico: Todas as faixas de Jagged Little Pill, incluindo raridades como “Perfect” e “Mary Jane”.
  • Performance Energética: Ela ainda corre pelo palco como nos anos 90, embora hoje prefira interações mais contidas.
  • Homenagens: Taylor Hawkins, seu ex-baterista (e futuro Foo Fighter), morto em 2022, deve ser lembrado.

Por que Alanis ainda importa?

Ela não foi apenas uma estrela dos anos 90 — foi uma pioneira. Antes de Billie Eilish e Olivia Rodrigo explorarem a raiva feminina no pop, Alanis já fazia isso com crueza. Seu legado não está só nas vendas ou prêmios, mas na coragem de ser imperfeita, intensa e, acima de tudo, humana.

Três décadas depois, Jagged Little Pill ainda dói — e é exatamente por isso que continua relevante. Como ela mesma cantou: “You live, you learn.” E Alanis, definitivamente, viveu e ensinou.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.