Na segunda-feira (18), Mortal Kombat, a adaptação cinematográfica do famoso jogo de luta homônimo, completou três décadas de existência. E, embora o tempo tenha sido implacável com alguns de seus efeitos especiais e diálogos, o filme dirigido por Paul W.S. Anderson permanece como um marco peculiar – nem sempre pela qualidade, mas pelo legado de diversão despretensiosa que carrega. Longe de ser uma obra-prima, o longa se sustenta justamente por abraçar seu tom exagerado, transformando limitações em virtudes e criando um produto que, ainda hoje, cativa fãs do jogo e apreciadores de cinema B.
Quando lançado em 1995, Mortal Kombat chegou às telas em um momento em que adaptações de games ainda eram vistas com desconfiança pela crítica. A maioria das tentativas anteriores havia falhado em capturar a essência dos jogos, seja por roteiros fracos, seja por falta de identidade visual. Anderson, no entanto, optou por uma abordagem diferente: em vez de tentar reinventar, ele mergulhou de cabeça no universo fantasioso e violento do jogo, mantendo uma estética que lembrava os pixels da época, mas sem se prender excessivamente aos detalhes da lore. O resultado foi um filme que, mesmo com suas falhas, conseguiu algo raro: ser fiel em espírito, se não em execução.

Um dos grandes trunfos do longa está em seu design de produção. Com um orçamento modesto (cerca de US$ 18 milhões), a equipe conseguiu criar cenários que mesclam o exótico e o gótico, como os salões repletos de velas e o emblemático dragão estampado no chão do combate final. Esses elementos não apenas remetiam aos cenários do jogo, mas também davam ao filme uma atmosfera única, quase teatral. A fotografia, por sua vez, oscila entre o sombrio e o vibrante, com planos que imitam os ângulos estáticos das lutas no arcade – uma escolha que, embora possa parecer simplória, reforça a conexão com a fonte original.

Os efeitos especiais, é claro, envelheceram de forma desigual. Enquanto o prático – como o icônico Goro, criado com próteses e animatrônicos – ainda impressiona pela criatividade, o digital (especialmente o Réptil em CGI) é visivelmente datado. No entanto, há um charme nessa disparidade. Se hoje as falhas saltam aos olhos, na época, elas eram parte do pacote de um filme que não se levava demasiadamente a sério. E, de certa forma, essa falta de polimento contribui para o tom camp que o tornou cultuado.
A direção de Anderson, embora longe de ser refinada, acerta ao priorizar o ritmo acelerado. Depois de uma introdução que apresenta os protagonistas — Liu Kang (Robin Shou), Johnny Cage (Linden Ashby) e Sonya Blade (Bridgette Wilson) —, o filme mergulha em uma sequência quase ininterrupta de lutas, cada uma tentando replicar a dinâmica do jogo. Algumas funcionam melhor que outras: o embate entre Scorpion e Johnny Cage é repleto de movimentos coreografados, enquanto a batalha de Liu Kang contra o Réptil se destaca pelo uso criativo do ambiente. Já Goro, apesar de ser um feito técnico impressionante, peca por lutas lentas e coreografias pouco inspiradas.
O elenco, por outro lado, é onde Mortal Kombat brilha de forma inesperada. Longe de serem atores premiados, os intérpretes entendem a proposta e entregam performances carregadas de exagero – o que, no contexto, é perfeito. Linden Ashby rouba a cena como Johnny Cage, misturando arrogância e comicidade com um timing ótimo. Cary-Hiroyuki Tagawa, como Shang Tsung, é puro veneno em forma de vilão, com sorrisos sarcásticos e falas que soam como ameaças rimadas. E Christopher Lambert, mesmo com seu sotaque questionável e cabelo branco inexplicável, consegue ser hilário como Raiden, especialmente quando tenta (e falha) em fazer piadas.
A trilha sonora, composta por George S. Clinton, é outro ponto alto. A famosa música-tema, Techno Syndrome, tornou-se um hino não apenas do filme, mas da cultura pop dos anos 90 – e para as academias!. Sua batida eletrônica e os samples de frases do jogo (“Flawless Victory!”) criam uma identidade sonora que, até hoje, é sinônimo de adrenalina. Clinton soube equilibrar o eletrônico com o orquestral, dando peso épico a cenas que, de outra forma, poderiam parecer apenas ridículas.
Trinta anos depois, Mortal Kombat permanece como uma relíquia de uma era em que o cinema ainda estava aprendendo a adaptar games. Seu roteiro é básico, seus efeitos são inconsistentes, e algumas lutas decepcionam. Mas é justamente essa imperfeição que o torna tão cativante. O filme não tenta ser mais do que é: uma celebração barulhenta, colorida e cheia de energia de um jogo que marcou gerações, mas que, assim como o longa, é, até hoje, marcado pelo seu exagero.
Para os fãs, revisitar o longa hoje é como abrir uma cápsula do tempo – um convite para rir dos momentos cafonas, torcer pelas lutas favoritas e, acima de tudo, lembrar de uma época em que um simples “Get over here!” era suficiente para arrancar gritos de empolgação. Mortal Kombat pode não ser um grande filme, mas é, sem dúvida, uma experiência que ainda sabe divertir. E, no fim das contas, era isso que importava.
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