O Exorcista: 50 anos do filme mais assustador de todos os tempos
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O Exorcista: 50 anos do filme mais assustador de todos os tempos

Era o ano de 1973 quando O Exorcista foi lançado. Desde então, o cinema de terror mudou para sempre, afinal o público acabara de assistir ao filme mais assustador de todos os tempos. O boca a boca aumentou seu sucesso e os mistérios que envolviam a filmagem acabaram dando à obra o rótulo de “amaldiçoada”. E nesta Sexta-feira 13, vamos falar sobre o legado que ultrapassou as barreiras de gênero, tempo, razão e fé.

O legado de O Exorcista

Primeiramente, a história por trás de O Exorcista pode parecer simples até no Halloween. Afinal, é um caso clássico de uma jovem garota, Regan MacNeil, interpretada por Linda Blair, que acaba sendo possuída por uma entidade demoníaca mesopotâmica chamada Pazuzu. No entanto, O Exorcista não é tão simples quanto parece. Pois o ritual católico de expulsar espíritos impuros na verdade não é a essência do longa. Temos a todo o momento, uma primeira estrutura que busca uma explicação mais terrena e científica sobre o comportamento anormal da jovem Reagan.

A possessão não é colocada in casu logo de cara, mas sim uma série de procedimentos médicos é realizado uma vez o comportamento cada vez mais errôneo. A mãe da jovem Regan, Chris MacNeil (Ellen Burstyn) também partilha do mesmo princípio. Problemas como esquizofrenia e paranoia permeiam a primeira parte de O Exorcista criando essa dualidade entre fé e religião.

Essa dualidade é copiada com ótimos parâmetros em O Exorcismo de Emily Rose, por exemplo. Que por sinal, é um dos poucos longas que conseguem trazer a aura de possessão de O Exorcista mesmo não sendo deste universo. No entanto, ao invés de um tribunal que está julgando a conduta da família e de um padre em um longo ritual de exorcismo, O Exorcista também tem uma dualidade na forma do Padre Damien Karras (Jason Miller). O filme na verdade é sobre ele e sua relação com a fé.

Karras é um psiquiatra jesuíta que, durante o filme está em uma crise ferrenha de fé. Tanto é que em um primeiro momento, antes do contato com Reagan, ele não acreditava em possessão. Sua vinculação com a religião paradoxalmente não era uma das melhores.

No frigir dos ovos, Karras era um padre relativamente cético, tal como Gabrielle Amorth na maioria de seus casos, o Exorcista Chefe do Vaticano e personagem a inspirar o recente O Exorcista do Papa, com Russel Crowe. No entanto, com o andamento da história de O Exorcista, a situação muda drasticamente. Depois do primeiro contato, em que se confirma a possessão, uma vez que a criatura passa a conhecer os maiores medos de Damien Karras.

Sua escolha final, em se sacrificar, acreditando tanto no bem quanto no mal para livrar a jovem da influência maligna. É o clássico do herói trágico grego, concluindo assim a sua missão, mesmo que não tenha um final feliz. E esquecendo completamente as sequências. Dito isso, O Exorcista não é tão simples quanto aparenta. Sua história não se vincula apenas à luta entre o bem o mal, ou sustos gratuitos.

O Exorcista, não O Exorcismo

Poucos longas do cinema possui uma mise en scèné tão poderosa quanto o clássico de William Friedkin, no entanto, esse debate acima citado, da relação conturbada entre o padre e sua própria fé, é o cerne do longa, algo que está no próprio título da obra. O horror visual de Pazuzu no corpo de Regan é impactante, cinematograficamente marcante, mas narrativamente, um plano de fundo para a história. Essa confusão entre o Exorcismo e a O Exorcista é o que torna a maioria dos filmes de possessões – incluindo as continuações dessa franquia – tão pobres.

Essa construção que consegue evoluir os personagens, trazendo seus próprios problemas internos é intrigante e faz com que O Exorcista não seja simplesmente um filme de terror de possessão. Ele é “o” filme de terror de possessão por construir essa narrativa que, no fim das contas, o ritual do Exorcismo é somente a cartada final na evolução do Padre Karras.

Claro que temos uma mitologia envolta, seja com o uso de Tabuleiro Ouija – ferramenta que frequentemente é usada em outros filmes de terror – assim como a introdução do padre e arqueólogo Lancaster Merryn (Max von Sydow), que desenterra no Iraque alguns ídolos de um demônio antigo, Pazuzu. Junte tudo isso com o excelente trabalho dos efeitos práticos produzidos pela maquiagem e a equipe de efeitos de O Exorcista, e temos algumas cenas que foram arrebatadoras para a época. E que até hoje, com as devidas proporções são copiadas.

Um inferno de gravação

O set de filmagem de O Exorcista foi transformado por Friedkin em uma sucursal do inferno para equipe e atores, que conviviam com demissões sumárias, agressões físicas e verbais e o perfeccionismo maniático do diretor – ele fazia até tomadas prosaicas, com o simples fritar de um fatia de bacon na frigideira, serem exaustivamente repetidas. O orçamento, lógico, estourou, indo a US$ 12 milhões, três vezes mais do que Friedkin tinha acordado com o estúdio.

Para além do inferno que era ser comandado por um diretor perfeccionista, alguns casos, no mínimo, curiosos acabaram tornando a experiência com um ar de “amaldiçoada”, algo que virou um marketing ótimo para o fime mais assustador já feito até então.

As mortes inexplicáveis de membros da produção, assim como equipamentos que não funcionaram direito e feriram os atores de verdade, ou de incêndios que custaram algumas semanas na produção do longa. Toda essa construção, e imaginando que não existia internet em 1973, fez de O Exorcista se transformar em um fenômeno midiático em sua aparição nos cinemas.

O vídeo abaixo mostra o pânico e medo das pessoas ao ver o filme. As filas na data do lançamento eram enormes. Algumas dessa cenas vocês podem conferir:

https://www.youtube.com/watch?v=AkIqFK3KoZ4&t=139s

Passados meio século de seu lançamento, O Exorcista ainda é a maior referência de qualquer filme que mencione possessão demoníaca. Seja pela construção de seus personagens, pela sua narrativa e pelos efeitos práticos. Foi possível exprimir o mal de uma forma que até então não foi vista.

Profano para muitas pessoas, e uma obra prima do cinema de terror para outras, no clássico de Friedkin encontramos uma crítica que nos remete a um obscuro segundo plano. É realmente difícil fazer um bom filme de terror; os espectadores querem sentir medo, mas não é tão fácil provocá-lo. É por isso que O Exorcista sempre terá um lugar privilegiado dentro do gênero, pois se trata de um filme que, pelo menos em sua época, conseguiu tudo o que desejava.

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.