Cena do filme "De volta para o Futuro"

Por que não conseguimos resistir a uma boa história de viagem no tempo?

Desde o início dos tempos, o ser humano observa o passar das horas com um misto de fascínio e inquietude. O tempo escapa, muda tudo, leva o que amamos e transforma o que somos. Talvez por isso exista um desejo quase instintivo de controlá-lo para voltar, avançar, corrigir ou reviver o que se perdeu.

Portais secretos, buracos de minhoca, círculos mágicos, enfim, quando uma história brinca com essa ideia, algo dentro de nós desperta. É como se, por alguns minutos, pudéssemos atravessar a linha do tempo junto com o personagem e tocar o impossível.

O apelo emocional e filosofia por trás do relógio

Histórias sobre viagem no tempo tocam em feridas e esperanças universais. Elas falam sobre segundas chances, saudades e o medo de deixar o tempo escapar. Na série Outlander, por exemplo, o amor ultrapassa séculos, mostrando que o tempo pode separar corpos, mas não sentimentos. Essas tramas nos prendem porque revelam a vontade de mudar o passado e, ao mesmo tempo, a dificuldade de aceitá-lo.

Claire e Jamie, personagens da série Outlander
Jamie (Sam Heughan) e Claire (Caitriona Balfe) em Outlander (Reprodução)

Além da emoção, existe o mistério de tentar entender o impossível. Essas histórias desafiam a lógica, a física e a própria ideia de realidade. Em Dark, o tempo não é uma linha, mas um ciclo infinito onde passado, presente e futuro coexistem. Na pridução alemã, cada personagem se torna prisioneiro das próprias escolhas, mostrando que, mesmo quando acreditamos estar mudando o destino, podemos estar apenas fazendo com que ele se repita. Essa profundidade filosófica faz do seriado lançado em 2017 uma das narrativas mais complexas e simbólicas sobre o tempo já criadas.

Triqueta da série Dark
Cena de ‘Dark’ os três anos principais nos quais a história se passa Foto: Divulgação

Versatilidade

Outra razão para o sucesso da viagem no tempo está na sua flexibilidade. O tema se adapta ao drama, romance, ficção científica ou comédia. Em “De Volta para o Futuro”, trilogia clássica de Robert Zemeckis, o humor e a criatividade transformam física teórica em pura diversão.

Já em filmes mais densos, como “O Predestinado”, o mesmo conceito vira filosofia e tragédia. Essa versatilidade faz com que o tema continue atual, geração após geração.

No fim, histórias de viagem no tempo não se limitam à física. Elas ultrapassam equações e paradoxos para falar sobre nós. Mostram o quanto o passado permanece dentro da gente, e o quanto o presente escapa enquanto tentamos entendê-lo.

O tempo, com sua calma e crueldade, não vem para nos derrotar, mas para lembrar que viver é o único modo de não se perder nele e talvez seja justamente por isso que a viagem no tempo continua a nos fascinar.

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Acredito que séries, filmes e rock são mais do que entretenimento, eles dizem muito sobre quem somos. Redatora, crítica e teorizadora, escrevo para provocar reflexão, compartilhar paixões e explorar o impacto da cultura pop na vida real.