Deathbound é o novo soulslike brasileiro da desenvolvedora Trialforge Studio distribuído pela Tate Multimedia. Essa preview foi feita com base em uma versão pré-lançamento, jogada na Steam e não terá spoilers explícitos da narrativa. Sinceros agradecimentos aos criadores pelo código e pela confiança.
O jogo é uma nova proposta de soulslike, subgênero de jogos de ação e aventura que se inspiram na franquia “Souls” da aclamadíssima desenvolvedora japonesa FromSoftware. Dessa forma, o jogo tem foco em combates a curta distância difíceis, que exigem tempos precisos tanto para atacar como defender.
Além do combate, o jogo tem uma narrativa linear, que progride a medida que o jogador avança no mundo. Existem alguns chefes e é preciso explorar bastante para achar certos itens, tanto opcionais quanto obrigatórios.
Cavaleiros, ladinos e metrópoles?
Mundo
Deathbound se passa em um mundo pseudo-medieval, pois, embora a ênfase seja em cruzadas, magia, equipamentos medievais e arquétipos clássicos de RPGs, grande parte do cenário é moderno: plantas industriais, prédios modernos e uma baita cidade brutalista, quadrada, cinza e sem vida.
De acordo com a história, o passado desse mundo era tecnologicamente avançado, mas após o conflito entre a Vida e a Morte, a ruína transformou o que restou da sociedade em tribos e reinos medievais, que apenas usam desses espaços antigos para viver.
Apesar dessa explicação para o contraste, ter um cavaleiro das cruzadas vestido a caráter — completo com um capacete remetente a mitra usadas por membros da Igreja Católica — andando por uma cidade que mais parece um amontoado de blocos de concreto não causa um estranhamento ou curiosidade tão forte quanto poderia. Essa fusão de elementos não deixa de ser criativa, mas poderia ter sido mais bem intencionada.
Narrativa
Conforme a própria página do jogo na Steam, o foco na narrativa como é maior que o habitual em soulslikes (que costumam contar a história de forma fragmentada e implícita). Outro foco é o no real funcionamento de sociedades medievais, mais especificamente, na influência colossal que a religião tem no modo de viver das pessoas, nos conflitos, hierarquias e mais.
Para melhor contar a história, o jogo começa com uma bela cinemática desenhada que faz um bom papel em ambientar o jogador a esse novo mundo sombrio. Além disso, o jogador deve, a medida que progride, passar por memórias importantes de cada personagem. Esse segmentos servem para entendermos de forma rápida quem é o personagem, quais seus ideias e também serve de tutorial para os golpes e habilidades do personagem.
As memórias são, em geral, interessantes, realmente cumprem seu papel de introdução e não costumam quebrar o ritmo do jogo, como poderia muito bem ter sido o caso. Outros fragmentos de memória são encontrados explorando o mundo, esses são bem mais curtos e recompensam o jogador com uma habilidade nova, a escolha do jogador.
Os diálogos são bem escritos, é legal ver os diferentes jargões e sotaques que cada personagem tem. Esse contraste dá personalidade às conversas e, portanto, aos personagens.
É hora de morfar
Jogabilidade
Deathbound funciona de forma parecida com qualquer outro soulslike, pelo menos superficialmente. Temos os botões de ataque leve e ataque pesado, esquiva, podemos segurar outro botão para correr e um botão dedicado ao uso de consumíveis.
O combate é metódico, raramente é uma boa ideia correr em direção ao inimigo sem um plano.
A barra de estamina é bem pequena: três golpes e uma esquiva já te deixam incapacitado no início do jogo. Tome cuidado se gosta de correr, pois pode acabar entrando em uma briga sem estamina
Uma peculiaridade é que a barra de vida é compartilhada com a barra de estamina, ou seja, se com vida cheia você consegue dar três golpes seguidos, com metade da vida serão só dois (ou nem isso). Logo de cara, essa mecânica foi frustrante, afinal: como vou ter meu momento de dar a volta por cima só com um de vida se não tenho estamina para atacar nem desviar?
Essências
Deathbound responde essa dúvida quando introduz talvez sua mecânica mais interessante, as essências. No jogo, você não controla só um personagem, mas até quatro. Todos os personagens dividem o mesmo corpo mas o jogador tem o poder de trocar livremente entre cada um, inclusive durante uma sequência de ataques ou uma esquiva.
É aqui que você começa a administrar seus recursos, cada personagem tem sua própria barra de vida e estamina, ou seja, se você apanha com um, pode trocar para outro que ainda esteja intacto. Sendo assim, um golpe te faz perder o dobro de recursos, mas, com um time cheio, você tem acesso ao quádruplo de recursos que teria se estivesse sozinho.
Além disso, dependendo de como organiza seus personagens no menu, você têm acesso a certos bonus e/ou desvantagens. Essas mudanças dependem das crenças e personalidades de cada essência. De exemplo, Therone, o Cruzado da Morte, não se dá muito bem com a assassina e seguidora da Vida (não é tão contraditório quanto pensa!) , Anna; se os colocar lado a lado, todos perdem um pouco de velocidade de movimento em troca de maior dano crítico.
Em geral, o sistema de essências e sinergias funciona bem. É uma ideia que podia complicar desnecessariamente o jogo e deixar tudo confuso, mas, na prática, foi bem executado. No entanto, o sistema de transformar durante ataques — importantíssimo para desequilibrar certos inimigos ou só dar muito dano — exige muita prática e não é tão responsivo quanto desejado (com sorte, será mais polido na versão de lançamento do jogo).
Se sempre quis mudar de classe e build no meio da ação em algum jogo Souls, são essas mecânicas que você estava procurando.
Exploração
O mundo do jogo não é exatamente aberto, mas a exploração em cada um dos cantinho é sempre recomendada e frequentemente dá recompensas.
Claro, muito da filosofia de design de mundo é tirado dos jogos da FromSoftware; Deathbound te joga em um mundo apertado e labiríntico que provavelmente vai agradar muito os fãs de “Dark Souls“. Ruas, e telhados, canos e instalações que dão voltas e voltas, com inúmeros atalhos que te ajudam a voltar aos pontos de descanso e/ou revelam novos caminhos.
Conclusão
Um ponto que vale mencionar é que realmente, quando entramos na cidade, tudo fica bem apertado, talvez até demais. A câmera não consegue acompanhar muito bem quando há um inimigo virando a esquina e o personagem pode simplesmente bater nas paredes ou errar projéteis se não tomar cuidado. Além disso, cuidado com a iluminação, já que não temos tochas nem lanternas.
Deathbound é uma tentativa digna e proveitosa de fazer um soulslike diferente. Aqui temos uma narrativa mais linear, personagens intrigantes que se relacionam de formas divertidas e mecânicas inovadoras. No entanto, jogamos por um mundo meio contraditório e seco e controlamos personagens que podem ser meio travados.
Considerando que esse é (até onde o site dos desenvolvedores informa) o primeiro jogo da Trialforge Studios, não dá pra ficar sem dar os devidos méritos: o jogo é impressionante e a equipe tem nas mãos algo que pode ser realmente memorável.
Os elementos mais empolgantes e divertidos de Deathbound são os que não vieram de nenhum outro souls. A jogabilidade totalmente distinta de cada essência, a interação entre os personagens que dividem o corpo; são esses elementos — únicos a Deathbound — que dão charme e profundidade ao jogo. São esses elementos que devem ser levados adiante.
Deathbound tem data de lançamento prevista para 8 de agosto de 2024, para PS5, XBOX Series X e S, Steam e Epic Games.
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