A indicação de Fernanda Torres ao Oscar de Melhor Atriz por Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, mexeu com os ânimos do público brasileiro. Com mais de 40 anos de carreira, a atriz entrega uma performance memorável no papel de Eunice Paiva, uma mulher enfrentando os traumas de seu passado. No entanto, o Oscar não é apenas sobre qualidade artística — é também uma corrida política intensa, marcada por campanhas, narrativas e boas histórias. Neste artigo, contextualizamos o cenário atual, as chances reais de Torres e como sua campanha está posicionada frente às concorrentes.
O que faz do Oscar uma corrida tão disputada?
O Oscar é muito mais do que um reconhecimento de mérito artístico. Para ter chances reais de ganhar o prêmio, o indicado deve fazer uma verdadeira campanha política e publicitária. Saber fazer uma boa campanha, em muitos casos, vale muito mais do que talento. Estúdios e equipes de marketing investem milhões para promover seus filmes e convencer os votantes da Academia — um grupo de cerca de 10 mil profissionais da indústria, incluindo atores, diretores, roteiristas e trabalhadores de áreas técnicas.
E como isso funciona?
Pense numa campanha eleitoral. Há exibições exclusivas, eventos de networking, entrevistas, sessões em grandes veículos e talk shows. Tudo isso em prol de deixar o nome do candidato sempre em evidência. No caso de Fernanda — e consequentemente de Ainda Estou Aqui junto —, a Sony Pictures tem desempenhado um papel fundamental, priorizando a campanha do representante do Brasil em detrimento de outras produções importantes, como o caso de “O Quarto ao Lado”, de Pedro Almodóvar.
Essa aposta vem dando resultados: além da indicação ao Oscar, Fernanda já levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama e o prêmio da crítica de Los Angeles, dois termômetros importantes da temporada. Mas, como nem tudo são flores, a atriz não conseguiu ser indicada ao SAG Awards, o prêmio do sindicato dos atores, considerado um dos mais influentes na definição dos vencedores do Oscar. Isso pode ser um sinal de alerta para suas chances.

As concorrentes
Apesar da excelente performance de Fernanda Torres, ela enfrenta adversárias de peso que também têm construído campanhas consistentes. A seguir, analisamos o cenário de suas principais concorrentes:
- Mikey Madison (Anora)
- Aos 25 anos, Mikey Madison é a queridinha da temporada. Sua atuação em Anora, um drama sensível sobre identidade e aceitação, conquistou a crítica. Apesar de ser uma estreante no Oscar, seu nome está presente em todas as principais premiação da temporada. Entre eles o BAFTA, Critics’ Choice, Globo de Ouro, SAG e, agora, Oscar. Além de outras 28 premiações, sendo a maior vencedora da temporada até aqui.
- Demi Moore (A Substância)
- Demi Moore voltou com força total em A Substância, interpretando uma mulher enfrentando traumas psicológicos profundos. Sua performance tem sido amplamente elogiada, e Moore já é veterana em Hollywood, o que pode pesar a seu favor. A narrativa da personagem e da própria atriz podem soar uma boa narrativa para a premiação, que historicamente premia histórias de redenção dentro da indústria.
- Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez)
- Karla Sofía Gascón tem conquistado prêmios por sua atuação em Emilia Pérez, uma comédia musical que explora questões de identidade de gênero. No entanto, o filme foi envolvido em controvérsias por seu uso de inteligência artificial. Gascón também se envolveu em muitas polêmicas, envolvendo a própria Fernanda Torres, como também a divulgação de alguns tweets antigos da mesma fazendo comentários racistas e xenofóbicos, que motivou a desativação a conta na rede social.
- Cynthia Erivo (Wicked)
- Em Wicked, Cynthia Erivo equilibra seu talento vocal e dramático, mas o filme não conseguiu manter o fôlego ao longo da temporada de premiações. Apesar de ser uma artista muito respeitada, suas chances parecem menores neste ano.
Tá bom, mas quais são as Fernanda Torres?
Apesar das dificuldades, Fernanda Torres está bem posicionada na corrida. Sua vitória no Globo de Ouro e os elogios recebidos por sua performance em Ainda Estou Aqui mostram que ela é uma forte candidata. Por outro lado, a ausência de indicações em premiações como o SAG Awards e o BAFTA pode ser um indicativo de que sua campanha não atingiu todos os votantes da Academia. Esses prêmios muitas vezes servem como um termômetro, e a falta de reconhecimento neles coloca Torres em uma posição ligeiramente desfavorável.
Outro ponto importante a considerar é o fato de que o Oscar não é apenas uma celebração de qualidade artística, mas também uma plataforma política e publicitária. Em muitos casos, narrativas em torno dos indicados, como histórias de superação ou renovação na indústria, influenciam diretamente os resultados. Nesse sentido, a presença de nomes como Mikey Madison e Demi Moore, com campanhas altamente estratégicas e bem financiadas, pode dificultar ainda mais o caminho de Torres.
No entanto, o fator emocional que sua performance carrega não deve ser ignorado. A autenticidade e a profundidade com que Torres interpreta Eunice Paiva têm sido amplamente elogiadas, e seu trabalho ressoa com temas universais que podem conquistar os corações dos votantes. Além disso, a Sony tem intensificado a campanha nas últimas semanas, o que pode ajudar a recuperar o terreno perdido.

O Que Podemos Esperar no Domingo?
Se você está empolgado com a possibilidade de Fernanda Torres levar o Oscar, saiba que as chances existem, mas o caminho é árduo. A disputa de 2025 é uma das mais acirradas dos últimos anos, e fatores externos podem pesar mais do que o talento. Portanto, embora a vitória seja possível, talvez seja melhor segurar a ansiedade até o domingo de Carnaval antes de abrir a cerveja para comemorar.
Leia Também:
Deixe uma resposta