Com a chegada de Galactus aos cinemas em Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, muitos fãs casuais do (Universo Cinematográfico Marvel) MCU estão se perguntando: quem é esse ser gigantesco, com armadura imponente e fome por planetas inteiros? Ele é vilão? Um deus? Um monstro espacial?
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A resposta é mais complexa do que parece. Galactus não é apenas um antagonista típico de histórias em quadrinhos. Criado pelos lendários Stan Lee e Jack Kirby em 1966, o personagem representa conceitos que vão além da moral humana, como equilíbrio cósmico, destruição e renascimento. Ele é uma entidade cósmica que habita o centro de muitas das narrativas mais profundas do Universo Marvel, e entender quem ele é também significa mergulhar em uma das mitologias mais ricas já criadas nos quadrinhos.
Antes do Big Bang, havia Galactus
Para começar, Galactus sequer nasceu no nosso universo. Sua história começa antes mesmo do Big Bang, em uma realidade anterior. Nessa antiga versão do cosmos, existia um planeta chamado Taa, um verdadeiro paraíso tecnológico onde vivia um homem chamado Galan. Taa era habitado por uma civilização incrivelmente avançada, tanto cientificamente quanto culturalmente, considerada a mais evoluída daquele universo.

Mas tudo começou a ruir quando uma radiação misteriosa começou a se espalhar pelo universo, destruindo tudo em seu caminho. Nem mesmo as mentes mais brilhantes de Taa conseguiram encontrar uma solução. Conforme essa força mortal se aproximava do planeta, Galan percebeu que o fim era inevitável. Ainda assim, ele liderou uma expedição final em direção ao chamado “caldeirão cósmico”, um local de energia incompreensível, como um último tributo à sua civilização. Lá, todos morreram… menos Galan.
Em meio à destruição, Galan foi envolvido por uma força cósmica indescritível. Uma voz – a do próprio universo morrendo – falou com ele. Essa consciência universal propôs a Galan uma fusão, uma transformação. Ele não morreria. Ele renasceria junto com o novo universo que surgiria após o colapso daquele anterior. Galan aceitou. E assim, nasceu Galactus, um ser incomparável, uma entidade com poder absoluto e uma fome insaciável por energia vital.
Quando o novo universo surgiu, Galactus apareceu nele ainda em estágio de transformação. Sua nave colossal viajou por milênios até que foi atraída pela gravidade de um planeta habitado por uma espécie conhecida como os Vigias – seres que têm como única missão observar e registrar os eventos mais importantes do cosmos. Um desses vigias ficou encarregado de estudar Galactus adormecido, mas logo percebeu que aquela entidade representava uma ameaça sem precedentes. Mesmo assim, como ditava sua função, ele não interveio.
Quando Galactus despertou completamente, ele liberou uma quantidade de energia tão absurda que parecia uma explosão cósmica. O impressionante é que ele imediatamente reabsorveu toda essa energia de volta para seu corpo. Isso foi o primeiro sinal de sua fome: ele precisava consumir energia para se manter vivo. Não apenas qualquer energia, mas a energia vital de planetas inteiros.
O primeiro planeta que Galactus destruiu foi Arqueópia, justamente o mundo que orbitava sua nave adormecida. Uma guerra interestelar levou os invasores a atacarem a nave por acharem que era uma arma. O ataque acordou Galactus em sua forma mais plena, e o resultado foi a destruição completa do planeta com uma única rajada de energia cósmica. Galactus consumiu Arqueópia para satisfazer sua fome – e esse padrão se repetiria por toda a eternidade.
Mas aqui está um detalhe importante: apesar de todo esse poder e destruição, Galactus não é malvado. Ele não age por crueldade. Sua fome é instintiva, incontrolável. Ele representa um conceito maior do que o bem e o mal. Inclusive, após destruir Arqueópia, Galactus desceu ao planeta arrasado e refletiu sobre a tragédia. Ele se culpou. Se perguntou se havia se tornado apenas um instrumento da destruição. E foi movido por esse sentimento que ele decidiu construir um monumento em homenagem ao mundo que havia consumido.
Essa compaixão, esse resquício de humanidade, mostra que dentro de Galactus ainda existe Galan de Taa. E não parou por aí. Ele criou sua própria armadura com seus novos poderes cósmicos, uma estrutura tecnológica feita para conter seu poder e regular sua fome. Também transformou sua nave em uma espécie de câmara de incubação e meditação, onde ficou por eras amadurecendo sua nova forma. Essa câmara orbitou diversos sistemas estelares até se tornar o lar definitivo de Galactus: Ta-2, uma homenagem direta a seu planeta natal perdido.
Ta-2 é uma verdadeira maravilha cósmica. Um planeta artificial tão grande que outros corpos celestes passaram a orbitá-lo, como se ele fosse um sol. Foi dali que Galactus passou a sair em busca de mundos para devorar, sempre retornando para continuar construindo seu lar – um ciclo que se repetiu por milênios.
Se você quiser se aprofundar mais na história do personagem, alguns quadrinhos são essenciais para entender a grandiosidade de Galactus e sua importância no universo Marvel:

- “A Trilogia de Galactus” (1966) – The Fantastic Four #48–50, por Stan Lee (roteiro) e Jack Kirby (arte). A estreia oficial de Galactus e do Surfista Prateado em uma das sagas mais icônicas da Marvel.
- “O Julgamento de Reed Richards” (1982) – Fantastic Four #262, por John Byrne, que explora a responsabilidade moral de Reed Richards ao salvar Galactus da morte.
- “Surfista Prateado: Parábola” (1988) – minissérie escrita por Stan Lee e ilustrada por Moebius, uma abordagem filosófica e visualmente deslumbrante sobre a vinda de Galactus à Terra.
- “Thanos: A Entidade Infinita” (1990) – escrita por Jim Starlin e ilustrada por Alan Davis, onde Galactus se envolve em um conflito de escala cósmica com outras entidades do universo Marvel, dentre elas, o Galactus.
Essas leituras ajudam a entender Galactus não só como vilão, mas como um conceito. Ele é uma força que desafia as convenções do que significa ser “bom” ou “mau”.
Mas afinal, Galactus é ou não um vilão?
A resposta é: depende do ponto de vista. Para civilizações que foram destruídas por ele, sim, ele é um destruidor implacável. Mas para o universo como um todo, Galactus cumpre uma função vital de equilíbrio. Em diversas histórias da Marvel, outras entidades cósmicas reconhecem sua importância como regulador da energia universal. Ele existe para manter o ciclo cósmico fluindo. Em outras palavras, ele é um mal necessário.
Esse conceito fica ainda mais evidente quando ele mesmo se pergunta: “Por que Galactus deve viver?” – e responde: “Para devolver ao universo infinitamente mais do que eu tirei.” Esse pensamento revela uma autoconsciência única. Ele sabe o peso de seus atos, mas entende que seu papel é maior do que a moralidade.
Outro ponto essencial na mitologia do personagem são os Arautos de Galactus. Como não pode procurar planetas sozinho, Galactus escolhe seres cósmicos para receber parte de seu poder e localizarem mundos que possam alimentá-lo. O mais famoso deles é o Surfista Prateado – e em Primeiros Passos temos a Shalla-Bal, uma versão alternativa dele –, que ganhou destaque em HQs, animações e no filme “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”, de 2007. Outros arautos também já serviram a Galactus, como Terrax, Estelar e Nova.
Quanto aos seus poderes, a lista é praticamente ilimitada. Galactus é capaz de manipular a energia cósmica em qualquer escala, transmutar matéria, criar vida, destruir estrelas, se teletransportar por todo o universo, e até ressuscitar seres mortos. Ele é imortal, invulnerável e sua consciência abrange o tempo e o espaço. Na hierarquia do universo Marvel, ele está ao lado de entidades como Eternidade, Morte, Infinito e o Tribunal Vivo.
No cinema, sua primeira aparição foi tímida e polêmica. Em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, Galactus foi representado como uma nuvem escura gigante – uma decisão criativa que desagradou os fãs, especialmente por descaracterizar um dos visuais mais icônicos dos quadrinhos. Agora, com Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, o personagem finalmente recebe o tratamento que merece, com uma representação visual mais fiel aos quadrinhos e com o peso cósmico que o personagem sempre teve.

A introdução de Galactus no MCU pode ser um divisor de águas. Mais do que um novo “grande vilão”, ele pode inaugurar uma fase ainda mais cósmica e filosófica nas narrativas da Marvel nos cinemas, onde os conflitos não são apenas de punhos e raios, mas também de ideias, equilíbrio e existência.
Galactus é símbolo de que o universo Marvel é vasto, misterioso e repleto de camadas. Ele representa o ciclo cósmico de nascimento e morte, de criação e destruição. Um personagem que desafia os limites da compreensão humana e mostra que, na Marvel, nem toda ameaça precisa ser vencida – algumas precisam ser compreendidas.
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