Review | Abyssus é um roguelite que acontece nas profundezas

Mergulhar em Abyssus é quase um déjà-vu: você entra em um mundo que parece familiar, mas que esconde sempre algo inquietante sob a superfície. O jogo não usa o fundo do mar só como cenário — a exploração submarina é o coração da experiência, sustentando tanto a tensão quanto a curiosidade.

Mergulho no desconhecido

A jogabilidade de Abyssus mistura exploração com momentos de sobrevivência, apoiada em uma estrutura roguelite que renova cada descida: mapas, encontros e desafios mudam constantemente. Os controles são rápidos e intuitivos, trazendo aquela sensação ágil de “Doom”, mas envolta na atmosfera opressiva do universo “Bioshock”.

O grande mérito está na sensação de descoberta. Cada ruína, cada criatura bizarra, cada corredor mergulhado na escuridão carrega um equilíbrio delicado entre fascínio e apreensão. Diferente de Subnautica, que gira em torno de coleta e crafting, Abyssus aposta tudo na atmosfera, deixando o jogador sempre com a impressão de que algo está à espreita.

O ponto frágil é a repetição, inevitável no gênero roguelite. Depois de algumas sessões, certos padrões começam a soar familiares, diminuindo o fator surpresa. Ainda assim, a ambientação e a tensão conseguem manter o interesse ativo.

Imagem capturada por Vinícius Mesquita

Beleza sombria nas profundezas

Visualmente, o jogo não tenta ser hiper-realista, mas compensa com um design coeso e criativo no uso de luz e sombras. A paleta escura, os reflexos e partículas submersas criam aquele clima claustrofóbico perfeito para o fundo do mar. Alguns modelos de criaturas e cenários mereciam mais polimento, mas o conjunto funciona bem para manter a pressão psicológica.

Comparado a Narcosis, Abyssus não alcança o mesmo nível técnico em detalhe, mas consegue ser mais expressivo em atmosfera. Um problema é a ausência de localização para o português, já que boa parte da história é transmitida por bilhetes e documentos — o que pode afastar jogadores que dependem do idioma para se aprofundar na narrativa.

Entre marés estáveis e correntes turbulentas

Em termos de desempenho, Abyssus se sai bem. Em configurações médias, roda estável, sem quedas bruscas de FPS que quebrem a imersão. Ainda assim, PCs de entrada podem sentir a falta de uma otimização mais cuidadosa.

O cooperativo é um dos pontos altos. Explorar em dupla ou grupo adiciona peso às decisões: dividir tarefas, guardar recursos ou decidir quem avança primeiro gera momentos de tensão únicos. Mas nem tudo é perfeito — em horários de pico, os servidores sofrem com atrasos de sincronia, o que prejudica a dinâmica e compromete o clima de sobrevivência compartilhada. Corrigido esse ponto, o multiplayer tem potencial para ser o diferencial definitivo do jogo.

Entre monstros e mistérios

Dentro do gênero, Abyssus encontra um espaço próprio entre a sobrevivência meticulosa de Subnautica e o terror psicológico de “Narcosis”. Não é tão profundo em progressão quanto o primeiro, nem tão pesado em drama quanto o segundo, mas constrói algo único ao misturar mistério, cooperação e ambientação sombria.

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