Alone in the Dark é uma franquia conturbada que, no total eram 6 jogos (7 com esse remake), e não precisa nem de uma mão pra contar quais são os favoritos da galera. Mas ela sempre ocupou um espaço importantíssimo no mundo dos games, por ser a franquia que praticamente iniciou o gênero Survival Horror com o seu primeiro jogo em 1992.
É inegável a importância para a indústria em geral, mas com o passar do tempo Alone in the Dark foi sendo deixado de lado enquanto seus “rivais” cresciam mais e mais, vide Resident Evil que o teve como uma base forte, mas a franquia sempre conseguiu se reinventar e se manter interessante, e até hoje o seu legado é mais lembrado do que o legado de Alone in the Dark.
O que fechou o caixão de Alone in the Dark por muito tempo, foi o jogo de 2008 lançado para consoles da sexta e da sétima geração pela Atari, e tinha como objetivo ser um soft reboot da franquia. Esse jogo em questão é horroroso, mal polido e terrível em quase tudo que ele tenta fazer, mas que genuinamente tentava ser revolucionário e criativo. O jogo tinha várias mecânicas interessantes, principalmente o inventário, onde Carnby colocava todos os itens nos bolsos de seu casaco e nas calças, muito interessante, mas mal implementado como tudo do jogo.
Pois bem, ele foi um fracasso (com razão) e por muito tempo desistiram da franquia, até termos a surpresa desse “revival” pela THQ Nordic. Mas essa nova versão conseguiu colocar a franquia nos eixos? É uma boa questão, já que o jogo de 2017 definitivamente não colocou, e quanto menos nós falarmos dele, melhor.
Essa análise foi feita baseada em sua versão para Playstation 5, agradecimento especial a Nuuvem por ter cedido o código.
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Reimaginação em uma Nova Geração
Anunciado em 2022 e feito pela Pieces Interactive, o remake de Alone in the Dark não apresenta muita coisa nova no gênero como o jogo de 2008 tentou (e dá pra entender o porquê), ele tem uma forte base no remake de Resident Evil 2, onde controlamos os personagens em terceira pessoa e exploramos uma mansão cheia de camadas e portas fechadas, como o original.
Aqui temos de volta o nosso querido detetive Edward Carnby (o RÉPTIL, como algumas pessoas o chamam), que tem o rosto e a voz do ator David Harbour, famoso por Stranger Things, e a protagonista feminina, Emily Hartwood, interpretada por Jodie Comer. Infelizmente o nosso querido Edward não tem um bigodão que nem o clássico, mas o ator David Harbor lembra mais o modelo do personagem no segundo e terceiro jogo. E o time responsável pelo jogo foram carinhosos o suficiente para colocarem skins com o visual do jogo clássico, e elas são hilariantes como deve ser.
O jogo se passa em 1930 e no enredo, Edward é contratado por Emily para investigar com ela o desaparecimento de seu tio, Jeremy Hartwood em uma “casa de repouso”, a sinistra Mansão Derceto. Chegando lá eles são recebidos por seus moradores peculiares, e vão se encontrando em diversas facetas estranhas na mansão. Acho importante ressaltar que o jogo original também tinha uma protagonista feminina, mas a mudança era puramente estética, aqui dependendo de qual personagem você escolher você tem diálogos diferentes com os personagens do jogo, e algumas mudanças genuínas, mas nenhuma drástica na progressão, ele segue os mesmos cenários independente dos personagens.
Os moradores de Derceto são bem misteriosos e cheios daquela aura de personagens de “Twin Peaks”, onde eles simplesmente parecem que vieram de uma outra realidade, o mais engraçado é como você fica acostumado com tudo isso.
Uma outra coisa importante a pontuar são os documentos que achamos na mansão naquele clássico estilo de Survival Horror, em que encontramos cartas e outros documentos escritos com soluções (as vezes criptografadas) de puzzles, além disso, através delas o jogador vai descobrir a história da mansão e mais algumas coisas, e sobre as relações dos personagens, e eu enalteço isso pois cada documento do jogo é narrado por um personagem no melhor estilo de “audiobook”, e é um trabalho admirável, os atores mandaram muito bem em transmitir uma grande atmosfera no jogo e te faz ficar bastante imersivo lendo e ouvindo cada um desses documentos.
O visual e atmosfera sombria de Derceto
A parte gráfica do jogo é bem decente, os cenários são bem-feitos e bem detalhados, a atmosfera da mansão é muito interessante, mas algumas animações dos personagens mostram que o orçamento do jogo não foi tão alto assim. Podemos perceber as vezes uma movimentação um pouco estranha, por parte tanto dos NPC’s, quanto dos inimigos do jogo.
Já o lado de performance, em grande parte, é bem decente, porém nos últimos cenários o jogo da umas engasgadas feias e quedas de frame rate significativas, e pode ser que aconteça alguns bugs frustrantes, mas em geral é bem sólido. O design dos personagens é muito bom, os monstros também têm um visual bem interessante e a equipe do jogo retrata muito bem a época em que ele se passa, com uma trilha sonora cheia de saxofone e jazz, ela enaltece bastante a atmosfera, essas são sem dúvidas partes positivas dele.
Outro positivo (bônus) é a animação dos personagens parados, onde nossos protagonistas tiram um cigarro para fumar enquanto espera o jogador lhes dar algum comando, detalhe bobo que me surpreendeu bastante.
A luta pela sobrevivência em outro mundo
O gameplay do jogo, como eu já citei, é extremamente baseado em jogos como Resident Evil 2 (2018) e The Last of Us, onde uma câmera é segurada no ombro do personagem em terceira pessoa, apesar de que as vezes o jogo brinca com a perspectiva (e é bem legal!). A exploração da mansão Derceto é cheia de portas fechadas e atalhos que você vai liberando pouco a pouco para facilitar a navegação, mas as vezes o lugar vira um verdadeiro labirinto e você pode sim se perder, contudo o jogo não é lá tão punitivo e isso é bem difícil de acontecer, fazendo a exploração ser mais gratificante.
Outro ponto a se elogiar são os puzzles, que as vezes são genuinamente difíceis de resolver, você pode ativar um auxílio que ajuda a se guiar neles, mas eu recomendo jogar sem, se quiser uma experiência mais genuína de Survivor Horror. Ultimamente é difícil achar um jogo de terror com puzzles interessantes.
Já na parte de combate é onde o jogo se “esfria” mais para mim. Apesar de não ter quase nada de errado, ele também não faz nada de interessante. A parte do combate acontece em um tipo de “outro mundo” dentro de Derceto, onde nossos protagonistas são transportados para algum tipo de realidade paralela, em que a mente de Jeremy e a energia conturbada dos residentes da mansão, transformam o cenário em um mundo cheio de perigos e monstros no melhor estilo ”Lynchano”, uma espécie de mundo de sonhos no qual nossos protagonistas estão acordados.
Mas tirando o conceito bacana, o combate que acontece aqui não coloca muita coisa interessante na mesa, os monstros infelizmente não são tão assustadores, e o combate não é tão aprofundado. Temos uma pequena variedade de armas de fogo, usamos também diversas armas brancas para se defender, mas essas possuem durabilidade e quebram. Além disso também podemos nos esconder e jogar coisas do cenário para distrair os inimigos.
Os problemas do combate ficam mais aparentes pro final do jogo, onde alguns inimigos têm atitudes estranhas e “bugadas”, que de novo, mostra a cara do orçamento do jogo. A variedade de inimigos também é bem pequena, o que é um pouco decepcionante, apesar deles terem visuais assustadores baseados em criaturas típicas das obras de H.P. Lovecraft (que também é uma grande base pro jogo).
Independentemente, eu não consigo deixar de pensar que esse remake se beneficiária de algumas ideias malucas que o Alone in the Dark de 2008 teve. Se ele colocasse pelo menos o sistema de inventário desse jogo e eles o fizessem de uma forma decente, o jogo teria uma mecânica que faz um diferencial de outros jogos do gênero no mercado, mas eles jogam seguro, e não apostam muito alto.
Considerações finais
Alone in the Dark está de volta? Minha resposta é que, é difícil dizer ainda. Esse é um jogo muito condensado, e pouco ousado (por bem ou por mal), não tem muitas características marcantes, mas não faz nada exatamente de errado. Quem é fã da franquia com certeza deveria checar o jogo, pois dá para ver que os responsáveis pelo jogo têm um enorme carinho pelo original. Um fã de longa data com certeza vai ficar feliz, pois ele está jogando um Alone in the Dark que é genuinamente bom, depois de bons anos sem algo com uma boa qualidade.
Apesar de termos aqui um jogo que não surpreende muito, temos um bom terror, com puzzles um tanto desafiadores e com uma poderosa atmosfera. Não sei dizer qual será o futuro da franquia, mas eu espero de verdade que façam remake dos outros dois jogos clássicos, e seria interessante ver uma evolução desse primeiro jogo para vermos o que eles podem melhorar e mudar.
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