Tente imaginar um FPS que mistura o frenesi de Doom com o universo pirata. É mais ou menos por aí que Davy x Jones chega, cheio de sarcasmo, insanidade mitológica e um visual tão estranho quanto empolgante. A proposta é levar o jogador para um purgatório delirante, onde o humor ácido anda de mãos dadas com o combate frenético.

Correria, um crânio arremessável e uma alma pirata
O protagonista não é apenas Davy Jones. Aqui, você controla um corpo decapitado guiado por sua própria cabeça falante — que, além de reclamar e debochar o tempo todo, vira mecânica central. Essa dualidade corpo/caveira não só impulsiona a narrativa como dá ao gameplay uma identidade única.
O combate é um festival de improviso: espada, pistola, gancho e, claro, a sua cabeça arremessável. Jogar o próprio crânio contra inimigos — e ouvi-lo voltar resmungando — é o ápice da mistura entre ação frenética e um humor sombrio. O ritmo oscila entre hack’n’slash e shooter, sempre no limite do caótico.
O sistema de fusões adiciona um tempero estratégico. Inimigos derrotados deixam essências que podem ser combinadas em baús de recompensas. O problema? Cada baú pode também invocar demônios, forçando o jogador a avaliar se vale arriscar mais poder ou encarar o inferno. É um risco/recompensa interessante, que quebra a repetição das arenas.
O calcanhar de Aquiles está no feedback de impacto. Algumas armas carecem de peso: falta aquele estalo sonoro, a vibração ou a animação que convence. Em um jogo que aposta tanto no visceral, não sentir o impacto do corte ou do tiro enfraquece a brutalidade prometida.

Um purgatório pirata nas nuvens
Se a jogabilidade chama atenção pelo absurdo criativo, o visual é o que sela a identidade de Davy x Jones. O mundo de The Locker é um espetáculo grotesco: nove ilhas flutuantes cercadas por nuvens densas, povoadas por horrores marítimos que lembram um Lovecraft tropicalizado. Esqueça o clichê de ilhas paradisíacas; aqui, tudo é distorcido, quase onírico, com uma estética que casa perfeitamente com a insanidade proposta.
O navio Abby rouba a cena. Metade baleia, metade embarcação, funciona como QG móvel e personagem coadjuvante. Ele permite recrutar oficiais, soltar tiros de canhão e acompanha o jogador como se fosse um aliado vivo. Abby não é só transporte — é acompanhante de jornada, com presença marcante no design e no gameplay.
No aspecto técnico, o jogo se mantém estável para uma versão em early access, mas tropeça no excesso. Partículas demais, cores demais, informação demais. Em certos momentos, o caos visual engole o jogador, atrapalhando a leitura da cena. Somado à já citada falta de impacto em alguns golpes, o resultado é uma visceralidade que às vezes não convence tanto quanto deveria. Ainda assim, a direção de arte sustenta a experiência e garante que o jogo se destaque pela atmosfera.

Conclusão
Davy x Jones é um FPS pirata que não tem medo de abraçar o ridículo para criar algo memorável. Seu humor nonsense, o combate inventivo e a ambientação grotesca formam uma identidade difícil de ignorar. Problemas de clareza visual e impacto nos golpes existem, mas não ofuscam a ousadia da proposta.
No fim, é um indie visceral, estranho e debochado — do tipo que diverte justamente por não tentar jogar na zona segura. Uma travessia insana com muita piada e ossos voando em meio a explosões.
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