A minha relação com o primeiro Death Stranding é marcada por uma mistura de fascínio e confusão. Como foi o meu primeiro contato com um jogo de Hideo Kojima, senti-me inicialmente perdido com a complexidade da narrativa e do universo apresentado. No entanto, ao mesmo tempo, o jogo capturava a minha atenção de forma única, tanto pelo gameplay inovador quanto pela atuação impecável dos personagens. Death Stranding 2: On The Beach não apenas supera essas impressões iniciais, mas eleva a experiência a um novo patamar, mantendo-me completamente envolvido do início ao fim.
Uma trama envolvente e bem narrada
A história de Death Stranding 2 se passa alguns meses após os eventos do primeiro jogo. Sam Porter Bridges, interpretado por Norman Reedus, vive uma vida isolada no México, cuidando de Lou, agora uma criança, não mais confinada a um pod. A tranquilidade é interrompida quando Fragile, vivida por Léa Seydoux, reaparece com uma missão: conectar o México à rede quiral. Conforme a narrativa avança, a jornada se expande para a Austrália, onde grande parte do jogo se desenrola.
O que destaca a narrativa é a sua capacidade de manter o jogador intrigado sem parecer arrastada. Cada capítulo traz acontecimentos significativos, com momentos que instigam a curiosidade e incentivam a progressão. Diferentemente do primeiro jogo, a trama é mais acessível, com explicações claras apoiadas pelo recurso Corpus, que organiza a lore de forma prática. Isso torna a experiência mais fluida, especialmente para novos jogadores.
As atuações continuam a ser um ponto forte. Reedus e Léa entregam performances consistentes, mantendo a qualidade vista no título anterior. A adição de novos personagens, como Tarman, interpretado pelo cineasta George Miller, e Tomorrow, vivida por Elle Fanning, enriquece a narrativa. Fanning, conhecida por papéis em “Malévola”, brilha em cenas de ação e suspense, tornando-se um dos destaques emocionais do jogo. A presença de Miller, com sua aura de avô carismático, adiciona camadas de profundidade à trama, especialmente em momentos de reflexão sobre conexão humana.
Gráficos e cenários de tirar o fôlego
Desde os primeiros minutos, Death Stranding 2 impressiona visualmente. O jogo, construído no motor Decima, apresenta uma evolução notável em relação ao seu antecessor, que já era visualmente marcante. Os cenários do México, com suas paisagens rochosas, e da Austrália, com desertos multicoloridos e montanhas nevadas, são de uma beleza hipnótica. Cada bioma é cuidadosamente desenhado, transmitindo a sensação de um mundo vivo, apesar de sua desolação.
A captura facial é outro aspecto que surpreende. As expressões dos personagens são tão detalhadas que, em close-ups, é difícil distinguir se estamos assistindo a um filme ou jogando um videogame. Esse nível de realismo reforça a imersão, especialmente em momentos de diálogo carregados de emoção. No entanto, alguns biomas intermediários, embora belos, não mantêm o mesmo impacto visual das áreas iniciais, o que pode ser um pequeno ponto de inconsistência.

Um feito técnico impressionante é o tempo de carregamento. Iniciar o jogo ou carregar um save leva apenas um segundo, um marco para um título de mundo aberto dessa escala. Essa fluidez contribui para uma experiência mais dinâmica, permitindo que o jogador se concentre na exploração e na narrativa.
Gameplay: mais acessível, mas com ressalvas
A essência do gameplay permanece fiel ao primeiro jogo: realizar entregas entre bases, conectando-as à rede quiral. No entanto, Death Stranding 2 introduz melhorias significativas na jogabilidade. A introdução precoce de veículos, como caminhões e motos, facilita a travessia de longas distâncias, tornando as entregas menos árduas. A DHV Magalhães, uma nave que funciona como hub central, permite viajar rapidamente entre bases, embora seu uso venha com penalidades, como menor ganho de experiência, incentivando o jogador a explorar a pé ou com veículos terrestres.
O combate é mais presente e refinado, com uma variedade maior de armas e opções táticas. A mira automática simplifica os confrontos, tornando-os acessíveis mesmo para jogadores menos experientes. Além disso, o jogo oferece opções furtivas, com mecânicas que lembram “Metal Gear Solid”, permitindo abordagens stealth para melhores recompensas. Recursos como armas e munições são abundantes, muitas vezes compartilhados por outros jogadores através do sistema online, reforçando o senso de comunidade.

Uma adição notável é o fantoche Dollman, um companheiro que oferece dicas, comenta a narrativa e pode ser arremessado para explorar o cenário ou marcar inimigos. Essa mecânica adiciona uma camada estratégica, especialmente em missões furtivas, e é um dos elementos mais criativos do jogo.
Apesar dessas melhorias, a maior acessibilidade pode dividir opiniões. Para alguns, a facilidade de locomoção reduz o desafio que tornava o primeiro jogo único. Jogadores que apreciavam a dificuldade de atravessar terrenos inóspitos podem sentir que a experiência perdeu parte de sua essência. Para compensar, recomendo iniciar na dificuldade mais alta, que oferece um equilíbrio melhor para veteranos.
Um universo de conexões e reflexões
Death Stranding 2 mantém o foco temático de seu antecessor, explorando a conexão humana em um mundo fragmentado. A narrativa aborda questões como luto, esperança e a luta pela sobrevivência, com uma abordagem menos enigmática que a do primeiro jogo. A trilha sonora, composta por Woodkid e Ludvig Forssell, complementa perfeitamente a atmosfera, com faixas que variam entre o melancólico e o épico, intensificando momentos-chave.

O sistema de comunidade online continua presente aqui. Estruturas construídas por outros jogadores, como pontes e garagens, aparecem no seu mundo, facilitando as entregas. Esse aspecto reforça a ideia de colaboração, um dos pilares da franquia, e torna cada jornada mais envolvente.
Vale a pena?
Death Stranding 2: On The Beach é uma sequência que refina a fórmula do original, oferecendo uma experiência mais polida e acessível. Embora não reinvente o gênero, o jogo expande os elementos técnicos e narrativos com maestria, desde os visuais deslumbrantes até a história cativante. A maior acessibilidade pode não agradar a todos, mas as melhorias em combate, exploração e narrativa fazem dele um título imperdível para fãs de Kojima e jogadores que buscam uma experiência única.
Se você gostou do primeiro Death Stranding, esta sequência é um mergulho ainda mais profundo em seu universo. Para novatos, a narrativa mais clara e o gameplay aprimorado tornam o jogo mais convidativo. Com cerca de 40 horas de campanha principal, Death Stranding 2 é uma jornada que vale cada passo.
Agradecimento a PlayStation Brasil por nos enviar uma cópia para a realização do review.
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