Lançado em 17 de julho para PlayStation 4 e 5, Xbox Series, PC e disponível no Gamepass, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess, é uma das grandes surpresas que eu tive este ano em relação a jogos, e que nos mostra o porquê a Capcom é uma das desenvolvedoras de jogos mais importante de todos os tempos.
Contextualizando a Capcom
A Capcom teve seus altos e baixos na sétima geração. Ela tentava tanto agradar ao público ocidental que deixou de lado muitas franquias que nasceram em épocas anteriores, colocando um foco em shooters para tentar arrancar aquela grana singela que só Call of Duty conseguia e, apesar de termos bons títulos como Lost Planet 1 e 2, tivemos uns bem ruins como o reboot maluco de Bionic Commando.
No geral, foi uma época tenebrosa da Capcom (o limbo que Devil May Cry ficou, o desastre do lançamento de Street Fighter V, Marvel vs Capcom: Infinite, e etc) que demorou bastante pra passar, ela só foi se reerguer tecnicamente com o lançamento de Resident Evil 7.
Como uma fênix…
Antes de RE 7 acontecer, eles estavam apostando seguro e lançando games poucos ousados – até porque ela não tinha força o suficiente para ficar “de boas” se tivesse um fracasso – e anos depois ela ressurge das cinzas: Resident Evil voltou a ser um título de horror de respeito (e teve excelentes remakes); Monster Hunter teve seu lançamento em plataformas além de portáteis depois de anos e virou um dos jogos mais vendidos na história da Capcom; Devil May Cry retornou da melhor forma possível com o V; e Street Fighter 6 é simplesmente um dos melhores fighting games de todos os tempos.
Aconteceu há um tempo uma pesquisa geral para os fãs abrirem o berreiro e falar o que estão achando da Capcom atual: o que eles amam dela em geral e o que eles esperam dela no futuro.
Apesar de ter muitos fãs de Dino Crisis votando para eles terem um remake do jogo, a situação deu margem para a Capcom conhecer mais seu público – e além de ressurreições de franquias abandonadas, muita gente também espera que ela saia fora da caixa e faça jogos novos.
Kunitsu-Gami é justamente isso: é ela nos mostrando que ainda tem “o molho” para ser ousada e criativa em seus títulos. Estamos diante de uma era renascentista da mesma.
Se você tem curiosidade, pode dar uma olhada nesta pesquisa clicando aqui.
E um enorme agradecimento a Capcom por ter cedido Kunitsu-Gami para nós. É uma honra imensa poder jogar esse jogo (lembrando que a versão analisada aqui é a de PlayStation 5).
A Jornada da Deusa
Aqui acompanhamos uma Sacerdotisa Divina chamada Yoshiro em sua jornada para purificar a Montanha Kafuku. As terras foram invadidas por Coléricos (os demônios – ou Yokais, se preferir) que “as demonizaram” poluindo e amaldiçoando o lugar. Então, é nossa missão guiar o caminho da Deusa para limpar e abençoar as terras e a natureza.
Assim, jogamos com o seu guia e protetor principal, Soh – a Maiden conta primariamente com ele, mas vai conseguindo reforços com os habitantes das vilas e com o poder das 12 máscaras da Deusa – que infelizmente foram roubadas, mas vamos adquirindo-as ao longo do caminho.
A história de Kunitsu-Gami é relativamente simples, mas muito charmosa e muito bem pensada para o contexto aqui. Ela utiliza bem o setting e conta a história como um folclore japonês (os menus inclusive são no estilo das pinturas no estilo Nihonga). Quem se lembra do fantástico Okami? Pois eles têm um setting bem parecido, tanto que temos aqui roupas baseadas nos personagens de Okami e a trilha sonora dele – os desenvolvedores colocaram os dois lado a lado bem propositalmente.
Artisticamente Maravilhoso
Kunitsu-Gami não tem os gráficos mais “mindblowing” da vida, mas ele sabe que tem uma identidade visual forte e criativa e depende muito dela para impressionar – e consegue, consegue bastante!
Como eu disse acima, ele tem esse estilo visual das pinturas Nihonga então os menus são extremamente lindos e estilizados com esse aspecto. Os cenários são aqueles típicos de Japão antigo: temos camponeses, casas bem bonitinhas e muitos cenários se encostando nesse setting japonês; é sempre um deleite exorcizar as terras amaldiçoadas e ver a beleza de volta ao mundo.
Os personagens também têm muita identidade visual e os monstros são fantásticos. Eles acertaram precisamente no lado artístico, apesar de claramente não ser o jogo que mais utiliza o poder da RE Engine.
E falando nela, devo dizer que é muito bom ver que a RE Engine é uma engine tão versátil – não que eles não tenham provado isso: Monster Hunter Rise e Street Fighter 6 já provaram que a engine vai além de visuais foto-realistas –, mas aqui fica claro que ela não se limita a nada. Se o desenvolvedor tiver uma visão artística específica, ela pode vir à tona.
Além disso, ela é ótima em otimizações: é impressionante que esses últimos jogos da Capcom tenham saído para o (guerreiro) PS4, e eles são perfeitamente jogáveis, apesar de serem obviamente mais fracos.
Para aproveitar bem esses visuais, Kunitsu-Gami também tem um modo foto para você brincar, e é bastante competente nas opções para você tirar aquele print que te fará lembrar de um bom tempo com ele.
Exorcizando os Coléricos
O gameplay do Kunitsu-Gami é uma mistura de RTS no estilo de Tower Defense com Action/Adventure. Controlamos Soh, sendo ele o comandante e principal o protetor de Yoshiro, e nossa função primária é protegê-la e guiá-la para os portões Torii – que invocam os Coléricos na noite, então o jogo tem uma mecânica de dia e noite: durante o tempo do dia, nós temos como objetivo explorar os cantos do mapa para montarmos estratégias, libertar aldeões que estão presos em casulos amaldiçoados, e conseguir cristais (que são obtidos exorcizando Coléricos pelo cenário ou quebrando coisas ao redor).
Com os cristais, nós conseguimos mascarar os aldeões com uma das máscaras da Deusa, e cada uma delas possuem classes com diferentes habilidades, que são essenciais para ajudar no nosso caminho.
Com os cristais nós também conseguimos traçar um caminho para a sacerdotisa até o portão, e aí ela vai dançado até lá até a noite cair (que faz ela parar no meio do caminho). De qualquer forma, podemos acelerar esse processo apertando R1 + Triângulo; e essa é uma parte muito importante do processo, pois a Yoshiro muito provavelmente vai parar no meio do caminho, então temos que pensar bem no posicionamento em geral.
Além disso, alguns mapas também possuem gimmicks como portões mágicos que precisam ser construídos pelos aldeões que podem atazanar mais a vida dos Coléricos e nos dar vantagens: fazer a classe de Ladrão tirar os baús do chão etc.
Uma noite perigosa
No cair da noite que o bicho pega: é aqui que a ação do jogo rola! Com o Soh, podemos comandar os aldeões e posicioná-los estrategicamente pelo mapa para proteger Yoshiro. Essa é uma das partes mais importantes. Nos comandos, podemos curá-los caso eles estejam feridos, trocar as suas classes para o que lhe convêm no momento, e comandá-los a distância. Nunca é necessário estar próximo deles para realizar uma ação, e isso é bem importante para não comprometer a sua posição em geral.
Além de comandar, nós mesmos saímos na porrada, então Soh tem combos com a sua katana (que possui uma animação excelente). Esses combos são relativamente simples: combinação de quadrado para ataque fraco e triângulo para ataque forte.
Ainda assim, possui um sistema de combos muito interessante: Soh pode equipar diferentes habilidades especiais, além de equipar talismãs que lhe dão buff – tanto para ele quanto para os aldeões. Claro que, além disso, ele também possui mecânicas defensivas, como desviar e defender. Acertando o timing, você também tem um parry e uma esquiva perfeita.
Enfim, na noite o Torii se abre, e os Coléricos saem para atacar Yoshiro, e aí a nossa função é defendê-la até o sol raiar, o que nos proporciona os momentos mais eletrizantes do jogo.
Ao exorcizar os portões, livramos a área da influência dos Coléricos, e aí temos a capacidade de revisitar o lugar e colocar os aldeões para reconstruí-lo, proporcionando-nos mais upgrades para futuros confrontos – e devo dizer que a atmosfera dos lugares purificados é muito relaxante, é muito legal ver a rotina dos aldeões e poder dar carinho nos animais.
Os jogadores são bastante incentivados a repetirem as fases, pois assim podemos concluir desafios dentro dela e ganhar bônus que podem nos ajudar imensamente, além de acelerar a reconstrução dos lugares, já que elas só se reconstroem quando os jogadores terminam ou repetem as fases.
E por fim, as lutas contra os bosses são excelentes: cada uma muito única e com desafios diferentes que fazem você utilizar de tudo do seu arsenal, cada monstro é uma surpresa atrás da outra.
Belíssimo Design de Sons
A trilha sonora de Kunitsu-Gami é muito caprichada, ela pega muito bem o feeling folclórico japonês. Não temos muitos diálogos aqui, só alguns da Sacerdotisa, então os personagens se comunicam com grunhidos e gritos, mas são extremamente expressivos e carismáticos.
Destaque para o efeito sonoro em geral! O som do Soh exorcizando os portões Torii é muito bom de ouvir, o som dos ataques e dos monstros também é excelente – bônus para o sons que saem do Dual Sense que aumentam a imersão no jogo. Os golpes mágicos e pesados de Soh sempre saem pelo controle, além de outros sons como um pedido de socorro de Yoshiro caso algum inimigo esteja próximo dela: todos eles são bem únicos.
Além disso, podemos trocar pela trilha sonora de Okami, que eu recomendo fazer se forem repetir as fases, já que é bem provável que alguma hora ou outra você acabe fazendo isso.
Considerações Finais
Kunitsu-Gami é outro dos muitos jogos “específicos” que eu joguei este ano. Entre eles, ele é de longe o meu favorito e já entra no meu top 10 de favoritos do ano. Mas apesar de tudo, ele não é lá um jogo perfeito: ele pode vir a ser muito repetitivo e bem frustrante com seus desafios, além de que é, basicamente, um Tower Defense – outro gênero que não agrada a muitos pelo tanto de coisa que você precisa administrar para se dar bem.
Mas ele tem um diferencial bacana tentando ser mais orientado à ação do que muitos jogos do gênero. Aliás, é o que me fez gostar bastante dele: ele combinou muita coisa que dificilmente dá certo – e fez dar certo.
É maravilhoso ver que a Capcom novamente consegue lançar jogos assim. Me dá esperanças com outras franquias dela e eu espero que ele tenha feito sucesso o suficiente para que não abandonar essas ideias malucas e criativas.
Talvez com o sucesso dele, Okami veja mais um título lançado para as grandes plataformas? Eu definitivamente iria adorar isso, então recomendo pelo menos testarem o jogo: aproveitem que ele está disponível no Gamepass e deem uma chance, ele pode surpreender bastante.
E para finalizar, só vou deixar aqui o link do site oficial de Kunitsu-Gami, só porque ele é extremamente bem-feito, e eu adoro como a Capcom é esforçada com o site oficial de seus jogos.
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