Review | Metaphor: ReFantazio – Uma utopia de uma realidade não tão distante

Os JRPGs estão vivendo um novo apogeu, e não há como negar o papel da Atlus nesse ressurgimento. Após um ano recheado de sucessos como o remake de Persona 3 e o relançamento da edição definitiva de Shin Megami Tensei V, ambas franquias consagradas, finalmente temos algo inédito: uma nova propriedade intelectual para os fãs.

Metaphor: ReFantazio é esse novo marco, um JRPG medieval vindo das mentes brilhantes por trás de Persona 3, 4 e 5. Liderado por Katsura Hashino, o projeto criou altas expectativas desde o anúncio, prometendo novidades em todos os aspectos — personagens, sistemas de combate, direção de arte e trilha sonora.

Enredo e ambientação em um mundo de desigualdades

O jogo se passa em Euchronia, um universo medieval sem a presença da raça humana. Em vez disso, convivemos com raças fictícias como Clemar, Eugief, Papirus e Elda — esta última sendo a mais discriminada. O preconceito e a desigualdade social estão no centro da narrativa, refletindo em tensões sociais que dividem o reino entre linhagens privilegiadas e grupos marginalizados.

No meio desse cenário, uma tragédia abala o equilíbrio: o rei é assassinado, deixando um vácuo no trono. É aqui que conhecemos Pedro (sim, Pedro, na localização canônica brasileira), um jovem Elda que, acompanhado por uma fada chamada Gallica, entra em uma jornada para confrontar o responsável pelo regicídio e disputar a coroa.

Mais do que uma batalha pelo poder, Metaphor explora temas profundos como crise de identidade, conflitos políticos e preconceito. A interação com os seguidores, cada um com sua personalidade e história, é um dos pontos altos, trazendo profundidade ao universo do jogo.

Inovação nos JRPGs

Apesar de ser um JRPG por turnos, Metaphor vai além do convencional. A jogabilidade é uma fusão criativa de combate, exploração e mecânicas inovadoras.

Exploração fluida

Fora das dungeons, o jogador interage com NPCs, cumpre missões secundárias e explora o mapa de forma única: “surfando” em sua espada. Isso torna a navegação rápida e divertida, eliminando a necessidade de teletransportes frequentes. Dentro das dungeons, no entanto, a abordagem muda. Estamos no “modo batalha”, onde é preciso evitar emboscadas e manter a vantagem estratégica.

Combate dinâmico

O sistema de combate mistura turnos com elementos de tempo real. Assim como em Persona, inimigos ficam visíveis no mapa, mas se forem mais fracos que o jogador, podem ser eliminados sem iniciar uma batalha. Já contra adversários mais fortes, é possível iniciar o combate com vantagem, aplicando dano prévio ou deixando-os atordoados.

Essa mecânica torna o jogo mais estratégico e recompensador. Porém, o contrário também pode acontecer: se o jogador for pego desprevenido, pode perder horas de progresso.

Persona? Não, Arquétipos!

Uma mecânica importante em Metaphor são os Arquétipos, que substituem os tradicionais Personas. Aqui, todos os seguidores podem manifestar qualquer arquétipo, funcionando como classes de RPG (guerreiro, mago, ladrão, etc). A diferença está na possibilidade de customização: ao aprender habilidades em um arquétipo, elas podem ser transferidas para outro, criando infinitas combinações.

Além disso, o sistema incentiva o rodízio constante de classes para explorar ao máximo suas possibilidades. O uso do Ignitor, equipamento que converte Magla (a magia do jogo) em poder, reforça o aspecto estratégico, já que armas e equipamentos variam conforme o arquétipo em uso.

Aspectos técnicos, gráficos e desempenho

O jogo utiliza o motor gráfico proprietário da Atlus, o GFD, o mesmo usado na série Persona. Embora inferior à Unreal Engine, a direção de arte compensa qualquer limitação técnica, entregando visuais deslumbrantes inspirados no estilo renascentista.

Paisagem de Metaphor: ReFantazio, mostrando uma cidade medieval vista de cinema e em que há vários cristais no chão.
Paisagens de tirar o fôlego – Captura por Vinícius Mesquita

As expressões faciais são um destaque, especialmente nos diálogos, onde os modelos 3D e as miniaturas na interface trabalham juntos para transmitir emoções de forma convincente.

Por outro lado, o desempenho pode ser inconsistente. Em áreas densamente povoadas, como a cidade principal, há quedas de FPS mesmo em PCs potentes. Esses problemas podem ser resolvidos com atualizações futuras, mas é algo que impacta a fluidez inicial.

Uma experiência audiovisual completa

A trilha sonora é uma obra-prima. Composta em uma língua fictícia criada exclusivamente para o jogo, as músicas de batalha e exploração elevam a imersão, capturando o clima perfeito para cada momento.

A dublagem também é excelente, tanto em japonês quanto em inglês. Graças à localização para o português, proporcionada pela Sega, os jogadores brasileiros podem aproveitar a narrativa em seu máximo, com traduções cuidadosas que preservam os termos originais do universo do jogo.

Um novo clássico da Atlus

Metaphor: ReFantazio é um presente para os fãs de JRPGs. Com mais de 80 horas de conteúdo variado, o jogo oferece uma experiência imersiva que mistura narrativa envolvente, jogabilidade inovadora e uma direção artística impecável.

Embora tenha pequenos problemas de desempenho, eles não comprometem a diversão geral. Este título representa um respiro em meio à saturação de fórmulas repetitivas no mercado, estabelecendo um novo padrão para o gênero.

A Atlus, mais uma vez, prova ser uma das maiores forças criativas da indústria. Se este é o começo de uma nova franquia, doravante, promete ainda mais surpresas.

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