Review | Mito, medo e falhas: como Death Relives chegou aos consoles
Nyctophile Studios/Divulgação

Review | Mito, medo e falhas: como Death Relives chegou aos consoles

Misturando horror psicológico com mitologia asteca, Death Relives propõe uma experiência singular ao colocar o jogador na pele de Adrian, um jovem em busca da mãe desaparecida, enquanto é caçado por Xipe Totec, o temido Deus Esfolado. O jogo aposta em uma ambientação densa e no uso de elementos culturais autênticos para construir tensão – com destaque para a trilha sonora em náuatle, idioma ancestral associado ao povo asteca, e uma representação ritualística fiel às crenças da época.

Apesar da premissa instigante e do esforço em respeitar o material histórico, Death Relives tem dificuldade para manter o ritmo. A narrativa se arrasta, a jogabilidade oscila entre momentos imersivos e frustrantes, e falhas técnicas comprometem a proposta de imersão. Ainda assim, há mérito na tentativa de criar algo diferente dentro do gênero.

A essência do jogo é clara: correr, se esconder e tentar sobreviver, sem combates tradicionais – em um estilo que remete a “Alien: Isolation” e “Outlast”, mas sem áreas seguras. Há também algumas mecânicas únicas, como o sistema de banimento temporário do deus, segmentos no submundo que simulam templos astecas e o uso de um aplicativo companion, um dos maiores (e mais problemáticos) diferenciais do título.

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Nesse app, o jogador usa o “celular” de Adrian para interagir com seu pai por meio de uma Inteligência Artificial (IA) que fornece dicas durante a gameplay – que só funcionam bem se você estiver atento à tela e não se incomodar com instruções excessivamente óbvias. Na prática, o recurso quebra a imersão com diálogos rasos. Um exemplo claro está no primeiro puzzle: após escanear um QR Code em uma caixa de fusíveis, a IA responde com a frase “Você deveria tentar colocar os fusíveis aí, eles não saem sozinhos.” Para jogadores minimamente experientes, essa é uma dica ineficaz – e, até entender que era possível vasculhar outras salas, passaram-se longos minutos, já que o jogo inicialmente não abre a porta necessária para a exploração.

O stealth, que deveria ser o ponto alto da experiência, se torna um dos aspectos mais frustrantes: puzzles repetitivos, sensores inconsistentes e IA imprevisível tiram o peso da tensão e aumentam a sensação de cansaço.

Mesmo com o jogo rodando na Unreal Engine 5, a versão para consoles sofre com uma série de problemas técnicos: screen tearing, pop-ins visuais, clipping frequente, tempos de carregamento excessivos entre salas, modelos de personagens artificiais, animações engessadas, glitches em cutscenes e uma atuação sem emoção por parte do protagonista. Ainda assim, há um ponto alto incontestável: Xipe Totec.

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A figura do Deus é impressionante – ameaçadora, imponente, com voz em náuatle e visual baseado no simbolismo asteca. Sua presença remete ao impacto causado por Mr. X, em “Resident Evil 2”. A ambientação sonora também merece elogios: sons de passos, respiração, vidro quebrando e efeitos ambientes reforçam uma atmosfera opressiva, que seria perfeita… se não fosse sabotada pelos demais problemas.

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A trama tem forte base mitológica, com consultoria e uso do idioma original para dar vida ao vilão. No entanto, a narrativa principal carece de conexões sólidas: colecionáveis e eventos paralelos parecem desconectados, e a história só ganha relevância nos momentos finais. Até lá, o jogador se resume a fugir, repetir puzzles e resistir à vontade de desligar o console – seja por frustração, seja por medo.

Death Relives tem um conceito ousado e culturalmente valioso, mas é prejudicado por uma execução instável. A ambientação sonora, o uso do náuatle e a figura de Xipe Totec são pontos de destaque. No entanto, falhas estratégicas em narrativa, gameplay e performance tornam a experiência menos impactante do que poderia – ou deveria – ser.

Desenvolvido pela Nyctophile Studios, Death Relives foi lançado em julho de 2025 para PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.

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