Review | Nobody Wants to Die mostra que a humanidade sempre será o problema

Investigação e mistérios são pontos chave da narrativa noir

Carros voadores, tecnologia avançada, transferência de corpos e muito mais. Isso é um pouco do que Nobody Wants to Die nos entrega, em uma narrativa cheia de investigação e mistérios do gênero noir.

Logo de início, assumimos, sem muitas explicações, o papel de James Karra, um jovem de apenas 120 anos. James é um detetive ao estilo dos grandes blockbusters do cinema, polêmico, com um histórico de perder parceiros, descontrolado emocionalmente, mas mesmo assim considerado uma lenda viva.

O personagem sofre de uma incompatibilidade com seu novo corpo, o que causa problemas de sincronização com o casco, fazendo com que tenha surtos mentais, fortes dores de cabeça e alucinações, forçando-o a tomar remédios para alívio. A troca de corpo é um efeito de um acidente que sofreu, cujos motivos são explicados no decorrer do jogo.

Obs: Essa análise foi realizada com uma cópia cedida gentilmente pela nossa parceira Nuuvem.

A transferência corporal, algo próximo do já visto na série “Altered Carbon“, aqui é chamada de icorita. Toda a população é obrigada a pagar por uma nova casca a partir dos 21 anos, e claro, isso não custa barato, alimentando os mais poderosos da sociedade, incluindo os maiores magnatas.

Nesse ponto, Nobody Wants to Die deixa bem explícitos seus elementos cyberpunk e steampunk. Indo além, o jogo constantemente faz duras críticas à desigualdade social como um todo, onde os ricos exploram cada vez mais os pobres, impondo impostos e taxas absurdas (uma dura realidade, não?).

O início da história (ou redenção) de James Karra

A narrativa de Nobody Wants to Die se desenvolve de forma direta, sem muitas voltas. James está afastado da polícia desde o acidente, mas também por bancar um Axel Foley da vida. Constantemente quebrando regras e sendo um verdadeiro parceiro “pé no saco”, ele é colocado à prova em uma missão ao lado de sua nova parceira, Sara.

Sara é uma espécie de guia para James, além de seus conselhos, ela é nossa parceira por voz durante praticamente todo o jogo. Eles têm uma relação de desconfiança que amadurece no desenrolar da curta campanha, que dura cerca de 4 a 5 horas.

A missão dos dois é investigar o assassinato de um magnata político, Edward Green. Green é o típico personagem bilionário que controla tudo, desde fundações e empresas até a política e o próprio sistema de icoritas.

Para evitar o caos e pânico social, a morte de Green não é noticiada, cabendo a James e Sara investigar e capturar o suposto assassino. E, entre meio a isso, desvendar mais segredos sujos sobre os personagens envolvidos na trama.

Como Nobody Wants to Die funciona?

Diferente de “Cyberpunk 2077“, que oferece um mundo aberto e vasto para exploração, Nobody Wants to Die aposta na linearidade. Aqui, vamos para cenários fixos de investigação, após uma tela de carregamento (muito rápida, por sinal), onde o protagonista narra alguns dos acontecimentos e suas opiniões sobre o destino da humanidade.

Durante a investigação na cena do crime, temos à disposição três dispositivos: um reconstrutor temporal, um detector de raio-x e uma lâmpada UV. Cada um dos dispositivos tem sua importância nas cenas.

O reconstrutor é uma ferramenta que permite a James manipular o tempo para ver eventos em um curto período. O raio-x nos permite ver rastros além da superfície, bem como identificar danos nos corpos. Já a lâmpada UV é usada para seguir vestígios de sangue e substâncias desconhecidas.

Montar as evidências com as provas recolhidas é extremamente intuitivo. Basicamente, temos que ir combinando as pistas das provas recolhidas, em uma espécie de diagrama. Quando a combinação for positiva, abrirá uma nova pista. Ao fim de todas as combinações, obteremos uma conclusão da análise para seguir em frente com a investigação.

Como mencionei anteriormente, Nobody Wants to Die é curto, com um total de três investigações para montar as evidências. Entretanto, o jogo oferece um fator replay, pois possui dois finais: um “bom” e o outro “ruim”, onde suas escolhas ao longo do jogo moldam qual final você obterá.

Graficamente lindo para um não AAA

Nobody Wants to Die apresenta belos gráficos. Embora não sejam tão bonitos quanto os de grandes títulos com investimentos milionários, o jogo não deixa nada a desejar. Os efeitos de iluminação e a riqueza nos detalhes dos cenários e do universo ao redor são de tirar o chapéu para uma equipe pequena.

Um ponto negativo é o design dos personagens, onde claramente podemos perceber a limitação do estúdio. As expressões faciais são simples e ultrapassadas, mesmo que não seja o foco aqui, ainda mais por ser uma visão em primeira pessoa.

Além dos gráficos, o jogo conta com uma ótima trilha sonora, que se encaixa nos momentos de investigação e nas cinemáticas. Com toques instrumentais, lembrando bastante jazz, percebemos o comprometimento do estúdio em entregar uma experiência completa e fidedigna.

Vale destacar que Nobody Wants to Die possui legendas em português do Brasil, e o trabalho de dublagem original em inglês é impecável. As vozes de todos os personagens que interagimos combinam muito bem e demonstram naturalidade em todos os diálogos.

Quanto ao desempenho, não tive nenhum problema que atrapalhasse o jogo do início ao fim. Houve, em determinados momentos, bugs nas legendas, com elas não sendo traduzidas, mas nada complexo que futuras atualizações não possam corrigir.

Nobody Wants to Die vale a pena para qualquer fã do gênero

De longe, Nobody Wants to Die é uma das boas surpresas deste ano até aqui, principalmente pelo fato de não ser um grande AAA com um investimento milionário em seu desenvolvimento. O jogo consegue entregar uma boa qualidade gráfica e um protagonista carismático.

Com uma equipe de 40 pessoas, o jogo oferece uma ótima narrativa e fator replay interessante, baseado nas escolhas feitas ao longo da história. Além disso, Nobody Wants to Die é uma ótima pedida para qualquer fã do gênero noir e elementos cyberpunk, lembrando bastante “Altered Carbon“.

Com momentos reflexivos e ideias que nos fazem questionar que, independente da época, a desigualdade social sempre será um problema na humanidade. Pobres explorados, pagando muitos impostos e vivendo na miséria, enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos, sem se preocupar com os rumos que a sociedade toma.

Nobody Wants to Die está disponível para PlayStation 5, Xbox Series e PC via Steam, custando cerca de R$ 120 nas plataformas, um valor bem abaixo do que estamos tradicionalmente acostumados.

Outras reviews:

Amante de Games desde criança e viciado em caçar platinas. Profissional de TI nas horas vagas. Você me encontra no X: @gennerdouglas