Review | Suikoden I & II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars: o retorno de um dos melhores JRPGs

Suikoden I & II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars (sim o nome é gigante assim) não é um HD-2D como o Remake de Dragon Quest III, aqui o jogo em essência não mudou muito, temos uma melhoria na qualidade de vida e uma geral nas huds dos jogos para melhorar a apresentação visual deles, mas não é um remake total de Suikoden, eles inclusive usam as mesmas sprites dos jogos de PS1, que envelheceram maravilhosamente bem.

Suikoden é pra mim, uma das melhores franquias de JRPGs de todos os tempos, criado pelo lendário Yoshitaka Murayama que infelizmente veio a falecer em fevereiro de 2024 – pouco tempo antes de seu último jogo – Eiyuden Chronicles vir a lançar. Suikoden conquistou seu espaço pelos amantes de JRPGs na época do PlayStation 1 e 2, e podem ter certeza que quem jogou, foi totalmente conquistado pelo o que o jogo apresentava para nós.

A Margem da Guerra

Ele não tem o sucesso e popularidade que vemos em Final Fantasy ou Shin Megami Tensei, mas Suikoden estava lá, junto aos maiores caminhando sutilmente e entregando tudo com um dos melhores conceitos possíveis – ter uma história com o foco em uma guerra onde você precisa recrutar 108 guerreiros pelo mundo, aumentar a força de seu exército e assim fazer o mundo mudar o seu rumo no meio dessas guerras, fortemente baseado no clássico da literatura chinesa – Margem da Água, onde acompanhamos um grupo de 108 foras da lei que se preparam para campanhas de guerra.

Suikoden bebe dessa fonte sem medo e faz suas próprias histórias com diversas raças, uma mitologia e história de mundo interessantíssima e muito bem pensada, o uso de magias poderosíssimas (as Runes) que podem ditar o curso do mundo inteiro, e etc.

O protagonista dos jogos quase sempre vai ser encarregado de portar uma das 27 True Runes – runas criadas a partir de uma antiga guerra das runas primordiais A espada e o Escudo, onde elas definiram as regras do mundo seja por criar a natureza, criar o sol, a lua, e as estrelas, ou seja por criar o conceito de morte perante a vida. Suikoden tem um lore e conceito de mundo bastante bem pensados, e nossos protagonistas silenciosos se encontram no meio de acontecimentos gigantescos que destroem ou mudam totalmente suas vidas, mostrando de forma bem madura a crueldade das guerras e o quanto isso afeta as vidas das pessoas, de dentro e fora dela.

Suikoden I em termos de enredo não é um jogo lá muito profundo, ele mostra claramente que é só um pontapé inicial de ideias bem mais ambiciosas, então nele temos um enredo mais direto e mais tímido. Aqui seguimos a jornada de McDohl o filho silencioso (que é nomeado por você, mas seu nome oficial é Tir) de um dos cinco grandes generais do Império da Lua Escarlate – Teo McDohl, que no dia de sua promoção ao se adentrar no grande exército, se envolve em uma jornada que define seu destino para sempre. Tir descobre que o exército está sob o comando de uma poderosa feiticeira chamada Windy, que busca o poder da Runa devoradora de almas, e ela quebra totalmente o Império para alcançar seus objetivos.

No meio desses acontecimentos, Tir recebe a runa de um de seus amigos – Ted, que a guardava em segredo e segurança por 300 anos. A runa é extremamente perigosa e se cair em mãos erradas, é bem capaz de transformar o portador dela em um tipo de ceifador de almas, é no meio dessa loucura que nos tornamos rebelde, e junto com o grupo de protetores de Tir – Gremio, Cleo e Pahn, nos unimos ao Exército da Libertação.

Agora temos o objetivo de formar um exército forte o suficiente para parar o Império – é aí que o conceito de unir 108 personagens entra em jogo.

Já Suikoden II é sem dúvidas o Magnum Opus de Murayama. Enquanto Suikoden I nos introduziu aos conceitos do jogo e ao seu mundo, Suikoden II já aperfeiçoou tudo o que ele tinha colocado na mesa, seja por gameplay ou seja por enredo, gráficos e etc.

Em Suikoden II nós acompanhamos a jornada de Riou e seu amigo de infância Jowy, que são surpreendidos por um ataque na brigada de jovens soldados, arquitetado pelo próprio exército que eles fazem parte para que assim, eles possam jogar a culpa da crueldade no exército inimigo e continuar a campanha de guerra, quebrando o acordo de paz que eles haviam feito.

Riou e Jowy sobrevivem ao ataque por sorte e prometem que vão se encontrar no topo da colina, caso eles se separem ou se percam, e esse é o pontapé de suas jornadas, que vai se mostrar cheia de desafios e reviravoltas, e nunca te deixa entediado.

Suikoden II apresenta um dos melhores enredos que eu já vi em jogos. Extremamente bem pensado e muito bem escrito, tem nuances pra todo lado e se aprofunda bem mais nos seus personagens que o seu antecessor, o conflito aqui ainda é importante, mas a sua escala é menor e é bem mais pessoal que a guerra das Runas no primeiro jogo, esse jogo faz drama de uma das formas que eu raramente vejo ainda em jogos da atualidade.

Enfim, falei muito e muito sobre a pegada desses jogos, mas como está esse remaster??? Bem, eu posso dizer com confiança que é uma ótima forma de se jogar esses dois clássicos.

A Runa da Remasterização

Como eu disse no comecinho do texto, não temos um remake HD-2D como muitos, mas temos uma geral nos backgrounds, nos efeitos de ataques e partículas nos cenários, aqui as sprites e o “corpo” do jogo continuam o mesmo que eram antes, mas com esses adicionais dos visuais que fazem uma boa diferença, e os desenvolvedores encontraram um ótimo meio termo onde nos visuais.

Alguns cenários são um deslumbre de se olhar, e outros infelizmente parecem baratos demais, sem muito detalhe e às vezes se perdem um pouco com as sprites antigas. Mas ainda assim o saldo continua bastante positivo, e Suikoden II sem dúvidas brilhou mais no visual já que alguns aspectos visuais mais datados do 1 fizeram com que o background parecesse mais baratos e mal feitos que outros, mas ainda assim, nada tão crucial e que estrague a experiência toda.

O mapa do mundo também é um misto de bonito e esquisito, é muito bom ver modelos 3Ds para as pequenas cidades no overworld do jogo, mas a perspectiva e o detalhe de algumas coisas é um pouco esquisito de se olhar, mas ainda assim, muito bom.

Já na qualidade de vida, fizeram os remasters baseados nas versões de PSP (que saíram apenas no Japão) onde ela já trazia melhorias na qualidade de vida, arrumando bugs e adicionando coisas como a possibilidade do protagonista de Suikoden 1 correr (sim, ele não corria na versão de PlayStation 1!) E a possibilidade de andar nas diagonais também, adicionando sprites diagonais para os dois protagonistas.

Aqui no remaster, temos melhorias nos menus visualmente e na forma de navegar por eles, podemos trocar de itens com mais facilidade entre os personagens, temos melhorias na forma de ordenar as runas, um log de diálogos, onde podemos pinnar um dialogo importante para caso a gente precise se recordar de alguma coisa, entre outros.

Suikoden I deu uma melhorada bem maneira já que ele era o mais difícil de lidar de todos eles. Em combate ganhamos poucas melhorias, agora temos a opção de poder acelerar a luta para que acabem mais rapidamente, e para que a gente não perca muito tempo em batalhas aleatórias. É uma melhoria básica, e sempre bem vinda, mas que infelizmente acelera também a trilha sonora da batalha, e essa foi uma grande bola fora, já que a trilha sonora é maravilhosa, mas eu reconheço o valor cômico que isso tem.

Ainda falando em som, esse remaster tem novos sons adicionados para aumentar a experiência e imersão no mundo do jogo, temos mais efeitos sonoros nos passos, novos efeitos sonoros em ataques, e o melhor de tudo, os efeitos sonoros característicos de Suikoden continuam aqui, então não foi uma substituição completa, um complementa o outro, e ainda bem que esse foi o caminho que eles seguiram, pois os efeitos sonoros de menu de Sukoden fazem muito pelo charme dele.

Outra coisa a pontuar é que a trilha sonora está em ótima qualidade mas não mudaram ela em quase nada, e eu agradeço aos céus por isso. Suikoden tem uma trilha sonora composta pela lendária Miki Higashino, que depois de ter feito a trilha sonora dos dois jogos, decidiu se aposentar de compor para videogames, mesmo que ela tenha voltado para um ou outro jogo no futuro (ela inclusive voltou para fazer novas músicas para as DLCs de Eiyuden Chronicles), a trilha sonora dela é espetacular, e fez até mesmo o lendário Nobuo Uematsu sentir um pingo de inveja, em um relato, ele diz que quando jogou Suikoden e ouviu sua trilha sonora, não conseguia acreditar que era possível colocar músicas com uma qualidade tão alta no PlayStation 1, e isso incentivou ele a querer melhorar ainda mais.

Miki também foi responsável pela trilha sonora explosiva de Gradius, a mulher é simplesmente uma das melhores compositoras que já passaram por videogames.

Vale pontuar também que a arte de Suikoden I foi refeita do 0 pela própria Junko Kawano, responsável pela arte original de Suikoden I e que recentemente voltou como character designer em Eiyuden Chronicles, aqui ela deu uma atualizada na sua arte dos anos 90, provavelmente com o objetivo de modernizar mais Suikoden I.

A arte dela continua excelente, e os portraits novos são ótimos, mas ainda assim, eu sinto um pouco de falta da arte característica dos anos 90 que o primeiro jogo tinha, Suikoden II não teve o mesmo tratamento, ele continua com os retratos da versão original, só que agora os detalhes e a resolução aumentada delas deixa tudo bem mais evidente, é uma mudança grande em si.

De adicional no gameplay, temos um Hard Mode para os mais veteranos, Suikoden não é uma franquia muito desafiadora, os jogos tem seus momentos, mas nada que te tire muito fora da caixinha, o Hard Mode é para essa galera que já vem jogando o jogo a muito tempo, e buscam um desafio novo.

Contudo, infelizmente não tivemos aqui algum conteúdo da versão de Sega Saturn e alguns conteúdos cortados de última hora restaurados, não que eles façam falta, mas seria bom ter um adicional para quem já revirou esse jogo de todas as formas, o que temos de novidade aqui é uma galeria com arte, música e com cutscenes pivotais dos dois jogos, infelizmente eles não incluíram na coleção o Suikogaiden – que são dois visuais novels lançados apenas no Japão que enriquecem ainda mais a narrativa dos dois jogos, eu ficaria extremamente feliz se esses conteúdos fossem localizados, mas por enquanto fica apenas no desejo.

Mas uma melhoria muito boa que eles adicionaram foi a possibilidade de parar o timer in-game, para quem não sabe, uma das quests mais interessantes de Suikoden II requer que o jogador faça praticamente um speedrun para completá-la, o que infelizmente faz uma galera não aproveitar tudo que o jogo tem a oferecer, e a quest ficava sempre incompleta para muitos, parando o timer do jogo, agora podemos completar a quest do Clive sem nos preocuparmos.

Esse foi um dos muitos feedbacks que os desenvolvedores tiveram durante esse período até o lançamento dele, então eles sem dúvidas deram ouvidos aos fãs, e quem sabe outras melhorias podem surgir no futuro, talvez até mais conteúdo…

Eu testei tanto a versão de PS5 quanto a de PS4, a diferença era pouca, mas obviamente temos mudanças no framerate e na resolução, o PS5 roda os jogos em 4K e a 60fps, enquanto o PS4 é um 1080p a 30fps cravados, e que não é uma grande diferença, ainda continua excelente jogar no PS4, só tem diferença nessa fluidez mesmo, e eu imagino que a versão de Nintendo Switch e Xbox One estejam parecidos com essa versão de PS4.

Se tem algo para eu criticar negativamente é que não temos convenções de jogos modernos como por exemplo: Markers para mostrar onde ir (inclusive, é bem fácil perder os 108 personagens por conta da falta de informação que temos) o personagem só corre segurando um botão junto; o menu poderia ter melhorias que trouxeram em futuros jogos da franquia; o autosave (pelo menos aqui) só funciona quando eu estou próximo de um save padrão, o que não faz sentido algum, mas não sei se ele funciona assim mesmo de propósito, ou se eu estou fazendo algo errado.

Conclusões Finais

Suikoden I & II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars é um remaster que apesar de colocar melhorias bem vindas, ainda se mantém muito retrô – para o seu bem ou pro mal.

Não temos convenções de jogos modernos mas ainda assim, esses jogos são ótimos de se jogar, o que mostra o quanto Suikoden I e II envelheceram bem não só no aspecto de gameplay, como no aspecto visual também, as sprites e o visual em geral envelheceram como vinho, ainda mais em comparação a vários jogos da época que se jogaram na moda do 3D poligonal, mas que hoje em dia são bem mais dificeis de tragar (apesar de ter um charme muito único).

Temos aqui pontos a desejar como a falta de conteúdo novo além do Hard Mode, e eu repito que se tivéssemos Suikogaiden nesse remaster, ia ser um presente e tanto para os fãs de longa data, e hoje em dia o público ocidental é mais aberto com o aspecto de Visual Novel, então é um risco que a Konami poderia ter tido aí. A Square colocou com o último relançamento de Chrono Cross, o jogo meio Visual Novel Radical Dreamers – que estava preso na plataforma Satellaview. Eles traduziram tudo e ainda colocaram uma margem pro futuro da série, caso Chrono volte algum dia. É esse tipo de coisa que eu acho que faltou aí, mas sinceramente, tudo bem só ter o jogo, eles são suficientes.

Como eu já disse em outras oportunidades, a Konami apesar de estar jogando seguro com os jogos que ela tem lançado, está em seu melhor momento em muito tempo, e ela apostar alto em Suikoden é uma surpresa grande, no dia 03/03 tivemos uma live onde eles colocaram em jogo os planos futuros para Suikoden, além desses remasters vamos ter um jogo mobile (infelizmente) que tem um aspecto visual muito parecido com Eiyuden Chronicles, e vamos ter um anime de Suikoden II, que vai ser produzido pela própria Konami.

Esses são planos inesperados para a franquia, a Konami viu que esses jogos tem sim uma boa demanda, e decidiu tentar alavancar Suikoden novamente, e bem, eu posso dizer que eles começaram muito bem, trazendo dois dos melhores jogos da franquia, e isso com certeza pode influenciar se vamos ter uma coletâneas dos jogos do 3 ao 5, ou se vamos ter um jogo novo para com um tratamento de jogo de porte grande, agora só o tempo dirá, mas é uma felicidade imensa ter Suikoden de volta, e eu espero que a Capcom faça algo parecido com Breath of Fire, que é uma franquia fantástica que está enterrada a um bom tempo.

Foi um prazer gigantesco poder escrever sobre esses dois jogos fantásticos, e é uma felicidade imensa ter eles com uma boa acessibilidade de compras assim. E peço desculpas pela falta de variedade de imagens de Suikoden II, gastei uma cota de tempo no primeiro jogo que quase não tirei fotos do segundo!

Suikoden I & II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series S/X, Nintendo Switch e PC.

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Escritor Freelancer, tenho como paixão primária em videogames e principalmente em JRPGs, apesar de amar cultura pop em geral.