Review | The Outer Worlds 2: Crise, caos e corporativismo cósmico

Quando vi o primeiro trailer de The Outer Worlds 2, rapidamente me veio à cabeça: “eu preciso jogar esse jogo!”. Após uma longa e agoniante espera, finalmente pude me aventurar de novo neste mundo magnífico criado pela Obsidian Entertainment. Tive a mesma sensação de sátira corporativa em meio ao caos que me pegava no original, mas com uma ambição técnica visivelmente maior.

O jogo foi lançado no dia 29 de outubro e chegou como o grande RPG da desenvolvedora para 2025: mais ousado no combate e mais ambicioso em escala do que seu antecessor.

Entre Balas, Diálogos e Decisões Duvidosas

Minha primeira impressão prática foi clara: o combate evoluiu demais. A movimentação e o sistema de tiro estão mais sólidos e responsivos, tirando aquela sensação um pouco “mole” do primeiro jogo que me incomodava. Finalmente senti um peso maior nas armas, e cada troca de tiros parecia uma dança mais tática, o que é ótimo para um RPG de tiro.

Essa evolução abriu espaço para builds realmente variadas. O sistema de Defeitos agora tem uma influência mais interessante, forçando escolhas de gameplay que mudaram a forma como encaro as missões. As habilidades e diálogos continuam fundamentais, criando cenários bem interessantes e hilários.

Contudo mesmo com a complexidade, algumas missões acabam caindo em repetição. Entretanto, a sensação geral é de um RPG que sabe o que quer: dar ao jogador a liberdade de ser quem quiser, no meio de um turbilhão de escolhas morais e duvidosas.

Crie seu destino…ou um Frankenstein espacial

Historico

O histórico não determina sua experiência 100%, mas enriquece a jornada. Cada escolha desbloqueia novas opções de diálogo, permitindo que você resolva certos dilemas com mais facilidade ou um toque pessoal. É o seu “eu” pré-existente encontrando um novo propósito.

Com tantos personagens, missões e árvores de diálogo, é impossível dizer qual histórico é o “melhor” em termos de eficácia pura. A beleza está na liberdade: muitas vezes tive o diálogo do meu histórico, mas escolhi uma opção mais interessante ou que fosse causar o puro caos, apenas por curiosidade.

Sinta-se completamente à vontade para escolher a opção que melhor se encaixa na fantasia do seu personagem.

Características positivas

As características positivas são onde você define o caminho da sua build e as interações únicas que terá no mundo. Elas vão muito além de meros bônus estatísticos, adicionando novas camadas em missões e com seus companheiros. Eu senti que elas realmente mudavam as opções.

Robustez , por exemplo, permite que você derrube inimigos ao correr e abra portas quebradas sem gastar pontos de Engenharia ; uma mão na roda. Já a Genialidade é excelente para quem quer se especializar rapidamente, começando com habilidades já no nível dois.

Para quem prefere suporte, Heroísmo diminui o cooldown dos companheiros é útil, embora menos essencial. Inovação é otima com ela você pode criar/craftar o dobro de itens pela mesma quantidade de materiais, facilitando a escassez de munições a longo prazo, embora o jogo já forneça bastante. Agilidade e Lábia abrem caminhos para builds furtivas ou descontos em lojas.

Características negativas (defeitos)

As características negativas (defeitos) oferecem um risco/recompensa delicioso. Por mais desafiadoras que sejam, tornam o jogo mais divertido e, muitas vezes, são contornáveis. O Tolo, por exemplo, força o bloqueio permanente de cinco habilidades, gerando interações hilárias pela pura burrice do personagem.

A Agressividade parece a escolha mais prejudicial, pois anula a progressão de reputação, impedindo o avanço nos relacionamentos cruciais com as facções. Em contraste, a Saúde Frágil é mais tolerável; embora diminua vida e cura, ela pode ser mitigada e contornada a longo prazo por meio de itens e da habilidade Medicina.

A primeira afeta uma mecânica central permanentemente, enquanto a segunda impõe uma desvantagem gerenciável.

Habilidades

As habilidades são autoexplicativas, mas o que brilha é a sua versatilidade no gameplay. Não ter hackeamento não me parou; eu sempre encontrei uma passagem alternativa ou uma forma explosiva de resolver o problema, como explodir uma porta trancada ou utilizar a habilidade arrombamento o que é bem satisfatório.

Há talentos que quebram o molde: Engenharia pode aumentar o dano da minha arma, ou um ponto em arrombamento que proporciona o talento de roubar. O balanceamento é muito bom, incentivando a criação de personagens secundários para testar os mais de 90 talentos disponíveis.

Defeitos adquiridos durante a gameplay

O momento que um Defeito aparece na tela “do nada” é tenso, e você precisa ler com muita atenção. Eles podem sabotar seu personagem se você aceitá-los sem pensar no seu objetivo ou build. No meu caso, o jogo me ofereceu a Traiçoeiro, que diminui a vida em 25% mas aumenta o dano de ataque surpresa em 100%. Como estava focado em uma build furtiva, aceitei na hora.

A Arte do Espaço

A direção de arte entrega o aclamado tom sci-fi sujo e decadente da série, o qual é perfeitamente materializado em cenários espaciais vastos e detalhados. Cada planeta e estação possui uma identidade visual única e marcante, transformando a exploração em uma jornada que merece todos os aplausos.

Contudo, essa excelência visual é ocasionalmente ofuscada por problemas de desempenho. Em determinados momentos, a experiência de jogo sofre com quedas perceptíveis de frame rate que interrompem a imersão. A lentidão no carregamento de texturas também se soma aos tropeços técnicos, além da frustração de missões que, até o momento desta análise, estão incompletas devido a bugs.

Entre a Sátira e o Abismo: Onde a Verdade é Apenas Mais um Slogan

A narrativa de The Outer Worlds 2 consegue manter o humor ácido característico da série, introduzindo uma variação de tom bem-vinda que enriquece a experiência, pois o jogo não hesita em ser mais sério e sombrio em momentos cruciais, explorando a fundo o peso da dominação e exploração corporativa em Arcádia.

A imersão, para nós, público brasileiro, é garantida, já que o título da Obsidian conta com legendas totalmente localizadas em português brasileiro (PT-BR), facilitando a compreensão de seus diálogos complexos e referências satíricas.

A liberdade de progressão de missões é um dos grandes destaques do título, com a Obsidian priorizando o lema “jogue do seu jeito”. Os jogadores são apresentados a múltiplas opções para concluir objetivos ou conseguir informações vitais, que vão desde o diálogo baseado em skills (como Persuasão e Intimidação), até o uso de Hacking e Lockpicking para abrir rotas alternativas.

Apesar do ótimo início, a narrativa principal perde um pouco o ímpeto no ato final, deixando temas políticos e morais promissores sem o fechamento impactante que mereciam. Embora as escolhas morais sejam frequentes e interessantes no decorrer da jornada, o impacto narrativo em algumas decisões importantes nem sempre atinge o ápice esperado.

Tripulação de personalidade, mas vilões com menos carisma

Os companheiros são um dos destaques do jogo. Eles possuem personalidades notavelmente fortes, diálogos afiados e repletos de humor, e proporcionam momentos que são genuinamente emocionantes e divertidos. O que realmente impressiona é a densidade narrativa em torno de cada um, garantindo que eles se desenvolvam de forma consistente com suas crenças.

O desenvolvimento do relacionamento com os companheiros cresce de maneira profundamente orgânica ao longo da jornada, refletindo ativamente suas escolhas e aprofundando o apego emocional. Além disso, as missões pessoais de cada membro da tripulação são excelentes, oferecendo narrativas ricas que exploram suas histórias e dilemas morais no universo corporativo de Arcádia.

A decepção na seção de narrativa fica, infelizmente, por conta de alguns antagonistas principais, que soaram menos ameaçadores e memoráveis do que eu esperava. Senti uma falta notável de um grande vilão que tivesse a presença e o carisma que marcaram o primeiro jogo da franquia, mas os ótimos personagens secundários e, principalmente, a brilhante profundidade dos companheiros salvaram a experiência.

Trilhas, tiros e tons de ironia

A trilha sonora é um ponto alto, trabalhando em perfeita sincronia com o tom de cada ambiente, elevando significativamente a imersão na jornada. Há momentos contemplativos, embalados por melodias que convidam o jogador a pausar e absorver a vastidão cênica. Em contraste, as sequências de combate são pontuadas por trilhas que aumentam a tensão e a adrenalina no timing exato, reforçando o impacto das batalhas.

Complementando a trilha, o game apresenta sua própria rádio interna, um elemento crucial para o construção do mundo de Arcadia. Essa rádio não serve apenas como fonte de canções satíricas e jingles corporativos que ironizam o sistema, mas também possui uma função narrativa. É através dela que o jogador recebe alertas importantes, incluindo pedidos de socorro que se desdobram em missões secundárias.

Embora em geral bem dirigidos, ocasionalmente enfrentam problemas isolados de bugs de mixagem. Ocorrem sobreposições abruptas de diálogos ou cortes de áudio bruscos que chegam a quebrar a imersão de maneira desagradável. Essa é uma falha técnica irritante que precisa de uma rápida correção por parte da Obsidian para garantir uma excelente experiência narrativa e sonora.

A galáxia em crise

O lançamento de The Outer Worlds 2 não veio sem as temidas arestas técnicas. Durante minha jogatina, enfrentei alguns problemas, incluindo dois crashes que resultaram na perda de progresso significativo me fazendo reiniciar algumas missões.

Além disso como mencionei antes, a experiência foi marcada por falhas de renderização, com texturas que demoravam a carregar, e missões primárias e secundárias que ficaram bugadas, impedindo-me de concluí-las. Essa experiência irregular é, infelizmente, um fator que momentaneamente ofusca os momentos brilhantes do RPG.

No entanto, a Obsidian Entertainment tem demonstrado estar ouvindo atentamente a comunidade de jogadores. A prova disso é o lançamento ágil de patches de correção, visando eliminar os problemas relatados pela comunidade,

The Outer Worlds 2 vale a pena?

Após tantas horas em The Outer Worlds 2, saio dividido – em muitos momentos, ele é o RPG que eu mais desejei, elevando o padrão de seu antecessor com um combate mais afiado e um sistema de escolhas que realmente impacta a narrativa e o destino das facções de Arcádia.

A obsidian acerta no tom do humor ácido e na construção de personagens cativantes, garantindo que a jornada seja repleta de diálogos memoráveis e reviravoltas no melhor estilo Fallout: New Vegas. Para quem busca um RPG denso com forte foco em roleplaying e personalização, a fundação está sólida e altamente divertida.

Contudo, seu design de missões por vezes se revela irregular e até com fins abruptos, acompanhado de bugs e falhas técnicas que ocasionalmente quebram a imersão. A narrativa principal, apesar de um começo intrigante, perde força em seus arcos finais, deixando a sensação de que alguns dos sistemas de facções poderiam ter sido explorados com mais profundidade e consequências.

Para os assinantes do Game Pass, é obrigatório testar; para quem pensa em comprar, vale ponderar a tolerância a essa instabilidade inicial. A obsidian já confirmou que The Outer Worlds 2 receberá duas grandes expansões de história, disponíveis separadamente, via season pass ou na edição ultimate.

Elas trarão novos planetas, missões e um level cap ampliado, estendendo a jornada para quem quiser mais. No fim, The Outer Worlds 2 é um RPG ambicioso — imperfeito, mas repleto de conteúdo envolvente e momentos memoráveis.

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Gamer apaixonado | Viciado em boas histórias | Explorador de mundos. Entre batalhas épicas, reviravoltas de tirar o fôlego e mundos fascinantes, estou sempre em busca da próxima grande aventura.