Trails in the Sky 1st Chapter Review
Colagem | Conecta Geek

Review | Trails in the Sky 1st Chapter é um remake rico, belíssimo, e um dos melhores jogos do ano

Lançado setembro, Trails in the Sky – 1st Chapter é um remake do primeiro título da série Trails (ou Kiseki como é conhecido no Japão), e aqui temos o início de uma trilogia de jogos bastante marcantes do gênero JRPG.

Desenvolvido pela Nihon Falcom desde os seus primórdios, e distribuído pela GungHo Online Entertainement, esse remake traz a proposta de se reintroduzir a uma gama de novos jogadores, ser menos confuso em sua ordem de lançamentos, e também ser acessível para os fãs da série que não tiveram a oportunidade de jogar o primeiro jogo da série.

O remake aqui traz uma proposta de reimaginar os visuais do primeiro jogo, introduzir uma série de melhorias em suas mecânicas mais complexas e desajustadas, e também trazer novidades junto as melhorias já introduzidas no decorrer da série.

E, sim, eles fazem isso magistralmente.

Enredo bastante intrigante, mundo cativante e um ótimo elenco

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Na trama de Trails, acompanhamos o arco de Estelle e Joshua Bright. Estelle é uma “tomboy” cheia de energia e bastante agressiva, e Joshua por sua vez é um filho adotivo do pai de Estelle – Cassius Bright, que resgatou um Joshua ferido e decidiu adota-lo. Em personalidade, ele é o oposto de Estelle, é um jovem mais calmo, misterioso (inclusive o seu passado) e age com cautela, e suas personalidades refletem bem em suas armas de escolha, ela utiliza um bastão, e ele utiliza duas adagas, uma arma mais pesada em comparação a duas armas mais leves, porém letais.

Os dois jovens vivem no reino de Liberl, e estão em um treinamento para se tornarem Bracers – uma guilda que tem o objetivo de ajudar civis e manterem a paz em diferentes cantos do mundo, basicamente uns faz-tudo desse mundo, se você precisa de uma ajuda para encontrar seu gato perdido, é só postar uma quest na guilda que eles vão te ajudar! É uma desculpa rápida, mas muito boa de envolver os jogadores em diferentes situações desse mundo.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Estelle e Joshua concluem seu treinamento, e um dia depois, Cassius sai em uma missão misteriosa, e enquanto ambos estão realizando missões, Cassius some junto do transporte em que ele estava, e é aí então que os jovens se aventuram pelo mundo com outro membro da guilda, a Scherazard uma mulher com personalidade forte e mentora da dupla, que utiliza um chicote de arma principal.

Ao longo da jornada somos introduzidos a uma série de personagens intrigantes, além do trio já citado, temos Olivier – que é um bardo e que usa uma pistola de arma principal, além de ser um dos personagens mais carismáticos do jogo; Agate – que é um bruto e usa um espadão de arma principal; Kloe – que é uma estudante prestigiada e usa uma rapiera de arma principal; Tita que é cientista de orbment (já explico isso) e usa uma espécie de lança granada, e por ultimo temos Zin, que é um bracer veterano e mulherengo, que prefere sair na porrada ao invés de usar armas.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

O cast é bastante diverso nos personagens e tem um número bem grande deles, bem típico de um JRPG da velha guarda, onde os nossos protagonistas viajam pelo mundo e vão conhecendo pessoas com interesses peculiares, que se unem por uma causa própria, mas os objetivos se interligam entre eles.

O mundo de Trails é bastante rico, tanto visualmente quanto nos conceitos, ele tem uma pegada de fantasia medieval que já vimos em vários lugares, mas ainda assim ele tem bastante coisa que o faz ser único e te deixa imersivo dentro dele, algo que sinceramente, JRPGs em maioria são muito bons de fazer.

Orbment é mais ou menos como a magia desse mundo funciona, e tem bastante lore e contexto histórico dentro do mundo a respeito do uso deles. Após uma revolução, eles passaram a ser utilizados como parte integral do dia a dia de cada pessoa comum, então eles iluminam cidades, são utilizados em armas, são utilizados como combustível de veículos como airships, entre outras coisas, então o jogo tem em vários locais um aspecto um tanto steampunk (ou poderíamos chamar isso de magicpunk?) pelo uso mais industrial desse recurso, (e claro que utilizam isso no gameplay do jogo também), mas nada que saia tanto da vibe mágica do mundo.

Fonte: Crimsom Tear

Outro ponto que enriquece e MUITO o mundo de Trails são seus NPCs, que possuem tanto, mas tanto diálogos diferentes que é quase um absurdo pensar no tempo que demoraram para realizarem essa faceta.

Grandes partes dos NPCs são únicos e possuem nomes e aparências próprias, e eles tem um dialogo a cada acontecimento diferente no mundo, seja sobre ocorridos especiais (como a partida dos pais dos irmãos Bright por exemplo) ou simplesmente um dialogo diferente a cada mudança de tempo do jogo (que é linear de acordo com a progressão do jogo), isso nos trás eventos únicos e side quests inusitadas vindo deles, e com certeza pode fazer o jogador perder muito tempo… tempo até demais.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Eles sempre vão ter um balão de dialogo acima de suas cabeças, e essa é uma melhoria e tanto do primeiro jogo, onde você não tinha um indicador para saber se eles têm diálogos novos, e ao esgotar os seus diálogos, o indicador fica escuro, indicando que o NPC não tem mais nada a dizer. Uma boa melhoria, mas que podia ser ainda melhor, pois (quase sempre) os NPCs tem apenas um dialogo, e o próximo dialogo é apenas uma repetição resumida do que ele já disse, o que acaba sendo um pouco frustrante na hora de zerar esses diálogos.

Esse é um dos motivos de Trails ser bem cultuado. O mundo dele é bastante vivo e o jogo busca isso ativamente, mesmo ele não sendo um mundo aberto massivo, ele é quase equiparável a um visual novel com o número de diálogos e conversas que temos entre os personagens.

Jogabilidade absurdamente criativa no gênero

Fonte: Gematsu

Vou começar falando da exploração e o mapa de Trails, que aqui é um padrão bem simples de JRPGs, onde temos as cidades principais do jogo, dungeons que tem layouts mais complexos, e as “plain fields” onde temos muitos campos, matos e monstros para enfrentarmos. E as áreas tem uma certa divisão de loadings, apesar do jogo ser bastante conectado e aberto em comparação a outros JRPGs.

Agora, a magia de Trails brilha nos seus sistemas de combate, que são bastante complexos e dinâmicos, e extremamente satisfatórios e criativos.

Para começar não somos teleportados para cenários diferentes ao engajarmos com os inimigos, aqui tudo acontece em tempo real, e o jogo tem um tipo de combate que transiciona entre combate típicos de Action RPGs, e combates de turno, vale citar que a série experimenta esse tipo de combate desde o Trails in the Sky original, onde o jogo tinha uma espécie de mistura de JRPG Tático como “Final Fantasy Tactics”, e RPG de turnos padrão.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Pois bem, no mapa podemos engajar nos inimigos dando porrada em tempo real neles, e até mesmo vencer as lutas nesse modo, com ataques comuns, ataques especiais e uso de esquivas para escaparmos dos ataques dos inimigos, mas tudo isso tem um propósito único, onde ao engajarmos com os inimigos nesse estado, podemos deixa-los fracos e entrar na batalha de verdade, que seria a nossa batalha de turnos, deixando os inimigos atordoados temos a vantagem de começar os turnos, e o contrário também é possível, se os inimigos te atordoarem, eles começam e podemos ganhar uma tremenda desvantagem nesse processo.

Entrando na batalha de turnos, temos uma gama de opções, temos um indicador de turnos que mostra o nosso momento de atacar, e junto deles também nos indica os buffs e vantagens que temos durante o combate.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Apesar de ser em turnos, temos a possibilidade de nos movimentar durante as escolhas de ações, então o posicionamento aqui é extremamente importante, dependendo de onde você atacar o inimigo, você pode ganhar vantagens e buffs e também pode acertar mais de um inimigo dependendo do raio de alcance do ataque em que você estiver utilizando.

Posicionamento e a utilização de recursos é a chave de vários combates do jogo, além disso temos diversas vantagens, as opções são de um ataque normal que pode ser elevado a um critico se o personagem estiver com uma exclamação ao lado de seu ícone no indicador de turnos, e com um critico acertado, temos a opção de dar um follow-up, um ataque especial em cadeia que gasta uma barra especial que enche até o número 5, e um out-all attack, onde vários membros da equipe utilizam um ataque especial.

Fonte: Xbox Era

Além disso temos Craft, que são os ataques mais únicos de cada personagem, e eles utilizam da barra de CP, onde enchemos com ataques físicos ou a cada porrada que levamos dos inimigos, esses ataques são bastante poderosos e também cada um tem uma área de alcance diferente. Entre alguns ataques Crafts, temos também o especial que é utilizado a partir de 100 de CP, e eles acertam todos os inimigos ao redor.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

E por ultimo temos as Arts, que são as magias mais comuns do jogo, elas são elementais e variam de magias de ataques, cura, buffs e debuffs, e diferente dos ataques de Crafts, elas tem um tempo de concentração, que pode levar a mais de um turno para serem lançadas. Nesse tempo os inimigos podem te atacar e quebrar a concentração, então é importante também saber o momento certo de utiliza-las.

As Arts vem do sistema de Quartz do jogo, que é o sistema de costumização dessas mágias que tem origem dos Orbments. Aqui cada personagem tem uma espécie de relógio de bolso onde temos os diferentes métodos de uso das habilidades que eles propõem, a costumização dessas artes são bastante complexas e oferecem uma gama de possibilidades para os jogadores experimentarem, e é aqui que muito do gameplay do jogo brilha bastante.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

É tanta coisa para dizer sobre as mecânicas do jogo que eu fico até sem fôlego, o jogo é simplesmente mecanicamente muito rico.

Os menus do jogo são bastante dinâmicos nas formas que eles funcionam, dentro e fora do combate, a hud tem um dinâmismo excelente e uma apresentação visual muito bonita, que faz o uso das funções serem ainda mais satisfatórios.

Visual impactante e uma ótima tradução gráfica do jogo original

Fonte: CGMagazine

Trails in the Sky: The 1st Chapter usa uma engine in-house da própria Nihon Falcom chamada de Falcom Developer Kit (FDK), e vou dizer para vocês, é um absurdo o quanto essa engine é bem polida, e o quanto ela entrega no aspecto visual é surreal.

Trails tem de longe um dos visuais mais bonitos que eu vi esse ano, e apesar de não ser grande fã do estilo artistico dele por achar anime demais, ele entrega um dos visuais cel shades mais bonitos que eu já vi em um JRPG, e o que mais me impressionou foi na física e mobilidade dos personagens, algo que não me surpreende desde os Remakes de Final Fantasy VII.

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Aqui todo golpe tem um peso específico de acordo com os personagens em questão, e o impacto de cada golpe é de tirar o fôlego, e isso porque eu nem falei das animações dos ataques especiais, que são estupidamente bem coreografadas e bem animadas, do nível que se vê geralmente em jogos da Cyberconnect (Naruto Storm, Asura’s Wrath), e eu me deliciava com elas cada vez que eu utilizava.

O que é algo que já era muito bem feito no Trails original, os golpes originais dos personagens era bastante bem animados com as limitações que eles tinham na época, e dava para ver o talento da Falcom nessas áreas.

Segue uma comparação em vídeo dos ataques especiais do jogo original com o remake:

Já que citei o original, vou aproveitar o gancho e dizer que eles fizeram um trabalho mais que excelente na reimaginação dos cenários do jogo original, não só nos cenários mas nas cutscenes, o jogo original tinha uma animação naturalmente limitada pelos modelos chibis que eles utilizavam, e que apesar dos pesares, ainda tem um charme muito único e que ainda é muito fofo e bem feito levando em consideração a época em que ele foi feito.

Uma fofura

Pois bem, aqui as cenas são cutscenes mesmo, com bastante movimentação e cheia de impacto, o que ficava na imaginação do jogador, aqui temos pouco espaço para isso, mas no bom sentido, pois toda tradução do jogo original foi feita com bastante carinho, as cenas mais íntimas também tem jogos de câmera excelentes para complementar a direção do jogo.

No mais, quem era fã do original certamente não vai se decepcionar nesse quesito, os monstros também estão bem traduzidos, e o que era estranho naquela época, continua estranho aqui, carinho é o que não falta.

Mas sem dúvidas é um dos jogos que mais me surpreenderam no quesito técnico nesse ano, e uma otimização de dar inveja, o jogo tem apenas 11 GBs no PlayStation 5, entregando tudo e quase não ocupando espaço do armazenamento.

Carinho estupendo na trilha sonora e uma boa dublagem

A trilha sonora de Trails é composta por Hayato Sonoda e Wataru Ishibashi, e é um trabalho muito bom e bastante bonito, a trilha sonora em vilas, batalhas e outros cenários são extremamente marcantes e é um prato cheio para quem ama trilha sonora de jogos.

Fora que a trilha sonora também é bastante dinâmica nas batalhas, quando algum de seus personagens está perto de morrer por exemplo, ela fica mais desesperadora para o jogador sentir na pele o perigo que está passando, e serve até de alerta para o jogador tomar cuidado nas ações durante o combate.

Temos também uma dublagem em inglês e japonês, e ambas são muito boas, a dublagem em inglês conta com um cast de peso de dubladores, e todos eles se encaixam bem nos personagens, apesar de alguns ainda caírem no problema de várias dublagens de JRPGs e soarem um pouco esquisitos e robóticos demais, mas em geral, é um trabalho excelente nesse quesito.

Um grande adicional a trilha sonora também é que podemos escolher três tipos de música a Standard – que é o novo arranjo da trilha sonora do remake; Arranged – que é a música arranjada da trilha sonora do jogo original, e por fim a própria trilha sonora Original de Trails, e independente da sua escolha, todas elas são excelentes.

As novas músicas se atentam para manter a atmosfera do jogo original intacta, mas o número de instrumentos utilizados são bem maiores, e algumas composições são um pouco diferentes, e a trilha sonora original ainda tem muita força e charme, o que acabou sendo a minha escolha final, mas ponto para a Falcom por deixarem a opção aqui.

Os efeitos sonoros também são excelentes, e eles ainda manteram bastante os efeitos sonoros do jogo original intactos aqui, e eu fico deveras feliz com isso, um dos meus maiores contras no remake de Final Fantasy VII foi eles não terem mantido os efeitos de som do menu clássico do jogo, e os novos são bastante sem graça (fora das batalhas), então é ótimo ver que vários efeitos sonoros voltaram aqui, os sons dos menus e outras coisas sempre foi algo muito importante para manter uma identidade específica em diversos jogos, e isso não deveria ser esquecido em remakes.

Considerações finais

Trails in the Sky 1st Chapter | Nihon Falcom

Trails in the Sky 1st Chapter é o melhor JRPG que joguei esse ano, e olha que esse ano foi gigantesco para o gênero, ele acabou sendo uma grande surpresa para mim, e eu já estava bastante empolgado apenas com o seu anúncio, mas o jogo final ainda me surpreendeu bastante.

Um remake que respeita bastante o jogo original e ainda tenta fazer algo único para ele, sendo um jogo que se mostra também uma espécie de evolução na franquia, pegando elementos de jogos lançados posteriormente a ele e implementando no remake do primeiro da série.

Mecanicamente rico demais, e visualmente impressionante com seus gráficos cel shade, toda vez que eu ligava o jogo eu me surpreendia com todos esses aspectos, esse mundo vivo dele era demais para mim, conversar ativamente com os NPCs é bastante divertido, e até mesmo fazer quests simples e bobas trazia um tempo de qualidade com o jogo bastante rico e compensador.

Ao jogar ele, eu mal consigo esperar para os remakes do segundo e terceiro capítulo, e com certeza vai ser uma porta de entrada para vários jogadores conhecerem o gigantesco universo de Kiseki, e se aventurarem nessas jornadas.

O jogo tem um preço cheio de 350 R$ na PlayStation Store, 304 R$ na e-shop da Nintendo, e maravilhosos 162 R$ para PC na Steam – e nesse preço vale muito, mas muito a pena.

Um agradecimento a Nihon Falcom por terem disponibilizado para análise!

Trails in the Sky 1st Chapter está disponível para PlayStation 5, Nintendo Switch e PC.

Outras reviews:

Escritor Freelancer. Tenho como paixão primária em videogames e principalmente no gênero JRPGs, mas também sou fascinado por filmes e animações.