Valiant Hearts: Coming Home é a sequência direta de um dos jogos mais aclamados e subestimados da Ubisoft, “Valiant Hearts: The Great War” (2014) e isso já é um grande motivo para que o segundo título tenha uma certa responsabilidade: manter e/ou melhorar o nível do seu antecessor. E é comum uma sequência não conseguir este feito, sabemos disso! Será que Coming Home entra pra lista dos que conseguiram? Segue junto comigo nessa análise e tire suas conclusões.
Primeiramento o jogo foi lançado somente na Netflix Games, no dia 31 de Janeiro de 2023, em uma parceria do serviço de Streaming com a Ubisoft/Old Skull Games. Posteriormente, sendo mais preciso, no dia 07 de Março de 2024, Coming Home foi lançado para PC / Xbox Series X|S / Xbox One / PlayStation 5 / PlayStation 4 / iOS / Android.
Essa review foi feita inteiramente baseada na versão de Playstation 4 (jogado em Playstation 5) com um código cedido gentilmente pela Ubisoft Brasil.
Revivendo o terror da “Grande Guerra”
A trama se desenvolve em 1917, no exato momento em que as tropas do exercíto dos Estados Unidos resolvem entrar, pela primeira vez, na Guerra. Até então, o país havia feito “vista grossa” para o que estava acontencendo no mundo, mas com a Alemanha tentando dominar os oceanos/mares, os americanos resolveram intervir e iniciaram sua participação na “Guerra das Guerras. Com essa finalidade em mente, eles promovem o recrutamento de civis. Estima-se que mais de 360.000 afro-americanos tenham se alistado com o “sonho” de retornarem e serem vistos como heróis.
É nesse contexto que o título apresenta um dos 6 (seis) protagonistas: James, um afro-americano que resolve se alistar para a guerra com o objetivo de encontrar seu irmão mais velho, Freddie. Como se não fosse ruim o suficiente toda a brutalidade da Guerra, James ainda enfrenta todo o preconceito e segregação dentro do seu Batalhão. Mesmo com o fim da escravidão, esse tipo de atitude ainda era muito vista nos campos de concentração. No jogo, o jogador poderá vivenciar isso logo no alistamento do personagem afro-americano, enquanto os brancos usavam armas de fogo, ele teve que usar pedaços de madeira, vassouras e tijolos como arma. A “desculpa” era que não haviam armas suficientes para todo o pelotão. Será?!
Harlem Hellfighters, os “Avengers” da Primeira Guerra Mundial
James faz parte desta equipe que era composta por soldados afro-americanos. Eles resolveram se alistar para lutar ao lado dos Estados Unidos no combate e receberam esse nome devido aos seus grandes feitos nos campos de batalha durante a Guerra. Contudo, como o exército americano era segregado entre negros e brancos, alguns militares não aceitavam lutar ao lado dos afrosdescentes, isto fez com o que os Harlem Hellfighters fossem enviados para trabalhar na França. Meu caro leitor, lembra de algum outro jogo que retrata a vida desta equipe? Se você respondeu/pensou em Battlefield 1 (2016) acertou em cheio! São poucos os jogos que relatam e abordam os Harlem Hellfighters.
Ressalto que eles foram de extrema importância para o exército francês, auxiliando no alcançe de triunfos em toda a Europa. Eram espetaculares na forma de combater e vencer suas disputas, como também em implementar apoio moral para americanos e franceses. O jogo deixa claro que vários soldados desta equipe também eram músicos de Jazz e sua cantoria trazia ânimo e força mental para os outros combatentes do batalhão.
Nem todo herói usa capa
Tanto em The Great War quanto Coming Home, os protagonistas não possuem poderes, não conseguem ler mentes, voar, prever o futuro ou estalar os dedos (se é que você me entende). Todos eles se encontram em um ambiente de violência, morte e destruição. Estes personagens icônicos são jogados em situações extraordinárias durante a Primeira Guerra Mundial e suas trajetórias exploram assuntos como sacrifício, companheirismo, amizade e sobrevivência.
- James: Afro-americano, irmão do corajoso Freddie, ele é um dos membros da famosa unidade dos Harlem Hellfighters. Ele traz consigo muita bravura e a determinação que caracterizam os soldados desta unidade.
- Freddie: Irmão mais velho de James, um dos remanescentes do primeiro jogo. Freddie é um personagem muito complexo e completo, possui uma mistura de força, vulnerabilidade e humanidade. Sua jornada é comovente e nos faz refletir sobre os sacrifícios e a resiliência dos soldados durante a Primeira Guerra Mundial.
- Anna: Uma médica belga que trabalha nos campos de batalha, sua dedicação em cuidar dos feridos a torna um dos personagens cruciais para todo o enredo dos dois jogos. Constantemente arrisca sua própria vida para salvar a de outras pessoas. Pra mim, a melhor personagem do jogo. Ela é a total representatividade da palavra “AMOR” em meio à tanto ódio e raiva. Seu caminho se entrelaça com os irmãos James e Freddie.
- Ernst: Esse personagem protagoniza a cena mais emblemática do jogo, na minha opinião. Não posso me estender devido ao Spoiler, mas, posso dizer que é logo quando ele é introduzido ao título (você vai lembrar de mim assim que ver essa cena). Ele é um personagem que possui muitos conflitos internos, pois é alemão, mas possui afinidades com pessoas de nacionalidades rivais, por assim dizer. Situação que o leva a tomar decisões dificéis, em um conflito entre razão e sentimento.
- George: Piloto de avião, George é um personagem “misterioso”. Muito habilidoso em combate, é o protagonista responsável pelos os momentos de aviação do jogo e outras missões de Stealth. Enfrenta muitos perigos aéreos, sempre dando sua vida para que seus companheiros fiquem protegidos e cumpram a missão. É outro personagem que sofre com todo o trauma da guerra, mas mostra humanidade acima de tudo.
- Walt: Um adorável cão de resgate que logo conquista o coração do jogador. E não se engane! Walt está longe de ser somente um caõzinho bonito, ele tem habilidades muito importantes que ajudam os jogadores a resolverem enigmas e alcançar objetos inalcançáveis e que são de extrema importância para a progessão. A presença do cão de resgate mostra ao jogador que, mesmo em tempos de guerra, os laços entre os seres humanos e os animais podem ser poderosos.
Uma trilha sonora com sentimentos
Composta por Jason Moran, a trilha sonora de Coming Home é densa e cheia de “sentimentos”. Ela é parte importante da experiência, estabelecendo um toque de emoção à cada nota, mesclando perfeitamente com o clima e atmosfera da história. O jogador irá notar com facilidade toda a melodia harmoniosa da trilha e a capacidade da mesma em evocar emoções e tensões para quem se aventurar neste título.
É óbvio que cada pessoa possui uma percepção diferente em relação à trilha sonora dos jogos, mas, lhe garanto que ela faz uma diferença absurda em cada situação da obra. Alguns tons são fúnebres, outros tons são de emergência, alguns causam tristeza e comoção e assim por diante. Só lendo essa análise você não terá a dimensão do que estou escrevendo, mas tente imagina uma batalha épica de um Final Fantasy sem uma trilha sonora, pois é, é a mesma importância que você verá por aqui.
Jogabilidade e Estilo Visual de Valiant Hearts: Coming Home
A jogabilidade da sequência é bem simples e intuitiva. Como forma de avançar, o jogador terá que resolver alguns puzzles e enigmas, mas não se preocupe, nada de muito complexo, afinal, esse não é o foco do jogo. Esses desafios aparecem de forma diferente e muitos deles envolvem a interação com o ambiente, assim como a utilização de alguns itens que encontramos pelos cenários e/ou a colaboração de outros personagens.
Neste contexto, o jeito de progredir muda conforme o personagem que o jogador controla no momento, por exemplo: com James, enfrentamos mais combates com obstáculos e trincheiras; com a médica Anna, cuidamos dos feridos usando uma sequência de comandos que surgem na tela; já com George, passamos por vários combate aéreos e algumas missões de Stealth; e usamos o Walt em missões e tarefas bastante específicas.
No quesito visual, Coming Home é uma perfeita combinação entre quadrinhos (parece que tudo foi desenhado à mão), uma atmosfera única e animação ímpar, tudo isso junto leva ao jogador um clima de melancolia e tristeza, afinal, é um cenário de guerra. Todos os detalhes da atmosfera faz o jogador se sentir em ambientes hostis, como trincheiras repletas de lamas, cidades devastadas e objetos que mostram e contam ainda mais sobre este período histórico.
As expressões dos protagonistas são minimalistas, eles não precisam falar muito, somente um som emitido em determinadas situações já ecoa como um discurso. É algo bem interessante e caractéristico dos dois jogos. Uma expressão vale mais do que mil palavras. Aqui isso é levado ao pé da letra.
Em resumo, a Ubisoft é conhecida em fazer bons mundos com ótimos visuais e, mais uma vez, ela acerta aqui. Com uma combinação perfeita entre arte, design e animação, o jogador irá se sentir imerso em cada mínimo detalhe dos locais onde passará.
Conclusão
Me aventurei no mundo de Valiant Hearts: Coming Home por 5 horas, um tempo relativamente curto, podendo até ser menor dependendo do jogador. O título conta com 3 capítulos. Passei por problemas com travamentos, tive que reiniciar o jogo duas vezes, pois ele travou por completo. Vi alguns cenário sem chão, outros sem textura. São pequenos aspectos que devem ser corrigidos em atualizações.
Algumas sequências são totalmente desnecessárias e/ou piores do que seu antecessor, mas, Coming Home desempenha, perfeitamente, o papel de manter a qualidade do primeiro. Talvez ele não seja tão emocionante quanto o jogo de 2014, mas entrega uma experiência fantástica. Apesar de ser uma sequência direta, o jogador não precisa ter jogado o The Great War para apreciar este.
É uma jornada cativante e emocionante, com uma narrativa envolvente que traz a lembrança da humanidade e tantos sacríficios em tempos conflitantes. Enquanto vamos seguindo os passos de James, Anna, Freddie, Ernst, Walt e George, o jogo faz questão de nos recordar de toda a força, resiliência e do poder da amizade e companheirismo. Valiant Hearts: Coming Home não é somente mais um jogo perdido no mercado; é uma merecida homenagem aos “heróis que não usam capa”, onde eles mostram que para vencer uma guerra, você não precisa usar uma arma de fogo, nem mesmo uma faca, mas somente colocar em prática o verdadeiro significado das palavras: coragem, força, fraternidade, amor e HUMANIDADE. Ah! Já ia esquecendo, as vezes o final de um maravilhoso e saboroso doce, esconde um sabor amargo.
A história desse jogo é muito boa, falou tudo, top!!!