O ano de 2024 começou muito bem para os amantes deste maravilhoso estilo, o Metroidvania. Se você já teve o prazer de jogar Castlevania, Metroid, Hollow Knight, Ori, entre outros, você sabe do que estou falando e do quão bom é esse gênero dos jogos. 2024 já nos presenteou com Prince of Persia: The Lost Crown (Ubisoft) e agora nos agracia com Ultros.

Lançado no dia 13 de fevereiro deste ano para Playstation 4, Playstation 5 e PC, Ultros traz uma atmosfera totalmente única, causando um acalento e uma sobrevida para um mercado que anda meio saturado com ideias genéricas. Pessoalmente falando, vejo jogos Indies como uma válvula de escape da mesmice de alguns AAA.

A análise foi feita inteiramente baseada na versão do Playstation 5 com código enviado pela Kepler Interactive.

Captura de tela: Sherman Castelo

A história enigmática e instigante de Ultros

Os jogadores que decidirem se aprofundar nessa jornada psicodélica e única, se depararão com um enredo que te dá respostas, ao mesmo tempo, que te deixa com mais dúvidas à cada ciclo. Sim! O jogo possui um sistema de Loop, por esse motivo, pode ser chamado de um Metroidvania com elementos de Roguelike, mas não é um!

A jornada começa com a nossa misteriosa personagem, Ouji, acordando em um ambiente desconhecido, em uma época indefinida. Sua nave colidiu com este local chamado Sarcófago, uma espécie de “nave espacial”, “lar, doce lar” de uma presença demoníaca chamada Ultros. Dentro deste recinto, a personagem viverá um Loop Temporal, fazendo o jogador vivenciar seu gameplay através de Ciclos. Quais mistérios essa localidade esconde? É inóspito? Como sair? Questões que cabe ao jogador descobrir. Essa sensação de descobrimento vai seguir a viajante por todo o caminho e ela não está sozinha nessa aventura, Ouji encontrará personagens que buscam acabar com a “maldição” que impera no Sarcófago e os impedem de sair do mesmo.

Embora o jogador consiga entender o seu objetivo principal em poucas horas de gameplay, uma das tantas qualidades de Ultros é a satisfação na revelação gradativa do seu mundo. À cada ciclo que Ouji reinicia, o jogo faz questão de mostrar um pouco mais da história daquela nave, dos caminhos diversos que o jogador pode trilhar, da finalidade que cada personagem possui. E acredite, tudo e todos estão interligados e cada um deles possui sua importância, seja para lhe dar dicas de como evoluir/progredir, assim como para lhe causar “problemas”.

A direção de arte de Ultros é espetacular (Captura de Tela: Sherman Castelo)

Conforme o jogo avança, Ouji e o jogador percebem que no Sarcófago predomina uma ilusão propagada por entidades que estão espalhadas pelo mapa (abre com touchpad) de Ultros. Elas são chamadas de Xamãs ou Xamasal. E qual seu objetivo? Destruir cada um deles para dissipar a ilusão e, consequentemente, fazer com o que o demônio Ultros não tenha “forças” para ser libertar. Cada vez que o jogador destrói um desses Xamãs, o ciclo se reinicia e a peregrina acorda novamente em sua nave, com mudanças sutis no mapa e tendo que acessar certos locais para reaver suas habilidade e, assim, explorar novas áreas e novos caminhos. E existem muitos caminhos aqui.

Nem pense que você entenderá todo o enredo facilmente e em uma só jogatina. O jogo conta com 3 finais diferentes e fará o jogador querer explorar sempre mais, tomando decisões diferentes em sua gameplay. Sim, você pode escolher ser violento ou pacífico com as criaturas do Sarcófago, atitude que afeta qual final o jogador irá desbloquear. Qual caminho você irá trilhar?

Trilha Sonora e Direção de Arte Inesquecíveis

Eu poderia passar horas e horas digitando sobre a trilha sonora e a arte de Ultros e, mesmo assim, você, meu caro amigo leitor, não teria a noção do absurdo que são esses dois quesitos, da perfeiçao que o gênio Niklas “El Huervo” Åkerblad (responsável pela arte de Hotline Miami), conseguiu alcançar neste projeto. Confesso que se lançassem um albúm com as composições do Oscar “Ratvader” Rydelius, eu seria o primeiro a comprar.

A sonoridade do jogo acalma o jogador, cada tom, cada nota está completamente ajustada ao mundo, a cada setor do Sarcófago. Acreditem, é perfeito! Assim como, o design artístico. Você irá usar bastante o botão de captura de tela do seu controle, têm minha palavra! Quando o jogador menos esperar, estará parado admirando o vislumbrante cenário. “HADOQUE, palmas pra você”.

O vapor de um líquido que cai ali no cenário, de forma aleatória, juntamente com a flutuabilidade de partículas, mostra todo o capricho e amor colocado pela empresa nesse projeto. Uma estátua perdida no meio do cenário, mas será mesmo que é só uma estátua?! Ela traz um tom de mistério ao mesmo que te instiga a obter essa resposta. E tudo isso é somente uma sala do jogo, mostrando a grandiosidade de Ultros.

Ouji e o Córtex (Captura de Tela: Sherman Castelo)

Gameplay e Combate

Aqui irei pontuar alguns aspectos interessantes e outros nem tanto! Em relação ao gameplay do título, encontramos uma espécie de espada/adaga no ínicio do jogo e de cada ciclo e, se você está aí pensando que contará com uma gama enorme de armas, lamento dizer, mas a resposta é NÃO! E aqui vai minha primeira crítica negativa a Ultros. Não existe variação alguma de armas e isso faz com o que o combate seja simples e, pra mim, enjoativo e “sem sal”. Sei que esse não é o foco da obra, mas já que ele existe, teria que ser feito de uma maneira mais satisfatória. O combate só mudará em algumas batalhas contra os chefes, pois, contra inimigos normais do cenário, o embate sempre é resolvido da mesma maneira.

Ultros conta uma certa diversidade de inimigos e derrotando-os, o jogador adquire comidas que servem tanto como restauração de HP, quanto como fatores essenciais para o Upgrade das habilidades de Ouji. Essas melhorias podem ser feitas no Córtex (vide imagem acima), local onde a personagem repousa e podemos realizar/melhorar seus atributos. Você pode escolher comer a comida assim que mata algum inimigo, ou fazer isso na tela de upgrade. Vale ressaltar que para obter as melhores comidas e/ou sementes dos inimigos, você precisará diversificar seu estilo de combate, o que incentivará o jogador à não apertar sem pensar o botão de ataque.

A árvore de habilidades de Ouji (Captur de tela: Sherman Castelo)

E sim, você perderá tudo o que conquistou à cada ciclo, até mesmo sua arma de combate. Isso pode frustrar os jogadores mais causais, ou aqueles que não tem tanta familiaridade com este estilo de jogo, mas tenho uma boa notícia pra você. Logo após o segundo ciclo, o game te apresenta os cérebros de memória. Eles são imprescindíveis para a sua jogatina, pois é através deles que o jogador poderá escolher alguns atributos que permanecerão após novos Loops, e isso dá uma fantástica necessidade de explorar cada canto do mapa. Também obriga o jogador a pensar com cuidado, pois algumas melhorias importantes podem ser perdidas, caso elas não estejam ligadas à um Cérebro de Memória.

Ouji usando uma de suas habilidades (Captura de Tela: Sherman Castelo)

A importância da plantação e uso das sementes

Um dos pontos que faz com o Ultros seja diferentes dos outros jogos do mesmo estilo é a “A arte de saber plantar”. Após derrotar inimigos, eles podem deixar comida ou sementes, essas sementes possuem nomes e uma história para cada uma. (É isso mesmo que você leu, as sementes possuem história em Ultros). Cada tipo de semente que encontrará em sua jornada, te dará algum benefício, por exemplo uma delas cria plataformas em paredes, te possibilitando chegar à locais novos, onde nem com o famigerado “pulo duplo” conseguiria acessar.

Outras sementes estão ali para lhe dá comida como recuperação de HP, etc. Pararei por aqui para evitar Spoilers e deixar que você descubra a importância de cada uma e o que cada uma delas faz. Vale lembrar que, aquela semente plantada alí, pode até não parecer útil em um primeiro momento, mas volte lá em um outro ciclo e, faltamente, mudarás de opinião.

Um dos muitos inimigos que Ouji enfrentará em sua jornada através do Sarcófago.

Nem tudo são FLORES!

Assim como já citei antes, o combate em Ultros deixa bastante a desejar, assim como o seu Mapa, além de muito extenso é também muito confuso e pouco intuitivo, o que pode afastar jogadores com menor tempo de jogatina e menos paciência para exploração sem uma direção certa. O jogo não te pega pela mão e diz o que voce precisa fazer, comparo aqui com SCORN, onde o jogador precisa descobrir, por si só, o que fazer e pra onde ir. Eu mesmo me vi, várias vezes, perdido no Sarcófago, sem saber qual caminho tomar, se eu tinha a habilidade certa pra prosseguir ou se eu teria que escolher ciclos anteriores (sim, você pode escolher voltar para ciclos anteriores e tomar decisões diferentes em sua gameplay).

A mecânica da plantaçao das sementes é bem interessante, mas também confunde. Me peguei pensando: “essa semente, se eu plantar ela agora, aqui, vai me servir de que? é a semente correta? eu tenho a semente certa? ela vai servir agora ou somente em outro ciclo?”. São dúvidas pertinentes, que irão surgir na cabeça de muitos que irão se aventurar no jogo. Ao mesmo tempo que essa mecânica pode estimular e deixar alguns maravilhados, pode também se tornar cansativo e “bagunçado”.

Uma “ilusão” bloqueando o caminho da personagem. Cabe ao jogador descobrir como transpor essa barreira.

Conclusão

Me aventurei no mundo de ULTROS por mais de 14 horas e posso afirmar que foi uma experiência cativante, intrigante e muito satisfatória. A HADOQUE entrega um Metroidvania fabuloso, único. Em um mercado com tantos jogos no mesmo estilo, os estúdios precisam “sair da caixinha” e apresentar conceitos novos e isso você encontrará neste jogo.

Com um visual extraordinário, uma trilha sonora que atinge seu coração e mente, história densa (com aspectos de mistério, doença mental, vida e morte, violência e paz), Ultros entra, facilmente, para o Hall da Fama dos Metroidvanias e para a minha lista de “Melhores Jogos de 2024”. Possui alguns deslizes como os citados nesta análise, mas nenhum deles é capaz de tirar o brilho deste jogo espetacular.

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