A morte de Robert Redford, aos 89 anos, encerra a trajetória de um dos artistas mais influentes da história do cinema americano. Mais do que um galã de Hollywood, ele foi ator, diretor, produtor, ativista e mentor de novas gerações de cineastas. Sua carreira atravessou mais de seis décadas e deixou marcas profundas tanto no circuito comercial quanto no cinema independente.
O galã dos anos 1960 e 1970
Nascido em 18 de agosto de 1936, em Santa Monica, Califórnia, Redford começou a atuar na televisão no fim dos anos 1950, mas foi na década seguinte que sua carreira explodiu. Sua ascensão coincidiu com um período de transformações em Hollywood, e ele rapidamente se tornou um dos rostos mais reconhecidos da nova era do cinema americano.
Clássicos como “Butch Cassidy” de 1969, em parceria com Paul Newman, transformaram Redford em um ícone de carisma e estilo. Poucos anos depois, brilhou em “Golpe de Mestre”, também ao lado de Newman, e consolidou sua reputação em “Todos os Homens do Presidente”, onde interpretou o jornalista Bob Woodward na dramatização do caso Watergate. Esses filmes, além de sucesso de bilheteria, ajudaram a moldar a imagem de Redford como intérprete sofisticado e politicamente engajado.

Da frente para trás das câmeras
A década de 1980 marcou um novo capítulo na carreira de Robert Redford: o de diretor. Sua estreia atrás das câmeras foi fulminante com “Gente como a Gente” (1980), que lhe garantiu o Oscar de Melhor Direção. O drama familiar foi a prova de que sua sensibilidade artística se estendia para além da atuação.

Mais tarde, outros projetos reforçaram sua posição como cineasta respeitado, enquanto continuava atuando em produções memoráveis. Em 2002, a Academia reconheceu sua importância com um Oscar honorário, classificando-o como uma “inspiração para cineastas de todo o mundo”.
O coração do cinema independente

Redford não se destacou apenas por sua carreira em Hollywood, mas também por seu compromisso com a preservação ambiental. Em 1961, ele escolheu viver nas montanhas de Utah, onde passou a liderar iniciativas voltadas à proteção das paisagens naturais do estado e de toda a região oeste dos Estados Unidos.
Sua paixão pela natureza se entrelaçou com o interesse pelo cinema autoral. Em 1981, Redford criou o Sundance Institute, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao incentivo de produções independentes e ao teatro. O instituto apoia artistas dispostos a explorar novas linguagens e narrativas, fora do circuito tradicional de Hollywood.
Além disso, Redford fundou o Sundance Resort, um espaço localizado em um desfiladeiro acima de Provo, em Utah, que abriga oficinas criativas voltadas a dramaturgos, roteiristas e outros profissionais da área. O local se tornou um ponto de encontro para artistas em busca de desenvolvimento e troca de experiências.
O Sundance Institute também é responsável pelo Festival de Cinema de Sundance, considerado hoje o principal evento de cinema independente dos Estados Unidos. Foi nesse palco que muitos diretores ganharam notoriedade, como Steven Soderbergh, com “Sexo, mentiras e Videotape”, Quentin Tarantino, com “Cães de Aluguel”, e Ryan Coogler, com “Fruitvale Station”.
Redford, porém, nunca deixou de criticar a invasão do mercado sobre o festival: “Quero que os marqueteiros oportunistas — as marcas de vodca, os brindes e as Paris Hiltons da vida — desapareçam para sempre. Eles não têm nada a ver com o que acontece aqui!”, disse em 2012.
Compromisso além da arte
Outro aspecto central de sua trajetória foi o engajamento em causas ambientais e sociais. Embora rejeitasse o rótulo de “ativista”, dedicou tempo e recursos a iniciativas de preservação ambiental e de defesa da sustentabilidade. Essa preocupação refletia também em seu estilo de vida; longe do excesso de exposição, ele preferia viver em seu rancho isolado em Utah, em contato com a natureza que tanto buscava proteger.
Essa faceta fez de Redford uma figura rara: um astro de Hollywood que, em vez de usar apenas o brilho da fama, mobilizava sua influência em favor de questões globais.
A vida pessoal sob os holofotes
Apesar da discrição que cultivava, a vida pessoal de Robert Redford foi tema de interesse da mídia ao longo das décadas. Ele foi casado duas vezes: primeiro com Lola Van Wagenen, com quem teve quatro filhos, e depois com a artista plástica alemã Sibylle Szaggars, em 2009.
Entre seus relacionamentos mais comentados esteve o romance com a atriz brasileira Sônia Braga, nos anos 1970, durante as filmagens de “O Povo do Rio”. A relação foi destaque em veículos internacionais e consolidou a imagem do ator como um dos galãs mais cobiçados da época.

Também teve um relacionamento notório com a figurinista Kathy O’Rear, antes do segundo casamento. Essas histórias, somadas ao seu talento e ao engajamento social, reforçaram sua aura de estrela global.
O legado de Redford
Mais do que os papéis que interpretou, Robert Redford será lembrado pelo conjunto de sua obra e pelo impacto que teve em múltiplas dimensões do cinema. Sua presença diante das câmeras deu vida a personagens que marcaram a história da sétima arte. Seu trabalho como diretor demonstrou sensibilidade e precisão. Sua visão como produtor e criador de Sundance abriu espaço para gerações inteiras de cineastas independentes.
O legado de Redford se estende ainda à sua contribuição para pautas sociais e ambientais, mostrando que sua preocupação ia além do entretenimento. Ele soube unir prestígio artístico e compromisso cultural, sem nunca perder a postura de discreção e a busca por impacto real.
Uma despedida com gratidão
A morte de Robert Redford encerra uma era em Hollywood, mas seu legado permanece vivo em filmes, ideias e instituições que continuam a transformar o cinema. Ele será lembrado não apenas como ator ou diretor, mas como uma das figuras mais completas da história cultural americana.
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