Tetralogia das cores | Demolidor: Amarelo fala sobre os amores de Murdock

Quadrilogia das cores | Demolidor: Amarelo fala sobre os amores de Murdock

Entre todos os quadrinhos da tetralogia das cores, Demolidor: Amarelo é o que melhor se utiliza de sua cor temática. Isso porque, de fato, o personagem utilizava um uniforme amarelo em suas origens, algo que passa um olhar nostálgico com muita verdade. A narrativa, escrita por Jeph Loeb e desenhada por Tim Sale, é baseada nas histórias iniciais de Stan Lee e Bill Everett, criando uma espécie de tributo ao trabalho clássico dos criadores do personagem.

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Nesta história, a trama gira em torno dos relacionamentos de Matt Murdock com a sua primeira paixão, Karen Page, o seu pai Jack Murdock, e o seu amigo e parceiro Foggy Nelson. Murdock, em busca de processar o luto pela perda de Karen, escreve uma série de cartas que nos levam através da história do Demolidor em flashback.

Tetralogia das cores | Demolidor: Amarelo fala sobre os amores de Murdock

O foco não está nas origens da cegueira de Matt, mas sim nos dias iniciais da sua carreira como herói, começando com a carreira de boxe do seu pai Jack e o seu trágico assassinato. Assim, Amarelo não é uma reinterpretação do personagem como fez Frank Miller em “Demolidor: O Homem Sem Medo”, mas sim uma homenagem aos seus primeiros passos.

A escrita de Loeb não possui a profundidade emocional e o conhecimento do personagem que Frank Miller conseguiu transmitir nas suas obras mais conhecidas, mas mesmo assim, consegue captar honestamente os sentimentos que movem o personagem, como o luto e o amor.

É uma história sobre a amizade, especialmente a que Matt mantém com Foggy Nelson. Apesar dos desentendimentos e tensões, a amizade entre eles é fundamental para a história do Demolidor. Foggy sempre esteve ao lado de Matt, mesmo quando os seus amores se desvaneceram ao longo do tempo, algo que Loeb e Sale conseguem ilustrar com muita sensibilidade.

Assim, a história destaca não apenas a relação de Matt com Karen, mas também a sua profunda ligação com o pai e a justiça que tanto almeja. O uso do robe amarelo como parte do uniforme inicial do Demolidor é um elemento emocionalmente carregado, que serve como uma homenagem ao espírito de luta de Jack Murdock e como símbolo da promessa de Matt de continuar a combater pela justiça, mesmo que a lei falhe.

Este é um dos elementos que torna a HQ tão tocante — é uma história de amor, perda, e da transformação do luto em ação, lembrando-nos que o verdadeiro heroísmo nasce não apenas das habilidades sobre-humanas, mas da vontade humana de honrar aqueles que amamos.

Entre traços e golpes

Tetralogia das cores | Demolidor: Amarelo fala sobre os amores de Murdock

O trabalho artístico de Tim Sale é um dos grandes pontos altos de Demolidor: Amarelo. O seu estilo captura a essência das histórias dos anos 1960, mas com uma abordagem moderna, criando uma estética visual que é simultaneamente nostálgica e inovadora.

O uso das cores, especialmente do amarelo, serve não só para homenagear o fato original de Demolidor, mas também para dar um tom emocional à narrativa. Sale consegue transmitir a essência da história com um estilo simples mas expressivo, especialmente nas representações dos vilões, que são envolvidas numa atmosfera inquietante e misteriosa.

Demolidor: Amarelo é, assim, uma leitura essencial para os fãs do personagem, que querem explorar um lado mais sentimental por trás da máscara, celebrando a sua origem e as suas relações mais importantes. É um tributo aos criadores de Demolidor, oferecendo uma perspectiva honesta e emocional sobre as lutas internas e os laços que moldam a vida de Matt Murdock.

O amarelo

A cor amarela é utilizada de forma bem direta, com muita sofisticação. Por vezes, o amarelo aparece como um fundo vasto, outras vezes como um toque subtil em meio a uma mistura suja de cinzentos, castanhos e azuis. Há momentos em que um efeito sonoro é destacado em amarelo, o que confere a esse som um certo realce, uma nitidez que quase o faz ser ouvido, especialmente quando o amarelo esteve ausente durante duas ou três páginas, surgindo depois de forma marcante. Matt Hollingworth faz um trabalho magnífico — ele não é apenas um colorista, é um verdadeiro mágico.

A habilidade de Hollingworth em dar vida ao amarelo é fundamental para o tom emocional da história. A cor serve para destacar certos elementos de uma forma muito intencional e precisa, criando um contraste entre momentos de introspeção e ação. Isso realça os temas de memória e nostalgia que permeiam a narrativa, oferecendo ao leitor uma experiência visual dinâmica e emocional.

Esta abordagem cuidadosa à cor é um dos elementos que tornam Demolidor: Amarelo mais do que uma obra que compõe uma série temática. É um exemplo de como a cor pode ser usada de forma simbólica e emocional, enriquecendo a narrativa sem que sejam precisas palavras para transmitir esses sentimentos.

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Tetralogia das cores | Demolidor: Amarelo fala sobre os amores de Murdock

é uma excelente história de Matt Murdock, que traz um pouco mais de luz a um personagem muitas vezes visto como mais sombrio que a maioria dos super-heróis. Embora ainda haja momentos obscuros ao longo da narrativa, estes servem mais para construir o carácter do protagonista do que para chocar o público com cenas aterradoras. Temos aqui a história de um jovem que se torna no herói que conhecemos, encontrando amor num lugar inesperado e enfrentando a perda com resiliência.

O estilo único de Tim Sale, em conjunto com a narrativa emocional de Jeph Loeb, torna Amarelo uma das maiores histórias de origem do Demolidor. Esta história é mais do que uma simples homenagem aos primeiros dias do personagem — é uma celebração do processo de se tornar um herói, de aprender a transformar a dor em força. Com a combinação poderosa da arte clássica e da coloração vibrante, Demolidor: Amarelo consegue destacar-se como um dos melhores contos de origem já criados, um tributo visual e narrativo ao espírito do Homem Sem Medo.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.