Lily Sullivan está em busca de um mistério não resolvido para seu podcast no thriller de ficção científica, O Podcast.
Ganchos, pistas falsas e click baits – o mundo dos podcasts de mistérios não resolvidos e true crime tem uma capacidade inata de te capturar e te envolver. Essa característica viciante é explorada pelo diretor Matt Vesely (da série “Aftertaste”) e pela roteirista Lucy Campbell (da minissérie “The Big Nothing”), ambos, em seu primeiro longa-metragem: O Podcast.
O filme conta a história de uma jornalista sem nome interpretada por Lily Sullivan (“A Morte do Demônio: A Ascensão”), ela é bastante renomada na área, no entanto, está reclusa após enfrentar uma séria repercussão negativa de uma grande reportagem denunciativa, na qual sua pesquisa e fora jornalístico foi colocado em cheque.
Agora, ela está em busca de sua próxima grande história por meio de um podcast, mídia na qual ela pode trabalhar sem sair de casa. Desesperada por algo que a ajude a voltar ao topo das paradas e permitir que ela enterre os erros do passado, ela vasculha inúmeros e-mails de ódio e encontra na caixa de entrada uma mensagem anônima com apenas o nome “O Tijolo”.
Depois de localizar quem mandou o e-mail, a entrevistadora pergunta inocentemente sobre o que se trata esse tijolo e imediatamente toca em um assunto sensível para a entrevistada. Insistindo no tema, parece que há cerca de 20 anos, essa pessoa recebeu um tijolo completamente negro, algo descrito como a coisa mais escrura do que qualquer coisa que ela já havia visto e que aparentemente possuía algum tipo de poder intrinsecamente ligado a ela. Mas quando o tijolo é subsequentemente roubado e vendido como uma valiosa peça de arte rara, a vida dessa mulher rapidamente se desmorona, assim como a conversa. Após ter manipulado sua convidada para contar sua história com promessas de confiança e integridade, a entrevista é rapidamente editada para distorcer a história e criar o próximo grande sucesso da podcaster.
Uma vez que o episódio é publicado, caímos na toca do coelho com a entrevistadora, descobrindo que muitas outras pessoas também receberam tijolos com a mesma característica, mas ninguém parece querer falar sobre de onde eles vieram e todos têm dificuldade em articular que tipo de poder o objeto parece exercer sobre elas. Apesar do novo sucesso, a entrevistadora é lentamente levada à loucura por sua tentativa desesperada de surfar a onda do sucesso e descobrir o que tudo isso significa.
Vesely usa o cenário restrito do filme e seu elenco esparso a seu favor, capitalizando a situação confinada para entregar uma narrativa verdadeiramente intensa e focada. Além disso, há um trabalho muito cuidadoso e bem simplista no movimento – ou quase nenhum – câmeras no filme. Há muitos planos fechados, focando muito as expressões faciais da jornalista e transformando o pequeno escritório de gravação como algo maior. Mas o sentimento de solidão e inquietude da protagonista é reforçado quando ela não está trabalhando e notamos que ela está sozinha em uma casa enorme e isolada da cidade, que fica na frente de uma vasta floresta.

O roteiro de Campbell guia habilmente o público através da narrativa imersiva, puxando-o para o mistério inexplicável e entregando múltiplas reviravoltas, surpreendendo você de maneiras inesperadas.
No entanto, é importante reforçar que esse é um filme sobre apenas um tom: o mistério do tijolo e as consequências de quem o estuda. O que parece ser um desperdício de tema, pois existe um pano de fundo jamais explorado sobre a ética jornalística, o poder da informação, a importância da apuração e principalmente, do quão nocivas essas obras de true crime pode ser. Mas, apesar dessa reclamação, essa é uma expectativa minha e jamais o filme se propôs a isso.

Filmado em tons de cinza-azulado, que enfatiza o isolamento da protagonista, Lily Sullivan carrega de forma admirável esse trabalho praticamente solo, estrelando como a entrevistadora sem nome. Ao contrário de muitos outros mistérios do tipo, como o curta “The Locked Room”, Vesely consegue equilibrar o trabalho de câmera nos planos fechados intensos sem que isso se torne cansativo.
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Muitos temas são abordados ao longo do filme, com questões de divisão de classes e comentários sociais que nunca chegam a se concretizar, mas o nível de interesse em torno do mistério do tijolo é um ponto sólido de ancoragem para a história e entrega um final satisfatório que vai te deixar com vontade de se inscrever para saber mais.
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