Na primeira metade da década passada Katy Perry era dona de alguns dos grandes hits do pop e ganhava o público com músicas despretensiosas, uma estética divertida e um carisma baseado em não se levar muito a sério. De lá pra cá o mundo mudou e cantora luta para reencontrar seu lugar. Esse é o objetivo bastante explicito em 143, seu novo álbum.
O que vemos no sexto disco da cantora estadunidense, no entanto, é que ela ainda parece estar perdida e deslocada do cenário pop atual. Aqui, Katy parece querer fazer sua própria versão do “Chromatica” (2020) da Lady Gaga. Para isso, a obra tenta repetir formulas do eletropop e do house já utilizadas pela própria artista durante o seu auge, mas que não conversam bem com os sons contemporâneos, fazendo tudo soar repetitivo e sem alma.
A escolha de “Woman’s World” como primeiro single também não ajudou. Além de evocar um feminismo superficial que soa datado, com ares de 2015, e passível de questionamentos em 2024, a música ainda veio carregada na polêmica envolvendo o produtor Dr. Luck, acusado, em 2014, de abuso sexual pela cantora Kesha.
O desgaste em bancar a escolha do produtor como parceiro para “143” se mostrou desnecessário, já que, para além do fracasso de “Woman’s World” que não emplacou nas paradas norte-americanas, o restante do álbum traz uma produção igualmente pouco inspirada, presa em ideias que soam batidas, chegando a ficar enjoativa em vários momentos.
Reciclagem de hits
Fica bem nítido que várias das 11 faixas tentam emular similares de sucessos do “Teenage Dream” (2010) e do “Prism” (2013). “Artificial” parece querer recriar a atmosfera espacial e futurista de “E.T”; “Gimme Gimme”, com participação de 21 Savage se esforça muito para ser a nova “Dark Horse”; já “Wonder”, faixa de encerramento, parece estar ali para ocupar a função de “Firework”. Nada, no entanto, chega perto de ter a força dos hits que serviram de base.
Há poucos momentos interessantes no álbum. “I’m His, His Mine” ganha pontos pela boa participação de Doechii; “Gorgeous”, parceira com Kim Petras funciona como um interessante flerte do eletrônico com o trap; “Lifetimes”, terceiro single lançado, é mais cativante que o primeiro e poderia ter funcionado melhor para inaugurar a nova era.
Em “143” Katy Perry parece estar presa em uma versão de si mesma que já não faz mais sentido hoje. Com um álbum que está fadado ao esquecimento logo mais, a prometida volta triunfal da cantora terá que ficar para o futuro, e para isso, ela vai precisar ficar mais atenta ao mundo a sua volta e mostrar que ainda pode se conectar com as novas gerações.
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