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Atriz brasileira venceu ilustre premiação (Captura de tela | Max)

Conheça a trajetória de Fernanda Torres até a conquista do Globo de Ouro

Do teatro e a comédia da TV aberta, carreira da atriz vai muito além de ‘Ainda Estou Aqui’

Por mais de quatro décadas, Fernanda Torres tem sido um dos nomes mais versáteis e adorados da cena cultural brasileira. Filha de dois gigantes da dramaturgia, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, ela não apenas seguiu os passos dos pais, mas construiu uma carreira própria, marcada por sua irreverência, talento e capacidade de transitar entre diferentes gêneros e mídias.

Na madrugada desta segunda-feira, Fernanda alcançou um marco histórico: foi a primeira brasileira a conquistar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático. Essa conquista, além de celebrar sua performance magistral em “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, também representa o reconhecimento internacional de uma artista que, ao longo de sua carreira, soube cativar tanto o público quanto a crítica.

Fernanda Torres lembrou de sua mãe em discurso de premiação

Início nos palcos e nas telas

A trajetória de Fernanda Torres começou cedo, ainda adolescente, com os olhos voltados para o palco. Aos 13 anos, estreou em “Um Tango Argentino”, peça de Maria Clara Machado, no tradicional Tablado, no Rio de Janeiro. O teatro seria sua escola de formação e, ao longo dos anos, ela construiria uma carreira sólida, com destaque para o monólogo “A Casa dos Budas Ditosos” (2003), onde interpretou uma mulher que narra com humor e provocação os detalhes de sua vida libertina. O trabalho rendeu a ela o Prêmio Shell de Teatro e é até hoje uma das montagens mais lembradas.

Mas foi no universo televisivo que Fernanda deu seus primeiros passos de destaque. Ainda muito jovem, fez sua estreia em novelas e programas de TV, como “Baila Comigo” (1981) e “Brilhante” (1981), mas foi nos anos 1990 que ela consolidou seu nome, se tornando um ícone da comédia brasileira.

A comédia que conquistou o Brasil

Nos anos 2000, Fernanda Torres se tornou a grande musa da comédia nacional. Seu papel em “Os Normais” (2001-2003), ao lado de Luiz Fernando Guimarães, a imortalizou como Vani, uma mulher cheia de manias e que vive um relacionamento repleto de situações cômicas e inusitadas. A série, que retratava o cotidiano de um casal e seus conflitos, fez um grande sucesso de audiência e, além disso, se transformou em dois filmes derivados, ampliando o impacto de sua personagem na cultura popular.

Uma década depois, em “Tapas e Beijos” (2011-2015), Fernanda renovou sua fórmula cômica ao interpretar Fátima, uma mulher com uma amizade inabalável com Sueli (Andréa Beltrão), com quem compartilha a rotina de dificuldades e alegrias no ambiente de uma loja de noivas. Mais uma vez, ela mostrou seu talento para a comédia de situações cotidianas, que ao mesmo tempo divertem e emocionam.

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A língua da Fátima tá igual a um chicote! 🐍 #TapasEBeijos PraTodosVerem: trecho da série Tapas e Beijos, em que Fátima, personagem de Fernanda Torres, tem diálogo ácido com Lucilene, personagem de Natália Lage.

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Fernanda Torres, em cena de “Tapas e Beijos”

A transição para o drama

Fernanda Torres nunca foi uma atriz que se acomodou em um único registro. Desde cedo, ela buscou diversificação em sua carreira, e foi no cinema que ela encontrou uma maneira de explorar sua faceta mais dramática. O primeiro grande trabalho que a colocou no radar de diretores e críticos foi “Eu Sei Que Vou Te Amar” (1986), de Arnaldo Jabor. Neste filme, Torres interpretou a jovem Luiza, uma mulher que vive um intenso e complexo relacionamento amoroso com o personagem de Thales Pan Chacon. O longa é famoso por seu formato peculiar, em que os personagens ficam praticamente o tempo todo conversando em longos diálogos sobre o amor e as relações humanas. O desempenho de Torres foi considerado uma das maiores revelações do cinema nacional. Aos 20 anos, ela foi premiada com o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, tornando-se a primeira atriz brasileira a conquistar a estatueta do festival.

Outro trabalho de grande relevância na carreira de Fernanda no cinema foi “Terra Estrangeira” (1995), de Walter Salles, com quem ela mais tarde se reuniria para trabalhar em Ainda Estou Aqui. Neste filme, a atriz interpretou Alex, uma garçonete brasileira que se muda para Portugal e acaba se envolvendo em um esquema de contrabando. A trama, que se passa contra o pano de fundo da crise econômica do Brasil nos anos 1990, trouxe à tona o talento de Fernanda Torres para representar personagens complexas e marginalizadas. Ela soube imprimir uma força emocional ao seu papel, equilibrando o drama da personagem com momentos de vulnerabilidade que tocaram profundamente o público.

Ainda Estou Aqui

Após se firmar como uma das maiores atrizes do Brasil, Fernanda Torres decidiu dar um passo audacioso. Ao aceitar o convite de Salles para interpretar Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui, a atriz sabia que estava prestes a embarcar em um dos papéis mais desafiadores de sua carreira. O filme, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, conta a história de Eunice, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar brasileira. O filme explora a luta de Eunice para encontrar seu marido e lidar com os traumas da repressão militar, numa história marcada pela dor, a perda e a resistência.

Fernanda Torres se preparou intensamente para esse papel, adotando uma disciplina de treino físico e psicológico que incluiu a perda de 10 kg, para transmitir com veracidade a angústia e a tenacidade da personagem. A interpretação foi um divisor de águas, mostrando a atriz como uma profissional capaz de transitar do humor para o drama de maneira impressionante. Ao retratar a dor de uma mulher que perde seu companheiro e enfrenta a brutalidade de um regime, Torres não só se mostrou uma atriz de grande técnica, mas também alguém profundamente comprometida com o impacto emocional de seu trabalho.

Trailer oficial do longa “Ainda Estou Aqui”, estrelado por Fernanda Torres

Versatilidade que transcende as telas

Ao longo de sua carreira, Fernanda Torres não se limitou apenas à atuação. Ela se aventurou também como escritora e roteirista. Em 2013, publicou seu primeiro romance, “Fim”, que foi adaptado para a televisão em 2023. A obra e sua adaptação receberam elogios por sua reflexão sobre a vida e a amizade, além de apresentarem o lado mais introspectivo de uma artista que sempre foi muito aberta ao público. Em 2019, ela estreou como roteirista no suspense “O Juízo”, filme dirigido por Andrucha Waddington, seu marido, no qual ela também atua.

Em paralelo à sua carreira literária e cinematográfica, Fernanda continuou a marcar presença no humor nas redes sociais, com muitos de seus personagens se tornando ícones da cultura pop brasileira. Suas falas e cenas de Os Normais e Tapas e Beijos se transformaram em memes, consolidando seu status de “queridinha da internet”.

Fernanda Torres viralizou nas redes sociais por diversos momentos icônicos

A Consagração no Globo de Ouro

Fernanda Torres nunca imaginou que chegaria tão longe. Numa recente entrevista, ela falou sobre como o trabalho em Ainda Estou Aqui parecia um ponto fora da curva em sua carreira, mas que foi justamente essa mudança de tom que a levou ao topo. Seu sucesso não é só um reflexo de seu talento como atriz, mas também da maneira como soube adaptar-se às diferentes fases da vida e da carreira.

A vitória no Globo de Ouro não foi apenas uma vitória pessoal de Fernanda, mas um marco para a arte brasileira. Ela se tornou a primeira atriz brasileira a conquistar a estatueta de Melhor Atriz em Filme Dramático, apenas a segunda indicadora da categoria, depois de sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada em 1999 por “Central do Brasil”.

O prêmio não só coroa sua carreira multifacetada, mas também destaca o caminho que ela trilhou, sem nunca se acomodar, sempre em busca de novos desafios. Agora, com seu nome gravado na história do cinema mundial, Fernanda Torres continua a inspirar gerações de artistas e fãs, provando que, quando se é verdadeira com sua arte, o reconhecimento é inevitável. E que venha o Oscar!

Fãs homenageiam Fernanda Torres nas redes sociais

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.