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Além dos tacos | O que as cenas de Abby em The Last of Us e Negan em The Walking Dead tem em comum

Quando brutalidade de um apocalipse zumbi se personifica

Na noite de domingo, 20 de abril de 2025, grande parte dos fãs de séries de TV e também dos games pararam em frente à TV para conferir uma das cenas mais esperadas da adaptação de The Last of Us da HBO.

O momento, protagonizado por Abby (Kaitlyn Dever) e Joel (Pedro Pascal), chocou e emocionou muitos espectadores, principalmente os que não passaram pela experiência no game e conseguiram fugir dos spoilers desde o início da série, em 2023.

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Essa, no entanto, não foi a primeira vez que um evento dessa magnitude tomou a atenção e causou ansiedade no grande público e um dos maiores e melhores exemplos da última década é a cena de Negan (Jeffrey Dean Morgan) no início da 7ª temporada de The Walking Dead, em 2017.

O Conecta Geek traz então uma análise sobre o impacto e as semelhanças dos momentos, que vão muito além da brutalidade do apocalipse zumbi e dos tacos esportivos.

ALERTA: A partir daqui, não pouparemos os spoilers das duas obras, principalmente referentes às cenas em questão. Além disso, vale destacar que, como tratam-se de duas cenas brutais, teremos imagens visualmente fortes e os detalhes podem incomodar leitores mais sensíveis.

A morte de Glenn pelas mãos de Negan

No primeiro episódio da sétima temporada de The Walking Dead acompanhamos sob o olhar das lembranças de Rick Grimes (Andrew Lincoln) como foi a trágica noite anterior. Nela, Negan, lider dos Salvadores, se apresentava ao grupo protagonista e, como represália por atitudes anteriores, matava dois integrantes: Abraham (Michael Cudlitz) e Glenn (Steven Yeun). Para isso, ele utilizou seu taco envolto em arame, que carinhosamente apelidou de Lucille, em “homenagem” a sua falecida esposa.

Muitos podem acabar esquecendo que Glenn não foi o único a morrer naquela noite, o que é justificável já que foi quem trouxe o maior peso dramático ao momento, por se tratar de um dos personagens secundários mais próximos do protagonismo, presente na série desde sua primeira temporada.

O adeus a Joel em The Last of Us

Já no segundo episódio da segunda temporada de The Last of Us temos de fato um protagonista morto de forma brutal: Joel não consegue fugir do acaso do destino e cai nas mãos justamente de quem buscava se vingar por suas atitudes ao fim da temporada anterior e não teve qualquer chance de revidar contra o grupo inimigo.

Após ser encurralado, o “pai adotivo” de Ellie tem sua perna estourada por um tiro efetuado por Abby antes ainda de ter sua cabeça acertada diversas vezes por um taco de golfe, presente no chalé em questão. Toda a parte mortal do momento foi obra de Abby, apresentada ao público no episódio anterior e que havia acabado de ser salva pelo próprio Joel ao ser perseguida por uma horda de infectados. Porém, a busca por vingança fez com que qualquer sentimento de gratidão não a impedisse.

A expectativa em torno do trágico

A primeira semelhança que podemos apontar é toda a expectativa gerada por ambas as cenas, mesmo que de formas distintas. A série da HBO já iniciou-se fazendo com que os fãs dos jogos pensassem: “será que veremos novamente Joel morrer?” O evento traumático foi então confirmado quando o anúncio da segunda temporada foi feito, adaptando assim parte do segundo título da franquia original.

Aqui vale destacar que toda essa ansiedade foi bem aproveitada pela produção da série, que utilizou de pequenos gatilhos nos trailers para atingir o público gamer. Além disso, com Joel fora da comunidade e Abby à sua procura, a própria trama nos faz sofrer já no momento em que os dois personagem se encontram na neve e vemos a ex-vagalume traçar uma verdadeira armadilha para o protagonista, levando-o ao abate certo.

Já no caso de The Walking Dead, o fator expectativa foi elevado ao limite, com direito a um marketing pra lá de especial. Contextualizando melhor, assim como em The Last of Us a ansiedade em torno da cena aumentou no hiato entre temporadas, porém com o fator especial de a 6ª temporada da série da AMC se encerrar justamente no momento em que Negan encontra o grupo protagonista com a promessa de matar um integrante.

O público advindo dos quadrinhos já esperava pela morte de Glenn, mas a forma como a série adaptava a obra original dava brechas para que ele não fosse o escolhido pelo vilão – e de fato não foi inicialmente. Resultado: um grande marketing da AMC em torno do retorno da série, proporcionando até mesmo um momento icônico com Jeffrey Dean Morgan entrando com o taco Lucille na Comic Con San Diego de 2016, enquanto o restante do elenco encontrava-se sentado, uma clara referência ao fim da temporada anterior.

Ação e reação

Bom, chegou a hora de tocar na ferida e admitir que Joel estava bem longe de ser um senhor bonzinho. Muito pelo contrário, já que ainda durante a primeira temporada somos apresentados a um Joel que, após a morte de sua filha Sarah, viu seu pior lado como ser humano aflorar, o que o manteve vivo por tantos anos um mundo pós-apocalíptico repleto de infectados e humanos deploráveis.

Ainda assim, o contato com Ellie trouxe reflexão e acalentou seu coração, fazendo ele acreditar ser possível recuperar o prazer em viver e não só sobreviver. Porém, quando ele percebe que esse direito seria retirado novamente de sua vida ele não pensa duas vezes e mata quase duas dúzias de pessoas para salvar a vida de sua “filha adotiva”, mesmo que isso acabasse com qualquer chance de cura da humanidade.

Dentre esses indivíduos estava o pai de Abby, justamente o médico que estava prestes a operar Ellie e foi abatido a sangue frio pelo protagonista com um tiro na cabeça. Como toda ação gera uma reação, após chegar ao local e ver que seu pai tinha sido uma das vítimas da chacina de Joel, Abby prometeu a si mesma vingança, o que culminou no traumático momento da segunda temporada de The Last of Us.

Em The Walking Dead, a morte de Glen e Abraham foi causada unicamente pela mente perturbada de Negan, mas o “efeito borboleta” do momento é desencadeado por Daryl (Norman Reedus), levantando até hoje discussões sobre se o personagem teve culpa pela morte de seus amigos.

O arqueiro favorito dos fãs de The Walking Dead não parecia crer no potencial agressivo dos Salvadores desde que se deparou com eles pela primeira vez. Sempre explosivo, após a morte de Abraham, Daryl partiu pra cima de Negan desferindo um soco no vilão. Resultado: antes de ser sequestrado e torturado, teve de assistir um de seus melhores amigos ser brutalmente assassinado, o que só ocorreu como “punição” de Negan ao desacato do Dixon.

O choque e o ódio por meio da brutalidade

Falando em brutalidade, este é mais um ponto em comum dentre as duas cenas, por mais que The Walking Dead consiga chocar ainda mais do que a série da HBO. Inclusive, por mais bem feita que tenha sido a maquiagem de Pedro Pascal para o momento, muitos fãs dos games apontam que a cena não foi tão visceral quanto a do material original, mas foi suficiente para fazer diversos espectadores se chocarem e, principalmente, despertar um “ódio comunitário” por Abby.

O mesmo ocorre na obra da AMC, onde somos apresentados a um Negan hediondo e claramente perturbado, capaz de tirar vidas como se não valessem mais nada após o apocalipse, causando um ódio quase que instantâneo em quem assiste – com um inesperado potencial de admiração pelo controverso carisma do personagem. Além disso, aqui o público não é poupado do fator brutal, com o sangue jorrando em tela – e principalmente em Lucille -, além de vermos sem qualquer tipo de censura dois personagens queridos terem suas cabeçadas trituradas de forma lenta e cruel, em um verdadeiro show de horrores.

Aqui vale o destaque para as atuações de Kaitlyn Dever e Jeffrey Dean Morgan. Negan impediu que seu sórdido e irônico discurso não fosse interrompido e podemos ver Jeffrey no auge de sua atuação, trazendo assim um cartão de visitas e tanto para seu personagem. Já Abby tem seu momento interrompido com um “cala a boca e me mata logo” de Joel, que intensificou o ódio da jovem e exigiu que Kaitlyn demonstra-se ainda mais seu potencial com a raiva estampada em seu rosto antes do momento ser interrompido por Ellie, que nos banhou com mais um show de atuação de Bella Ramsey.

Ou seja, ambas as cenas foram carregadas de um peso dramático altíssimo, levando os artistas envolvidos ao limite e tornando impossível não ser envolto pelos sentimentos expostos ali.

Pontos de ignição e a busca por vingança

Falando agora em importância narrativa, ambas as cenas não servem apenas para chocar e alertar o público, como também simbolizam verdadeiros “pontos de ignição” narrativos. A partir desses dois momentos marcantes, ambas as séries sinalizam que tempos sombrios e ainda mais brutais estariam por vir, dando início a uma nova era e o fim de qualquer tipo de calmaria.

Além disso, as duas cenas provocam a sede de vingança em personagens cruciais para a trama. Tanto Ellie quanto Maggie (Lauren Cohan), a parceira de Glenn, viram de perto a morte de seus entes queridos e, após lidarem com o luto, buscam pela vingança, causando assim não apenas o debate sobre esse sentimento como também aproximam o espectador por meio da empatia. Afinal de contas, o que você faria em seus lugares?

Qual foi a melhor adaptação?

Como citado mais acima, a morte de Joel não agradou os que esperavam por uma representação mais detalhista. Além disso, no game o momento é envolto por mais surpresa, visto que ainda não sabíamos das reais intenções de Abby em seu primeiro encontro com Joel.

No entanto, a cena agradou aos fãs mais maleáveis e compreensíveis e fez com que fosse possível reviver de forma tão triste quanto antes um dos eventos mais icônicos e desesperadores dos videogames. Ou seja, o momento dividiu opiniões, muito pela dificuldade que há em adaptar um jogo sem que apenas copie os detalhes, o que prejudicaria o fator originalidade.

Já The Walking Dead tinha a seu favor naquele ponto o fato de que nunca foi uma das adaptações mais fieis ao material original e nem sequer sabíamos se realmente seria Glenn a ser morto por Negan. Sendo assim, o elemento surpresa após Abraham ser abatido – já que ninguém esperava por uma segunda morte – foi positivo para os “sádicos” que aguardavam pela fidelidade na morte de Glenn e a recriação de uma das páginas em detalhes foi suficiente pra agradar grande parte dos fãs da HQ original.

No fim, as duas séries mostram como a crueldade humana ganha força em situações extremas – em ambos os casos um apocalipse zumbi. Assim vemos que, não importa o quanto o mundo mude, o maior perigo presente nele sempre será o próprio ser humano.

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Colaborador do Conecta Geek desde 2024, nasci no estado do Rio de Janeiro e alinho minhas maiores paixões à minha vocação através da produção de conteúdo. Entre as minhas áreas de maior domínio e experiência profissional estão o o universo geek, o automobilismo e os esportes em geral, principalmente o futebol. Certificado como Jornalista Digital e Social Media pela Academia do Jornalista, contribui no passado como Editor-chefe nos portais R7 Lorena e iG In Magazine e fui Colaborador do portal esportivo Torcedores.