Logo de cara, Wizordum abre as portas de um universo mágico e vibrante, deixando para trás o marasmo de cinzas e escuridão de tantos boomer shooters. Cada ambiente tem personalidade própria: desde vilarejos tomados por neblina e lanternas tremeluzentes até mansões góticas com vitrais coloridos, passando por cavernas de lava incandescentes que parecem pinturas em chamas.
Atmosfera e identidade visual que se destacam
Essa paleta de cores ousada faz um contraponto interessante ao tom sério de Heretic/Hexen, conferindo leveza sem perder o clima de aventura. A trilha sonora, com suas guitarras atmosféricas e toques de piano, acompanha cada ambiente com sutileza, equilibrando tensão e empolgação.
Além disso, os efeitos sonoros são satisfatórios: o “whoosh” de um fireball, o estalo do glaive de gelo e o estrondo de um trovão mágico soam com peso. Essas escolhas auditivas reforçam o feedback ao jogador, fazendo cada feitiço parecer único e impactante.
Exploração que não cansa
Um dos pilares de qualquer shooter à la Heretic é a sensação de descoberta. Em Wizordum, a busca por segredos é quase compulsiva. Você vai trombar com paredes falsas, passagens camufladas e mecanismos escondidos que levam a salas secretas cheias de tesouros. E não é só ouro: há itens de cura, pergaminhos com magias extras e até montarias improváveis — como o rat-mount, um ratinho que você pode convocar para atropelar goblins desavisados.
Normalmente, explorar em jogos antigos podia virar tédio: voltar por corredores repetitivos só para encontrar mais munição. Aqui, cada canto oferece uma recompensa que vale o tempo investido. O level design se apoia em mapas inteligentes, com atalhos que facilitam a volta, mas sem entregar tudo de bandeja. O utilitário de mapa é claro e ajuda a não se perder, mantendo o equilíbrio entre desafio e diversão.

Progressão e elementos de RPG que engancham
Um trunfo de Wizordum é adicionar uma camada leve de RPG à fórmula clássica. Ao final de cada fase, você gasta o tesouro coletado numa lojinha: compra buffs de vida, aumenta o número de feitiços que pode carregar, desbloqueia habilidades especiais para as armas ou adquire melhorias definitivas no personagem. Essa sensação de “crescer” ao longo do jogo dá um peso extra aos segredos encontrados — afinal, não é só vaidade: seu Cleric ou sua Sorceress fica realmente mais forte.
Falando em personagens, você escolhe entre dois arquétipos:
- Clérigo (maceiro, vida e armadura maiores, movimento mais lento)
- Feiticeira (frágil, porém rápida, com maior capacidade mágica)
Cada um tem um feitiço primário e uma arma única, o que muda um pouco o ritmo do combate. Embora a estrutura das fases seja a mesma, jogar com a Feiticeira é uma experiência mais “glass cannon”, enquanto o Clérigo é um tanque que avança no meio da horda inimiga. Isso gera replay value: vale zerar de novo para experimentar a outra pegada.

Combate e sensação de poder
No miolo do jogo, o que importa é atirar magia e esmagar criaturas bizarras. Wizordum acerta em cheio na responsividade dos controles: mirar, disparar e esquivar funcionam sem atrito. As armas místicas têm feedback tátil e sonoro que gratifica o jogador. Alguns exemplos:
- Ice Staff: congela inimigos com um “crack” gelado, permitindo shatter combos que rendem visão gore e pontos extras.
- Fireball Ring: solta esferas flamejantes em arco, ótimas contra grupos.
- Lightning Gauntlets: descarga elétrica de curto alcance, ideal para contornar defesas.
Além das armas, há itens de uso único (poções de invisibilidade, cura, buffs de velocidade) que adicionam estratégia, especialmente em dificuldades mais altas. Combinar uma invisibilidade repentina com um fireball em área cria momentos épicos de “sobrevivência por um fio”.
Estrutura episódica e evolução no design
Wizordum se divide em três episódios, cada um com cerca de 4–5 níveis principais e um boss. A evolução entre eles é nítida:
- Episódio 1: serve como tutorial disfarçado. Cenários mais contidos (vilarejos e ruínas simples), inimigos básicos e quebra-cabeças introdutórios. Cumpre bem seu papel, mas peca pela repetição visual em alguns trechos.
- Episódio 2: eleva a criatividade. Destaque para o nível do navio goblin, com decks estreitos e porões inundados. Surge variedade de traps, puzzles com alavancas e portas de pressão. A ambientação fica mais interessante e a dificuldade, mais estimulante.
- Episódio 3: o ponto alto. Mapas intrincados (minas labirínticas, catacumbas interconectadas), desafios de coleta de gemas para destravar portais centrais e segredos de alto risco/recompensa. É aqui que o level design brilha: você explora caminhos alternativos, mas sem ficar perdido, graças ao mapa bem calibrado.
Cada episódio termina em um boss fight. Embora alguns chefes ainda se comportem como “bullet sponges” — o que pode cansar quem busca complexidade — há tentativas de mecânicas adicionais, como padrões de ataque variáveis e pontos fracos expostos só em certos momentos.

Pontos de atenção: bugs e colocações
Nenhum jogo indie está imune a imperfeições, e Wizordum não foge à regra:
- Em algumas ocasiões, inimigos podem ficar presos em geometrias, impossibilitando confrontos limpos.
- Um bug isolado me lançou abaixo do mapa, forçando reload de save.
- Chefes, por vezes, permanecem estáticos, reduzindo o desafio.
Felizmente, a equipe de Emberheart Games demonstra agilidade em corrigir problemas, e a versão final promete patches rápidos pós-lançamento.
Comparação com os clássicos
Embora Wizordum beba diretamente da fonte de Heretic/Hexen, ele não tenta ser um clone 1:1. A substituição de armas de metal por feitiços, o visual colorido e a progressão em forma de RPGzinho conferem identidade própria. Se Heretic era soturno e pesado, Wizordum é leve e brincalhão. Para fãs de boomer shooters, isso pode parecer um “downgrade” temático, mas, na prática, é refrescante.
Conclusão
No fim das contas, Wizordum faz o que se propõe: entregar um shooter mágico, repleto de exploração e feitiços poderosos, sem empacar no saudosismo. É o tipo de jogo que você começa “só para dar uma olhada” e, de repente, já se passaram horas de “foilagem” em paredes falsas e detonação de monstros gelados.
Se você está sedento por um sucessor espiritual de Heretic/Hexen, mas queria algo com pitadas de modernidade e progressão constante, Wizordum é escolha certeira. Leva uns ajustes aqui e ali, mas, no geral, brilha como um feitiço bem lançado.
Diversão garantida, bugs consertáveis e muito conteúdo para explorar. Prepare seu cajado (ou maça), escolha seu personagem e embarque nessa aventura mística!
Leia também:
Deixe uma resposta