Quando a gente vê um trailer de live-action de um clássico animado, a empolgação e o medo andam de mãos dadas. De um lado, a possibilidade de conferir nossos personagens favoritos sob uma nova ótica; do outro, o pesadelo de roteiro raso, CGI genérico e elenco sem alma. Já tivemos adaptações memoráveis, mas também algumas que… bom, prefiro não lembrar. Por isso, montamos uma lista de 10 animações, de várias partes do mundo, que merecem ganhar uma versão live-action, porém só se rolarem três cláusulas de ouro:
- Respeito ao material original: nada de invenções sem sentido;
- Direção criativa de verdade: gente que entenda a essência da obra;
- Orçamento digno de Oscar: efeitos e locações à altura.
Confira a nossa lista:
1 – O Príncipe do Egito (1998)
A DreamWorks entregou tudo em um épico bíblico que emociona até hoje: a jornada de Moisés, sua conexão com o divino e a libertação do povo hebreu. Com uma trilha sonora inesquecível e uma estética grandiosa, a animação mistura realismo, simbolismo e emoção em níveis cinematográficos.

Por que merece live-action?
Os cenários egípcios, o deserto, os palácios, as pragas — tudo poderia ganhar uma escala de “Gladiador” (2000) ou “Duna” (2021), com direção de arte meticulosa e um elenco que represente corretamente o Oriente Médio e o Norte da África. A música? Que venha orquestrada e emocionante.
O que não pode acontecer?
Hollywood tem histórico de errar feio no whitewashing. Se colocarem atores brancos e apagarem a força cultural e religiosa da história, o live-action já nasce cancelado.
2 – A Viagem de Chihiro (Spirited Away, 2001)
Talvez o maior clássico do Studio Ghibli, a obra-prima de Hayao Miyazaki é uma viagem cheia de espírito, simbolismo e criaturas fantásticas. É quase uma versão oriental de “Alice no País das Maravilhas”, só que mil vezes mais sensível.

Por que merece live-action?
Com a tecnologia atual, seria possível recriar o mundo do banho dos deuses, o Sem Rosto e o trem sobre as águas de forma mágica. A direção, claro, teria que vir do Japão. Se for Hollywoodiano, só sob a bênção de Miyazaki.
O que não pode acontecer?
Tornar tudo muito literal. O charme de Chihiro está nas entrelinhas, nos silêncios, no surreal que não precisa de explicação. Se tentar explicar tudo, já era.
3 – Your Name (Kimi no Na wa, 2016)
Makoto Shinkai entregou um romance adolescente com trocas de corpo, viagem no tempo e uma das reviravoltas mais bem construídas da história da animação japonesa. Emocionante do início ao fim, e com visuais de tirar o fôlego.

Por que merece live-action?
A história tem potencial para ser contada com atores reais sem perder sua força, desde que a ambientação em Tóquio e no interior do Japão seja respeitada. A trilha do RADWIMPS poderia ganhar versões ao vivo, adaptadas à narrativa.
O que não pode acontecer?
“Americanizar” demais. A troca cultural entre os mundos dos protagonistas é essencial. Tirar isso é tirar metade da alma do filme.
4 – Paprika (2006)
Antes de “A Origem” (Inception, 2010), já existia Paprika, de Satoshi Kon. Psicodélico, enigmático e brilhante, o filme acompanha psicólogos que invadem sonhos usando uma máquina experimental. Um desfile de imagens absurdas e perturbadoras.

Por que merece live-action?
Uma direção estilo Ari Aster, Jordan Peele ou Villeneuve poderia fazer milagre com os conceitos visuais de Kon. O terror onírico, os simbolismos e a instabilidade da realidade renderiam cenas icônicas com o uso de efeitos práticos.
O que não pode acontecer?
Transformar em só mais um thriller sci-fi com “tiroteio nos sonhos”. Paprika é sobre identidade, trauma e percepção. Não é só sobre correr por corredores surreais.
5- Atlantis: O Reino Perdido (2001)
Uma das produções mais injustiçadas da Disney. Uma aventura cheia de exploração, mitologia e tecnologia antiga, com uma vibe steampunk incrível e um dos elencos mais diversos da época.

Por que merece live-action?
Exploração submarina em cenários reais, tribos secretas com cultura própria, e um visual inspirado em desenhos de Mike Mignola (criador de Hellboy). Poderia ser um sucesso nas mãos certas.
O que não pode acontecer?
Tentar transformar em algo mais infantil ou pasteurizado. O clima de aventura adulta é o que faz Atlantis ser especial.
6 – O Gigante de Ferro (1999)
Um robô alienígena com cara de destruidor de mundos que, na verdade, só quer ser amigo de um garotinho. Uma fábula sobre guerra, medo e aceitação. Simples e linda.

Por que merece live-action?
Uma vibe anos 50, 60, 70 ou começo dos anos 80, meio Stranger Things (2016), com o robô sendo feito com efeitos práticos (ou uma mistura de CG e animatrônico) seria emocionante. A direção precisa manter a sutileza do original.
O que não pode acontecer?
Hollywood adora robôs que explodem tudo. Se fizerem isso aqui, vão destruir o coração do filme.
7 – O Caminho para El Dorado (2000)
A dupla Miguel e Tulio é uma das mais carismáticas da animação. Comédia, aventura e mitologia mesoamericana em um combo perfeito, que só melhoraria com mais representatividade.

Por que merece live-action?
Um elenco latino, locações no México ou América Central e figurinos coloridos dariam uma ambientação visualmente deslumbrante. Que seja um filme leve, engraçado e com identidade.
O que não pode acontecer?
Achar que piada é mais importante que respeito cultural. E, por favor, sem colocar ator branco de olhos verdes como deus Maia.
8- Perfect Blue (1997)
Popstar japonesa começa a ter colapsos psicológicos após deixar a carreira para virar atriz. Entre perseguições e confusão mental, o suspense vai escalando até o terror.

Por que merece live-action?
Esse aqui já é quase um live-action no jeito como é dirigido. Um thriller psicológico denso, com tensão crescente e muito debate sobre fama, mídia e identidade. Combina com um diretor tipo Darren Aronofsky ou Park Chan-wook.
O que não pode acontecer?
Sexualizar a protagonista à toa. Esse filme é sobre abuso e paranoia, não é pra fazer “suspense erótico”.
9- A Lenda de Korra (2012–2014)
Spin-off de Avatar: A Lenda de Aang, essa série foi ousada, madura e visualmente ainda mais rica. A história da Avatar Korra explora temas como política, espiritualidade e representatividade LGBTQIA+.

Por que merece live-action?
As cenas de ação poderiam ser insanas em live-action, com coreografias de luta estilizadas e efeitos de dobra dos elementos. E a estética do universo, uma mistura de culturas asiáticas e indígenas com art déco, tem tudo pra brilhar nas telas grandes.
O que não pode acontecer?
Apagar a bissexualidade da Korra ou tratar os temas políticos com superficialidade. Se não quiser lidar com essas camadas, nem mexe.
10 – Operação Big Hero (Big Hero 6, 2014)
Fusão de anime com Marvel, robôs fofos com super-engenharia e temas como luto, amizade e coragem. Hiro Hamada e Baymax são uma das duplas mais carismáticas da Disney moderna.

Por que merece live-action?
San Fransokyo poderia ser uma cidade futurista sensacional em live-action. Baymax precisa ser fofo, mas convincente, talvez com uma abordagem estilo animatrônico e CG suave. As cenas de ação renderiam um show visual.
O que não pode acontecer?
Transformar tudo em um filme de super-herói genérico, esquecendo o coração da história: um garoto tentando superar a dor com ciência, amigos e afeto.
Bônus: O Menino e o Mundo (2013)
Animação brasileira indicada ao Oscar, com estética infantil e crítica social poderosa. Uma jornada visualmente única de um menino tentando entender um mundo desigual e desumanizante.

Por que merece live-action?
Seria incrível ver essa história contada por atores mirins em locações brasileiras reais, com trilha instrumental e direção artística inspirada em pintura, grafite e arte popular.
O que não pode acontecer?
Tentar deixar “comercial” demais. O filme original é poético, lento, reflexivo, e é exatamente isso que o torna especial.
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