Julia Mestre segue explorando sua veia pop e as referências da mpb em Maravilhosamente Bem, seu terceiro e mais novo álbum. Se no antecessor, “Arrepiada” (2023), a cantora e compositora carioca traça um novo caminho artístico após o fim do Bala Desejo, grupo do qual fez parte, aqui ela refina esse caminho e apresenta um som mais confiante, mais maduro e deliciosamente familiar.

Ao longo das 11 faixas, Maravilhosamente Bem se volta para o pop brasileiro da década de 1980 e traz uma boa dose de sintetizadores, guitarras e baixos voltados para as pistas de dança. Nomes como Rita Lee e Guilherme Arantes servem como referência nítida aqui, porém sem se sobressair da identidade da própria artista.
Julia sabe bem atualizar esses elementos e encontrar o fino equilíbrio que leva sua música para além da nostalgia e da referência vazia. Essa sonoridade bem resolvida se deve, é claro, a produção caprichada da própria artista com Gabriel Quinto (guitarras e violões), Gabriel Quirino (piano elétrico e sintetizadores) e João Moreira (baixo).
A abertura com a faixa-título é um tiro certeiro que já conquista no primeiro toque de sintetizador e te põe pra dançar com um refrão bem ritmado e chiclete. “Sou Fera” vem em seguida e adiciona uma camada a mais de sensualidade ao som e ao canto de Julia. “Vampira”, única faixa que não foi composta pela carioca, é encaixada no universo de “Maravilhosamente Bem” em uma interessante releitura da canção do porto-riquenho e ex-menudo Rey Reyes (1970 – 2021).
“Pra Lua” é uma balada atmosférica com toda a cara de um hit romântico de meados dos anos 1980 como “Desculpe o Auê”. “Veneno da Serpente” aponta para a música eletrônica e elementos mais contemporâneos, construindo uma boa ponte de referências. Já “Canto da Sereia” parte para um momento um tanto mais acústico do disco, porém sem perder a coesão.
“Sentimento Blues” é uma regravação da canção de Julia em parceira com Danilo Cutrim e Jean Charnaux, integrantes do duo daBossa, em uma bela versão, que destaca a interpretação da cantora e compositora. “Seu Romance” é mais uma boa balada, que mantém o pique da obra, composta em parceira com Tom Veloso.
“Marinou Limou” é uma disco music dedicada a outra grande referência do disco: Marina Lima. Julia homenageia a conterrânea com uma letra que faz várias referências ao repertório da veterana do pop nacional e ainda conta com a participação da própria com falas inseridas entre o refrão. “Cariñito” encerra o disco com um clima mais etéreo, mantendo a elegância.
Julia Mestre segue por uma vertente bastante pessoal e afetiva do pop e cresce como artista mostrando maturidade e segurança cada vez mais afinadas em “Maravilhosamente Bem”. Trazendo referências de mestres do pop dos anos 1980 para o universo contemporâneo, a cantora e compositora mostra que está pavimentando uma estrada sólida para sua carreira solo.
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