Kali Uchis para o álbum Sincerely,
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Crítica | Kali Uchis está mais romântica do que nunca em ‘Sincerely,’

Mesmo se mantendo bastante produtiva, com uma sequência de um álbum por ano desde “Red Moon In Venus” (2023), Kali Uchis consegue entregar obras distintas, com identidades bem definidas e sempre mantendo um nível de excelência impressionante. Tudo isso se confirma novamente com Sincerely, sétimo e mais novo disco da cantora.

Após celebrar sua herança latina, mesclando com referências do soul e do r&b, em “Orquídeas” (2024), Kali agora volta a cantar em inglês e transita entre o soul clássico e o neo soul em um álbum mais intimista e que brinca com as sonoridades das décadas de 1960 e 1970. Ao longo das 14 faixas, a colombiano-americana explora mais afundo suas referências da black music, mas sem nunca soar repetitiva ou presa a nostalgia. Tudo aqui mantém um frescor e um brilho que poucos artistas sabem encontrar.

Capa de Sincerely,
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“Sincerely,”, como o título já indica, também é marcado pelo nível de intimidade que a cantora abre para o público. O disco realmente parece uma carta em que Uchis vai contando sobre seus sentimentos mais vulneráveis e as mudanças que vieram com a maternidade, mas mantendo uma boa dose de romantismo e delicadeza que casam perfeitamente com a sonoridade. “Eu sempre fui uma romântica incurável ”, canta ela em “Sunshine & Rain”.

“Heaven is Home” abre o álbum de forma cinematográfica, com uma letra existencialista que já nos transporta imediatamente para a atmosfera que Kali Uchis vai construindo. “Sugar! Honey! Love!” lembra Lana Del Rey, porém com um canto mais doce. “Lose My Cool” inicia como uma balada pop romântica envolvente e se estende ao longo de 6 minutos, desembocando em um softrock atmosférico.

“It’s Just Us” é mais uma deliciosa canção romântica que bebe diretamente na fonte das baladas dos anos 1970. “For: You” apresenta uma bela fusão do soul com synth-pop, destacando a produção madura e afinada da própria artista em parceria com Dylan Wiggins e Josh Crocker. “Silk Lingerie” traz um toque a mais de sensualidade, ao mesmo tempo em que escancara vulnerabilidade na letra: “Como você se apaixonou por alguém tão complicado e cheio de falhas quanto eu?”, canta.

“Territorial” contrasta a interpretação r&b com um arranjo delicado, de toques jazzísticos e orquestrais. Em “Fall Apart” o que se sobressai é o domínio vocal de Kali Uchis que funciona como um instrumento a parte na canção. Em “All I Can Say”, um dos melhores momentos do disco, a artista encarna uma cantora da década de 1950 em um rock que captura o romantismo e a ingenuidade da época.

“ILYSMIH” encerra o disco lindamente com uma canção dedicada ao filho da cantora e que resume o sentimento de amor incondicional que permeia toda a obra: “Ele me mostrou o que minha vida realmente valia / Aqui na terra / E dói, dói, dói”.

Kali Uchis reafirma mais uma vez em “Sincerely,” que sua trajetória artística segue em uma curva ascendente sem sinais de desaceleração. A cantora entrega mais um álbum excelente, que avança em relação aos anteriores, diverte, surpreende e a mantém como uma das artistas mais criativas do pop nos últimos anos.

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