A segunda temporada de The Last of Us chegou oficialmente ao fim. Ao longo de sete episódios, o seriado da Max apostou em traduzir os eventos dos jogos para a televisão. Levando em consideração a complexidade da trama no segundo jogo da franquia, não havia como a missão de adaptar esta história ser fácil.
Afinal, The Last of Us é uma boa adaptação? Muitos fatores influenciam na direção da resposta a essa pergunta, incluindo opinião pessoal. Indo além do que podemos julgar como um todo, separamos aqui as principais mudanças que conseguimos encontrar na série em relação ao jogo The Last of Us Part II, e como ela entregaram uma visão diferente daqueles eventos.
The Last of Us – Contextualização da História
O começo da segunda temporada é essêncial para o decorrer da história. Na obra original, somos convidados a acompanhar Ellie neste novo momento em sua vida. Em um forte contraste com a primeira temporada, vemos uma personagem fria e menos entusiasmada, sentimento cultivado após os diversos desentendimentos com Joel.
Essa atmosfera está sim presente na série, porém com algumas mudanças. Ellie, aqui interpretada por Bella Ramsey, apresenta as mesmas mudanças psicológicas mostradas nos jogos, entretanto, ela não abandona seu lado sarcástico e brincalhão de antes.
Essa mudança permanece viva até os momentos finais da temporada. Ainda que pareça algo simples, essa alteração muda nossa percepção perante a história. Enquanto o jogo aborda com firmeza a temática da vingança e ciclo de violência, o seriado flutua em diversas sensações.
Um montagem menos inspirada
Outro fator importante é a montagem da série. No jogo, o início da história é linear, mostrando o presente, e aos poucos testemunhamos as ocorrência de um passado recente na vida de Joel e Ellie. Na série, porém, temos uma mistura na linha do tempo.
Aqui, a história começa no dia da festa de ano novo, no dia anterior a morte de Joel. Após o trágico evento, a série avança três meses no futuro, seguindo os eventos que, no jogo, acontecem em um pouco mais de um dia depois da morte do personagem.
Além disso, um dos momentos mais importantes da história, a conversa entre Ellie e Joel no ano novo, acontece em momentos diferentes na série. No jogo, a cena em questão é uma das últimas da história, servindo de ressignificar toda aquela longa trajetória que acompanhamos.
O seriado muda essa perspectiva e mostra a cena no penúltimo episódio da temporada, em um momento que se aproxima do fim do primeiro ato na história original. A presença dessa cena logo no começo do desenvolvimento muda completamente o recorte proposto pelo jogo, principalmente em relação ao sentimento de Ellie perante a Joel.
Abby
O seriado apostou logo no início em revelar as intenções de Abby para o público. Literalmente a primeira cena da temporada mostra a personagem lamentando a morte de seu pai, e indicando seu desejo por vingança. Essa introdução, porém, não existe no jogo.
Na história original, Abby aparece com seu grupo em uma cabana perto de Jackson enquanto planeja atacar uma pessoa em específico na comunidade. Somente descobrimos que esta pessoa era Joel quando ele foi encurralado por Abby e seus amigos, na cena que levaria a sua morte.
Além disso, a própria cena em questão é feita de maneira diferente na série. Aqui, Abby faz questão de contar para Joel o motivo daquela agressão. Isso é mantido em segredo no jogo até o início do segundo ato. Essa mudança, assim como as outras, também muda nossa perspectiva perante a série, justificando o desejo de vingança de Abby.
Ação e Reação
Assim como destacado anteriormente, o tema central de The Last of Us é vingança. Além disso, podemos atribuir também uma temática em torno de ação e reação, algo que fica ainda mais determinante com algumas mudanças feitas na série.
É interessante notar que, no jogo, Ellie pretendia se vingar de Abby por conta própria, sozinha. Tanto Dina quanto Jesse e Tommy foram para Seattle por contra própria, seja para proteger Ellie ou para também exercerem vingança com suas próprias mãos.
A série nos mostrou uma perspectiva diferente, encarregando Ellie da responsabilidades dos eventos futuros. Aqui, Dina também acompanhou a parceira por vontade própria, é verdade, mas a permanência da personagem naquele ambiente hostil após o anúncio da gravidez foi tratado com desleixo por Ellie.
No jogo, a revelação causa uma preocupação imediata. Isso é nítido pelo fato de que Dina é logo retirada da ação, evitando qualquer conflito e embate físico, decisão tomada pela dupla de maneira mútua. No seriado, a personagem continua envolvida nas ações pós revelação.
Além dela, Jesse e Tommy também aparecem em Seattle graças a Ellie no seriado, em uma espécie de missão de resgate. Acontece que, no jogo, ambos são introduzidos ao conflito de maneira voluntária, independente do desejo de Ellie.
Essa mudança pode parecer pequena, mas sua repercussão é enorme. Caso não fosse o suficiente colocar a vida de Dina e Tommy em risco, as escolhas de Ellie terminaram também na morte de Jesse no último episódio, bem quando o personagem havia acabado de descobrir que seria pai. O momento, portanto, ganhou ainda mais peso por atribuir uma sensação de culpa para a protagonista.
Menores mudanças
Entre as alterações mais determinantes, temos também a adição de cenas que não existem no jogo. Todas as cenas da terapeuta de Jackson, por exemplo, não existem na obra original. A personagem foi criada exclusivamente para a adaptação como um artifício para entendermos um pouco mais sobre o estado psicológico dos personagens.
Além disso, o seriado também apresenta cenas inéditas de Isaac, o líder dos WLF. Aqui, chegamos a ver o momento em que o personagem se rebela contra os soldados da FEDRA e se junta ao novo grupo, além de uma cena em que vemos a opinião do personagem perante Abby, já com um gancho extra para os acontecimentos da próxima temporada.
Por fim, The Last of Us conseguiu reproduzir algumas cenas com uma maior fidelidade, como a cena do ano novo e a própria morte de Jesse, por exemplo. No final, é inegável que os desenvolvedores da série tentaram introduzir algum conceito ou ideia diferente para a obra, ainda que isso cause um distanciamento da história original,
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