Como Andor elevou Star Wars a um novo patamar e melhorou até a trilogia clássica
LucasFilm/Divulgação

Como Andor elevou Star Wars a um novo patamar e melhorou até a trilogia clássica

Quando “Rogue One: Uma História Star Wars” chegou aos cinemas em 2016, muitos fãs o receberam com um misto de surpresa e ceticismo. Afinal, era um filme derivado, sem jedis ou sabres de luz, focado em um grupo de soldados desconhecidos cujo destino já estava selado: todos morreriam para que os planos da Estrela da Morte chegassem às mãos da Princesa Leia. Apesar de seu final emocionante e da cena icônica de Darth Vader massacrando rebeldes no corredor, Rogue One ainda parecia apenas um “tapa-buraco” bem executado—uma explicação para um detalhe menor da trilogia original.

Mas então veio Andor.

A série da Disney+, que muitos achavam desnecessária (afinal, quem precisava da história de Cassian Andor, o quinto personagem mais interessante de Rogue One?), fez o impossível: não apenas justificou sua própria existência, como transformou Rogue One em um filme melhor. E, de quebra, enriqueceu toda a mitologia da Aliança Rebelde, dando profundidade à luta que antes só conhecíamos pela ótica dos Skywalkers.

Como Andor elevou Star Wars a um novo patamar e melhorou até a trilogia clássica
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A Disney, desde que assumiu Star Wars, tentou preencher lacunas da cronologia com produções que muitas vezes pareciam feitas apenas para capitalizar nostalgia. “O Livro de Boba Fett” e “Obi-Wan Kenobi” são exemplos de séries que, embora divertidas, não acrescentaram muito ao universo — apenas confirmaram o que já sabíamos. “Han Solo” tentou explicar cada detalhe da vida do contrabandista, tirando parte do charme do personagem.

Andor fez o oposto. Em vez de se apoiar em easter eggs ou aparições de personagens famosos, a série mergulhou na política suja, nos sacrifícios morais e na realidade brutal de viver sob o Império. Cassian Andor, que em Rogue One era apenas um soldado cínico disposto a fazer o que fosse necessário, ganhou camadas. Sua jornada não é sobre se tornar um herói, mas sobre entender por que a rebelião vale o preço que cobra.

E aqui está o pulo do gato: Andor não melhora apenas a si mesma, mas Rogue One também. Quando reassistimos o filme depois da série — como fiz um dia antes de escrever esse artigo —, a morte de Cassian não é mais só um momento triste — é a conclusão de um arco que começou com um homem que não acreditava em nada e terminou com alguém disposto a morrer por uma causa.

A Aliança Rebelde como nunca a vimos

Até Andor, a Rebelião em Star Wars era um grupo idealizado. Lutadores corajosos, liderados por Leia, Mon Mothma e Bail Organa, enfrentando o mal com esperança. Mas a série nos mostra que a resistência foi construída com sangue, traição e escolhas impossíveis.

Como Andor elevou Star Wars a um novo patamar e melhorou até a trilogia clássica
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Luthen Rael, um dos personagens mais fascinantes da série, personifica isso. Ele não é um herói — é um homem que se sujou para que outros permanecessem limpos. Sua fala no episódio 10 da 1ª temporada é uma das mais impactantes de Star Wars:

Estou condenado a usar as ferramentas do meu inimigo para derrotá-los. Queimo minha decência pelo futuro de outra pessoa. Queimo minha vida para fazer um nascer do sol que sei que nunca verei. 

Essa é a essência do que Andor traz: a Rebelião não venceu porque Luke Skywalker era especial. Ela venceu porque pessoas comuns, como Cassian, Luthen, Nemik e Maarva, se recusaram a aceitar o Império—mesmo sabendo que não veriam a vitória.

E é aqui que a série conecta-se brilhantemente com “Uma Nova Esperança”. Quando Luke olha para o horizonte no começo do filme de 1977, sonhando com uma vida além de Tatooine, ele não sabe quantos morreram para que aquele momento fosse possível. Andor nos mostra. E isso muda tudo.

Star Wars sempre foi político

George Lucas sempre disse que Star Wars era uma crítica à guerra do Vietnã, com o Império representando o imperialismo americano. Mas, nos filmes, essa crítica ficava subtextual — o Império era mau, a Rebelião era boa, e ponto.

Andor tira as metáforas e mostra o fascismo em ação. Vemos burocratas do Império discutindo como aumentar a produtividade das prisões. Vemos oficiais usando a mídia para manipular a opinião pública. Vemos protestos sendo reprimidos com violência. Tudo isso soa familiar? Deveria.

A série não tem medo de explorar como regimes autoritários funcionam — não apenas com tropas de choque, mas com burocracia, medo e conformismo. E, ao fazer isso, torna a vitória da Rebelião na trilogia original ainda mais significativa. Não é apenas sobre destruir uma Estrela da Morte — é sobre derrotar um sistema que esmaga vidas todos os dias.

Uma nova esperança para Star Wars

Como Andor elevou Star Wars a um novo patamar e melhorou até a trilogia clássica
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Andor poderia ter sido só mais uma série de Star Wars. Em vez disso, tornou-se uma das melhores coisas já feitas na franquia — e uma das melhores séries de TV/Streaming dos últimos anos.

Ela prova que histórias “secundárias” podem ser tão importantes quanto as dos heróis principais. Que é possível fazer um drama político maduro dentro de um universo de ficção científica. E, acima de tudo, que Star Wars ainda tem muito a dizer — desde que tenha coragem de arriscar.

Afinal, Andor não é apenas sobre Cassian. É sobre todos que lutam mesmo quando a esperança parece perdida. E, nesse sentido, é a história mais Star Wars de todas.

Que a Força esteja com ela.

Andor, Rogue One e os demais filmes e séries do universo Star Wars estão em streaming no Disney+.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.