Crítica | Elio: Uma jornada intergaláctica sobre solidão e pertencimento
Pixar/Divulgação

Crítica | Elio: Uma jornada intergaláctica sobre solidão e pertencimento

Em Elio, o mais recente lançamento da Pixar, a solidão não é apenas um tema, mas uma paisagem emocional que se estende da Terra às estrelas. O filme, dirigido por Madeline Sharafian, Domee Shi e Adrian Molinato, tenta equilibrar a grandiosidade visual típica do estúdio com uma narrativa íntima sobre luto e conexão. A história acompanha Elio, um garoto órfão que, ao ser erroneamente confundido com o representante da Terra por uma comunidade alienígena, embarca em uma aventura cósmica em busca de aceitação. O resultado é uma obra que oscila entre o comovente e o previsível, mas que, no fundo, guarda uma sinceridade difícil de ignorar.

Logo nos primeiros minutos, a fotografia em tons pastéis e a paleta de cores suaves – dominada por azuis e verdes – estabelecem um tom melancólico, quase onírico. A câmera acompanha Elio em planos fechados que destacam seu isolamento, enquanto ele escreve mensagens na areia da praia ou observa o céu noturno. A direção de arte, repleta de referências a clássicos como “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” e até uma pitada de “E.T. O Extraterrestre”, cria um contraste interessante entre o mundano e o fantástico. A Terra parece pequena e opaca, enquanto o espaço é retratado como um lugar vibrante, cheio de formas e cores que lembram os melhores trabalhos da Pixar.

Crítica | Elio: Uma jornada intergaláctica sobre solidão e pertencimento
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No entanto, essa beleza visual nem sempre é acompanhada pela sutileza narrativa. O roteiro, assinado por Julia Cho, Mark Hammer e Mike Jones, opta por explicar demais seus temas em vez de confiar na capacidade do público – especialmente o infantil – de interpretar subtextos. Diálogos como “Estamos sozinhos?” ou “Ninguém me entende” soam mais como declarações de tese do que como vozes naturais de um personagem. Essa escolha, embora bem-intencionada, tira parte da força emocional da história, tornando-a menos orgânica do que poderia ser.

A montagem, por outro lado, é um dos pontos altos. Sequências de flashback são inseridas com precisão, usando cortes rápidos para evocar memórias fragmentadas, enquanto cenas de ação no espaço são dinâmicas sem serem caóticas. Um destaque é a sequência em que Elio e Glordon, o filho pacifista de um imperador alienígena, criam uma amizade improvável. A edição alterna entre planos detalhados dos dois personagens – um humano, outro uma criatura de formas arredondadas e olhos expressivos – e paisagens cósmicas que amplificam a sensação de descoberta.

Falando em Glordon, ele é, sem dúvida, o coração do filme. Enquanto Elio carrega a narrativa, é na relação entre os dois que a história encontra sua verdadeira profundidade. Glordon, assim como Elio, é um estranho em seu próprio mundo – um pacifista em uma cultura belicista. A animação captura perfeitamente a química entre eles, com expressões faciais que dispensam palavras. Em um momento particularmente tocante, os dois sentam-se à beira de um “lago” de estrelas, e a câmera desliza lentamente para um plano aberto, como se o universo todo estivesse testemunhando aquela conexão.

Assim como os diálogos, a trama sofre com uma certa falta de originalidade, especialmente no terceiro ato, que recorre a resoluções típicas de filmes de aventura infantil. O vilão, Lord Grigon, é caricato em sua fúria, e a solução para o conflito final é tão rápida que parece apressada, perdendo qualquer peso. Além disso, alguns personagens secundários, como os membros do Comuniverso, são introduzidos apenas para desaparecer sem maior desenvolvimento. São escolhas que revelam um filme mais preocupado em entregar uma mensagem do que em explorar plenamente seu potencial narrativo.

Crítica | Elio: Uma jornada intergaláctica sobre solidão e pertencimento
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Ainda assim, há uma honestidade em Elio que ressoa. A trilha sonora, com suas cordas suaves e temas melódicos, reforça a ideia de que a solidão é universal – seja em um subúrbio terrestre ou em uma galáxia distante. E, no final, quando Elio finalmente entende que pertencimento não é sobre ser igual, mas sobre ser aceito, o filme alcança um momento de genuína beleza.

Elio não parece que vai se tornar um clássico da Pixar, mas é um filme com coração. Num mundo onde a solidão parece ser uma epidemia silenciosa, sua mensagem – de que ninguém está realmente sozinho – é um conforto. E isso, no fim das contas, é o mais importante. Como o próprio filme sugere, às vezes basta olhar para o céu para lembrar que, em algum lugar, alguém também está olhando de volta.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.