Dwayne Johnson como Mark Kerr em Coração de Lutador: The Smashing Machine
Foto: Divulgação/A24

Crítica | Coração de Lutador: Dwayne Johnson prova ser muito mais que astro de um papel só

Dwayne Johnson e Emily Blunt brilham em cinebiografia sobre Mark Kerr

Filmes de atletas sempre tiveram um apelo especial no cinema, não importa o esporte. Há um fascínio inerente em acompanhar a trajetória de um competidor rumo ao auge, enfrentando não apenas os desafios do mundo esportivo, mas também seus próprios fantasmas. 

Coração de Lutador: The Smashing Machine abraça essa tradição, mas não cede a fórmula repetida que costuma agradar o grande público. O resultado é uma obra intensa, mais ousada e menos preocupada em soar apenas como um filme inspiracional.

Dwayne Johnson surge em seu melhor momento como ator e encontra em Emily Blunt uma parceira de cena à altura. A história é sustentada não só pela jornada do atleta no esporte, mas, principalmente, por sua vulnerabilidade fora do ringue.

O longa acompanha Mark Kerr, ícone do MMA, desde os primeiros treinos no final dos anos 1990, quando o esporte era visto como “brutal e sem estrutura”, até o auge de sua carreira. Baseado no documentário homônimo, a produção mergulha nos conflitos do atleta dentro e fora do octógono. O vício em analgésicos e opioides e o relacionamento volátil com sua namorada, Dawn Staples não são ignorados.

A direção de Benny Safdie, em seu primeiro trabalho solo após cinco longas feitos com o irmão Josh, imprime à narrativa um ritmo inquieto e desconfortável. Vê-se uma escolha estilística que se reflete na montagem nada convencional e que o afasta dos clichês do gênero.

Ao invés da típica história do herói desconhecido que chega ao auge, cai e se reergue, a produção aposta em cortes que interrompem o fluxo esperado. O diretor cria uma sensação constante de que a qualquer momento a vida do protagonista pode desmoronar.

Grande parte dessa experiência deve-se a trilha sonora do longa, assinada por Nala Sinephro, que intensifica a atmosfera do filme. A estrela do jazz experimental, imprime à narrativa sons quase enlouquecedores. Esse acompanhamento mergulha o público na mente e nos conflitos mais profundos de Kerr. 

Toda essa tensão, contudo, só atinge seu potencial máximo graças a performances que estão à altura do desafio. É nesse cenário que Johnson surpreende ao entregar seu mais arriscado trabalho. Conhecido por interpretar variações de si mesmo em blockbusters, em Coração de Lutador, ele entrega algo completamente diferente do esperado. 

Sua interpretação de Kerr mostra um gigante do MMA, mas, ao mesmo tempo, um homem fragilizado pelo peso da vida pessoal. Ele abandona o herói invulnerável construído por Hollywood e abraça a fragilidade do personagem. Seja na dor física, na dependência de analgésicos ou quando precisa lidar com a imagem pública e os obstáculos da vida íntima, Johnson assume a vulnerabilidade de Kerr (e a própria). O resultado é o melhor trabalho de sua carreira em uma performance que pode lhe render uma indicação ao Oscar.

Dwayne Johnson em Coração de Lutador: The Smashing Machine
Foto: Divulgação/A24

Ao lado de Johnson, Blunt carrega a força necessária para elevar o filme a outro patamar. Diferente do ator, que apresenta uma transformação corporal visível além de próteses e maquiagens, a atriz não precisou recorrer a transformações físicas. Blunt se reinventa por completo através do corpo, da voz e da intensidade dramática. 

Sua interpretação de Staples vai muito além de parceira do atleta. A personagem se apresenta com personalidade própria. Ela sutenta e desafia o lutador com firmeza, tornando a relação entre os dois tão fascinante quanto a conexão dele com o ringue. É justamente essa química que sustenta grande parte da narrativa dramática, provando que a escolha do elenco foi fundamental para o impacto emocional da produção.

Dwayne Johnson e Emily Blunt em Coração de Lutador: The Smashing Machine
Foto: Divulgação/A24

O filme também encontra espaço para humanizar Kerr por meio de detalhes que o afastam da imagem de monstro invencível. Esse retrato dúbio, entre o gigante temido e o homem vulnerável, confere profundidade ao personagem. Ao longo da trama, vemos como a violência exercida dentro do octógono não basta para enfrentar as dores invisíveis que o assombram. Safdie constrói essa dualidade sem recorrer ao sentimentalismo barato, mas também sem perder de vista que, no fundo, estamos diante de uma história de superação.

Coração de Lutador: The Smashing Machine é exatamente o tipo de produção que a Academia costuma amar. Temos uma transformação radical de um astro conhecido, atuações intensas, direção autoral e uma narrativa que desafia os modelos convencionais do gênero. Porém, mais do que uma aposta para premiações, ele marca a carreira de Johnson e reforça Blunt como uma das mais versáteis atrizes de sua geração.

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Jornalista apaixonada por cinema, séries, musicais e histórias. Fã de carteirinha da Disney, gateira e curiosa pelo mundo e suas culturas.