Barba Ensopada de Sangue, a adaptação cinematográfica do livro homônimo de Daniel Galera, traz à tela uma narrativa intensa que explora as nuances da masculinidade, da fragilidade à natureza violenta que homens resolvem seus demônios. Dirigido por Aly Muritiba, o filme mergulha em um universo onde os códigos de honra e a violência se entrelaçam, levantando questões sobre o que significa ser homem em uma sociedade marcada por pressões e expectativas.
Em uma conversa com o diretor, Muritiba compartilha suas reflexões sobre o processo de adaptação e as camadas emocionais que permeiam a obra, oferecendo uma visão aprofundada e metafórica, por meio de recursos visuais, sobre os desafios que os personagens enfrentam e as mensagens que ecoam ao longo da trama.
CG: Uma mensagem em comum entre histórias de alguns filmes na própria Mostra é a reflexão sobre a masculinidade, suas fragilidades e como a violência parece ser a única forma de homens se comunicarem. Esse é um dos temas do livro que você está adaptando e queria saber como foi o processo dessa adaptação, não só na direção de forma técnica, mas uma autorreflexão enquanto homem?
“Olha, essa coisa de refletir sobre a masculinidade, sobre os afetos masculinos, sobre como nós não aprendemos ao longo de nossa vida a expressar nossas emoções. Nossos afetos e sentimentos, a não ser pela via física, muitas vezes violenta, é objeto de pesquisa de muitos dos meus filmes. Está lá em ‘Para Minha Amada Morta’, está lá em ‘Ferrugem’, está lá em ‘Deserto Particular’, está lá em ‘A Gente’. Essa é uma questão que me inquieta há muito tempo, como pensador, como criador, como artista, e esse aspecto é que acabou me chamando a atenção no livro do Daniel Galera”, inicia.
O diretor conclui: “Quando eu li o Barba Ensopada de Sangue, eu percebi uma conexão muito profunda, que havia entre aquele personagem e os personagens que eu havia ou estava criando para as minhas histórias. E aí é por esse motivo que eu resolvi contar essa história desse sujeito, tentando lidar com seus afetos e tentando encontrar uma maneira não violenta de romper um ciclo que era um ciclo de violência que vitimou seu avô”.
CG: Nos últimos anos você também vem sendo destaque na direção de séries. Entre elas, a Cangaço Novo, com destaque nas grandes sequências de ação. Queria saber se, de certa forma, essas experiências em séries te mudaram enquanto diretor no cinema? Se sim, elas influenciaram em algum processo em Barba Ensopada de Sangue?
Na verdade, a minha experiência dirigindo séries não tem qualquer influência na minha experiência dirigindo filmes. Eu abordo os meios de maneira distinta e tenho plena consciência de que quando estou filmando para a tela grande, para a tela grande dentro de uma sala escura, na imersão, eu posso fazer uso de certos recursos de linguagem que, em série, fica difícil de manter a atenção do espectador. Então, são abordagens distintas porque os meios são distintos. E tenho tentado sempre revezar um longa, uma série, um longa, uma série, justamente para não viciar o olhar, para não viciar a sensibilidade.
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