Brat, novo álbum de Charli XCX já é um dos grandes fenômenos do pop em 2024. Desde o seu lançamento no início de junho, o disco da artista britânica tem repercutido e gerado debates nas redes sociais. E as parcerias escolhidas para os feats são um dos grandes destaques.
O remix de “Girl So Confusing” com a participação de Lorde e a faixa bônus “Guess Featuring Billie Eilish” são hits não apenas por serem bons singles pop, mas também por todas as camadas de significados por trás desses encontros que vão contra tendências do pop atual e subvertem o que se espera de uma artista feminina no mainstream.
Quando se alia a outras duas grandes referências da atual geração do pop e as carrega para o universo de “Brat” que por si só já é cheio de subversões, contradições e questionamentos, Charli expõe questões sobre a indústria e toda a dinâmica que envolve o que é ser uma cantora pop.
Charli XCX e Lord: a anti- rivalidade
Logo quando o disco chegou nas plataformas digitais, “Girl So Confusing” chamou a atenção dos fãs. Na faixa, Charli faz uma reflexão sobre ser uma mulher no pop e revela um certo desconforto em relação a outra cantora. “As pessoas dizem que somos parecidas / Elas dizem que temos o mesmo cabelo / Conversamos sobre fazer música / Mas não sei se isso é sincero”, diz a letra.
Instantaneamente começaram a surgir especulações de que Lorde seria a colega a quem Charli estaria se referindo. As comparações entre as duas existem desde que elas despontaram para o grande público, no início da década passada.
A própria autora do “Brat” falou sobre o desconforto que sentia em relação a neozelandesa quando esta estourou nas paradas ao redor do mundo com “Royals”, em 2013. “Ela gostava da minha música. Tinha cabelo grande; Eu tinha cabelo grande. Ela usava batom preto; Uma vez usei batom preto. Você cria esses paralelos e pensa: ‘Bem, poderia ter sido eu'”, contou a britânica em entrevista recente para à Rolling Stone.
Estava armado todo cenário para se desenvolver o que poderia ser mais uma rivalidade entre cantoras, algo tão comum e já visto em diferentes épocas e situações. No entanto, veio a reviravolta. No dia 21 de junho, Charli XCX lançou o remix de “Girl So Confusing”, com a participação de ninguém menos que… Lorde.
E o que se viu não foi uma simples colaboração. As duas falaram abertamente sobre os sentimentos confusos que tinham uma com a outra. Lorde compôs novos versos para o single e trouxe o seu lado da história.
“Bem, honestamente, fiquei sem palavras / Quando acordei com sua mensagem de voz / Você me contou como estava se sentindo / Vamos resolver isso no remix / Você sempre dizia: ‘Vamos sair’/ Mas eu cancelava de última hora/ Eu estava tão perdida na minha cabeça / E com medo de aparecer nas fotos”, canta a neozelandesa.
Com o acerto de contas entre as duas estrelas no remix, não só elas construíram o antidoto para a possível rivalidade midiática, como expuseram inseguranças, dúvidas, questões complexas que povoam a mente de qualquer ser humano, mas que parecem terem ficado cada vez mais escondidas para se manter uma falsa imagem de perfeição, outra constante entre cantoras pop.
Guess Featuring Billie Eilish
No início de agosto Charli XCX lançou outra parceria surpreendente. “Guess Featuring Billie Eilish” é uma faixa bônus lançada na versão estendida de “Brat” e que veio acompanhada de um clipe no qual as duas falam abertamente sobre sexualidade, prazer feminino e flertam entre si.
No vídeo Charli aparece dançando em meio a calcinhas e sutiãs que são jogados ao ar enquanto canta: “Você quer adivinhar a cor da minha roupa íntima? Você quer saber o que eu tenho aqui embaixo?”.
Em seguida aparece Billie Eilish dirigindo um trator e passando por cima de todas as peças de roupas intimas. Ela responde à Charli com outra provocação. “Não preciso adivinhar a cor da sua calcinha / Eu já sei o que você tá usando aí embaixo”; canta a estadunidense que dá detalhes do que a britânica está usando: “calcinha preta rendada com lacinhos, aquela que escolhi para você em Tóquio”.
Tanto no clipe quanto na música fica nítido que as duas estrelas da geração z fazem uma provocação recheada de deboche e sarcasmo sobre a expectativa de que a sexualidade de cantoras pop, geralmente restrita a heterossexualidade, deve estar a serviço de uma figura masculina.
Aqui as artistas se divertem com provocações entre si, falam explicitamente sobre o que gostam e o querem fazer uma com a outra sem nenhum pudor e expõem seus desejos com a mais absoluta normalidade, algo ainda raro no meio, ainda que seja mais bem entendido do que em épocas anteriores.
Com “Brat” e as parcerias que Charli XCX vem construindo ao longo dessa era, ela se consolida cada vez mais na figura de uma anti-diva. Uma artista que está se propondo a romper com ideias estabelecidas e trazer novos caminhos e questões para o seu público, sempre com uma boa dose de sinceridade e uma linguagem simples e direta.
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