“Quero saber se você vai correr atrás de mim / num aeroporto / pedindo pra eu ficar, pra eu não voar / pra eu maneirar um pouco / Que vai pintar uma tela do meu corpo nu”; É com esses versos que traduzem o desejo de ser amada intensamente que Liniker abre “Caju” faixa que introduz e dá nome ao seu segundo álbum solo, lançado na última segunda-feira (19).
E o tom da obra é exatamente esse, o desejo de viver um amor abundante em um dia ensolarado. Caju é o nome do alter ego criado pela cantora para personificar esse sentimento e que também simboliza o gosto doce e predominante que o álbum deixa a cada nova audição.
O sucessor do bem-sucedido “Indigo Borboleta Anil” (2021) chega como uma expansão de tudo o que Liniker apresentou até aqui, além de dar passos mais largos na direção do pop, mas um pop muito autêntico e despreocupado com as métricas e convenções que estão em voga no cenário brasileiro atual.
São 14 faixas, algumas delas com mais de 7 minutos, que deixam bem claro que o álbum não tem pressa em se revelar para o público; e ouvi-lo com calma realmente vale a pena. Tendo a parceria de Fejuca e Gustavo Ruiz na produção, a cada momento Liniker vai mostrando como amadureceu e cresceu musicalmente desde sua estreia em 2015, ao lado dos Caramelows, com “Zero”.
Do intimista ao pop
A faixa-título abre “Caju” com o clima romântico e intimista pelo qual a cantora de Araraquara já é conhecida. Em “Tudo”, primeiro single divulgado, ela já mostra sua intenção de dialogar mais explicitamente com o pop e acerta com um ritmo contagiante e um refrão forte que te puxa para cantar junto.
Porém nada te prepara para o que vem a seguir, “Veludo Marrom” é um dos grandes momentos do álbum. Começa calma e contida e vai crescendo aos poucos até explodir em uma interpretação digna de grande diva acompanhada do arranjo luxuoso da Orquestra Jazz Sinfônica e o acompanhamento de um coro que arrebata.
Essa excelência e a participação da orquestra se estendem em “Ao Teu Lado”, parceria de Liniker com o pianista Amaro Freitas e com participação do duo Anavitória, outra belíssima interpretação com uma boa harmonia entre os três vocais. “Me ajude a Salvar a salvar os Domingos” encerra bem esse primeiro momento do álbum.
A partir de “Negona dos olhos Terríveis”, parceria com o BaianaSystem, a obra caminha para uma atmosfera mais ensolarada e descontraída. Daqui em diante a cantora vai se desdobrar em gêneros brasileiros diversos e vai deixar mais evidente a sua vocação pop; como acontece em “Papo de Edredom” um r&b chique e encorpado com a participação da baiana Melly.
“Popstar” é um desabafo da artista e uma exigência para ser amada como se deve, sem a fama e a aura de uma grande estrela serem um empecilho. “Não é coragem que precisa pra estar do meu lado / Todo mundo merece amor até uma popstar”, diz a letra.
“Febre” soa como uma continuação natural do hit “Baby 95”, um pagode contagiante que já havia sido lançado anteriormente em parceria com Thiaguinho e aqui aparece em uma nova roupagem, bastante envolvente. Em “Pote de Ouro” Liniker parte para uma mistura de bachata com arrocha e conta com o reforço da cantora pernambucana Priscila Senna.
Outra boa surpresa é “Deixa Estar”, na qual a artista se desdobra com habilidade pela disco-music e ainda conta com a presença de Lulu Santos e a participação de Pabllo Vittar com vocais pontuais, porém muito bem aproveitados.
O clima evolui naturalmente para o house em “So Especial”. Aqui a cantora deixa claro o quanto está se divertindo e se sentindo a vontade no atual momento artístico. “Take Your Time e Relaxe” encerra a obra com ela recitando versos que parecem definir a sensação que fica. “É preciso ser o retrogosto da boca e ser eterno em alguma memória, seu nome não é caju à toa.”
Em “Caju”, Liniker prova que para fazer boa música pop, capaz de se conectar com diferentes públicos e de reverberar na cultura pop, não é preciso repetir formulas genéricas, perseguir tendências de algoritmos nem ter pressa em prender a atenção do ouvinte. Aqui ela mostra que ser fiel a sua própria essência, sem medo de experimentar, tem um valor não perecível.
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