O novo longa de Daniel Ribeiro, estreia nesta quinta-feira, 13 de junho, nos cinemas.
Depois de conquistar o Brasil com o curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho” e ganhar o mundo com o longa “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” quatro anos depois, sendo vencedor de diversas premiações incluindo o Teddy Award no Festival de Berlim de 2014, o diretor Daniel Ribeiro volta as telonas, dez anos mais tarde, com o seu novo lançamento: 13 Sentimentos.
No longa iremos acompanhar a jornada de João (Artur Volpi), um jovem cineasta que está voltando de sua “lua de mel ao contrário”, maneira como o rapaz se refere a última viagem que fez com Hugo (Sidney Santiago), agora seu ex-namorado. Enquanto processa o término e tenta desenvolver o roteiro de seu primeiro longa metragem como diretor, João se aventura por alguns aplicativos de relacionamentos até que, dentre muitos rostos, encontra Vítor (Michel Joelsas), por quem se apaixona rapidamente.
As expectativas pelo projeto inédito
Como espectador, me agrada bastante o trabalho de Daniel Ribeiro e não é a toa que “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é facilmente um dos meus longas nacionais favoritos, tendo a certeza de que ele permanecerá ocupando esse lugar até o meu último momento neste plano. Toda a sensibilidade e delicadeza que Daniel possui para contar aquela história, tem a capacidade de aliviar os momentos mais pesados e transformá-los em pura arte.
Confesso que, ao ir assistir o seu novo trabalho, uma parte de mim esperava por ser tocado de forma similar, porém não foi isso que aconteceu. E ainda bem por isso.
A identificação
É claro que apenas treze sentimentos não são suficientes para abordar cada nuance que existe em um relacionamento amoroso/afetivo, e por esse motivo que a escolha de utilizar um cubo mágico não só como um objeto de cena presente em grande parte das sequências, mas também como um representante físico do estado emocional de João é tão certeira.
Por que, assim como quando você está brincando com o cubo, a vida real também pode parecer um imenso caos que, em um primeiro momento, é impossível de se solucionar. Porém, com uma certa ajuda, você pode ser capaz de encontrar a direção certa e, aos poucos, ir organizando a bagunça.
Então, 13 Sentimentos também entrega os seus momentos de reflexão com a leveza já característica das obras de Ribeiro mas, em sua totalidade, é uma boa comédia que reproduz diversas situações que qualquer homem gay, que já esteve em um aplicativo de relacionamento exclusivo da comunidade em busca de algo além de uma relação sexual rápida, já enfrentou e que, em grande parte, poderá se identificar.
Mas claro que você também poderá se ver nas famosas e diversas “personas” que são representadas no decorrer da projeção, seja por você ser um dos integrantes de um casal que procura uma “marmita” em uma sexta à noite ou alguém que não goste de forma alguma de tomar café.
De qualquer forma, esse é o principal ponto positivo desse longa: a identificação. Se você já teve uma conta em um desses apps, por exemplo, ao visualizar determinada situação se desenhando, será possível imaginar qual atitude João irá tomar e, justamente por isso, existe a chance de você torcer para que o personagem aja diferente, por saber qual resultado aquela decisão possivelmente irá gerar. Tudo isso se pautando na sua própria vivência, é claro.
Faço esse destaque pois, assustadoramente, me enxerguei em mais situações da vida de João do que gostaria e com o adicional de também ter ouvido de amigos meus algumas das frases e conselhos que são verbalizados no longa, quase que de forma idêntica.
Mas não se engane achando que isso torna o roteiro de Daniel, também escrito com Rafael Gomes (“Música Para Morrer de Amor”), previsível. Pelo contrário, a dupla de roteiristas consegue surpreender com algumas boas reviravoltas.
A fotografia de Pablo Escajedo (da série documental, “Fora do Armário”), em alguns momentos, brinca com a liberdade de utilizar uma câmera na mão e tem um belíssimo casamento com a direção de arte de João Vitor Lage (do reality show jornalístico “Desafio de Talentos”) fazendo com que, até os ambientes mais simples, ganhem vida na frente da lente e encham os olhos do público.
E, assim como o cubo mencionado no início, a fotografia e a arte também desempenham os seus respectivos papéis para, imageticamente, refletirem o emocional do protagonista. Então, se o nosso cineasta está aflito ou ansioso, por exemplo, a câmera se torna mais agitada e, se uma decepção acontece, rapidamente, o cenário colorido é substituído por uma paleta mais lavada e acinzentada. Mas se João está passando por uma fase mais tranquila, recebemos uma explosão de tons vivos, com cores complementares espalhadas pelo cenário conversando de forma harmônica com as cores primárias dos figurinos dos personagens, como também, temos enquadramentos mais estáveis e movimentações suaves.
Outra artimanha que o longa utiliza é brincar com a nossa percepção sobre o que é realidade e o que está se passando apenas dentro da cabeça de João. Um artifício interessante que surge durante o segundo ato e gera, em determinado momento, um excelente plano sequência com uma coreografia muito bem executada entre equipe técnica e elenco mas que, no geral, poderia ter sido utilizado de forma mais pontual.
E não podemos esquecer da montagem de Cristian Chinen (da minissérie “O Caso Evandro“) que transforma as conversas dos chats dos aplicativos em momentos divertidos e dinâmicos ao mostrar os atores interagindo lado a lado, dentro de molduras com suas informações básicas, emulando um grande feed na tela de cinema.
O elenco de 13 Sentimentos
Sobre os personagens e seus intérpretes, o cativante e carismático Artur Volpi (da série “Segunda Chamada”) traz uma luz especial para toda a narrativa. O texto se encaixa muito bem no ator que transmite naturalidade em cena com o seu protagonista. Diferente de Paula (interpretada por Maitê Schneider), compramos facilmente sua história e embarcamos nela sem nem pensar duas vezes.
Seus amigos, Alice e Chico, interpretados brilhantemente por Juliana Gerais (da série, “Todxs Nós”) e Marcos Oli (“Verão Fantasma”) respectivamente, fecham o trio principal. Juliana e Marcos tem uma ótima sinergia juntos, marcam presença desde a primeira cena em que aparecem e são os responsáveis por boas doses de gargalhadas durante todo o filme. Eu realmente não consigo imaginar como seria o longa sem esses dois personagens.
Por fim, Michel Joelsas (“Que Horas Ela Volta?”) que encarna o novo interesse amoroso de João, por vezes derrapa na atuação mas, na maior parte, entrega um bom trabalho.
Baseado em sentimentos reais
Com algumas pitadas de autobiografia, Daniel Ribeiro prova com “13 Sentimentos” que ainda tem muito mais para mostrar ao mundo e sem qualquer receio de expor o amor entre dois homens durante alguns bons minutos, com muita intensidade, intimidade e, sobretudo, beleza. Por que sim, esse é um filme bonito de se ver, ouvir e, claro, sentir.
Um dos piores filmes que eu já vi, mesmo sendo feito com boas intenções. Me deu um mal estar muito grande ver a superficialidade do protagonista João, os problemas de white people da Santa Cecília e personagens que orbitam ao redor dele apenas para resolver problemas dele. Como pessoa LGBT me senti constrangido, me questionei negativamente: será que eu tinha que ser assim, por que eu não sou? Achei os personagens caricatos e os diálogos muito pouco naturais.
A crítica do site ficou legal, bom ver outros pontos de vista de quem não pesou muito ao assistir, mas pra mim até comédia romântica precisa ter pulso pra contar a história. Não me vi no filme, provavelmente para o diretor nem uma pessoa eu sou e pro João eu seria uma piada.