Se alguém dissesse lá em 2018 que Cobra Kai se tornaria um fenômeno global e terminaria sua trajetória com uma 6ª temporada de tirar o fôlego, a reação seria, no mínimo, de ceticismo. Afinal, quem imaginaria que uma continuação de “Karatê Kid” lançada no finado YouTube Red conseguiria não apenas resgatar um clássico dos anos 80, mas expandi-lo com tanta maestria? Pois bem, a série não só fez isso como provou que nostalgia e renovação podem andar juntas sem que uma ofusque a outra.
O maior trunfo de Cobra Kai sempre foi saber exatamente o que queria ser. Nunca teve vergonha de sua essência exagerada, seus diálogos cafonas ou suas reviravoltas inacreditáveis – pelo contrário, abraçou tudo isso com convicção. Mas, acima de tudo, sempre manteve o coração no lugar certo. Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) foram os pilares emocionais da história, mas a série jamais se apoiou apenas neles. A nova geração – Miguel (Xolo Maridueña), Sam (Mary Mouser), Hawk (Jacob Bertrand), Tory (Peyton List) e Robby (Tanner Buchanan) – trouxe frescor, protagonismo e conflitos próprios, evitando que a narrativa se tornasse um simples desfile de fan service.
E falando em fan service, que aula de como fazer isso direito! A série trouxe de volta rostos icônicos da trilogia original sem nunca parecer oportunista. A redenção de Chozen (Yuji Okumoto) foi uma das melhores reviravoltas da franquia, assim como o retorno ameaçador de Terry Silver (Thomas Ian Griffith), que entregou um dos melhores vilões que já vimos em anos. Cobra Kai não apenas reverenciou seu passado, mas também deu a ele novas camadas e propósitos, algo raro em sequências de clássicos.
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Mas nem tudo foram acertos. Quando a Netflix comprou a série após o YouTube Red sair do jogo, Cobra Kai tropeçou feio em sua 4ª temporada, que perdeu o equilíbrio entre drama e exagero e ficou parecendo uma versão de “Malhação” com eventuais confrontos de karatê. Foi uma fase em que a série parecia não saber para onde ir, diluindo seus personagens e colocando conflitos rasos no centro da trama. Felizmente, a produção se reergueu e, com um planejamento cuidadoso, retomou seu espírito original, preparando o terreno para um encerramento que honrasse sua jornada.
Assista ao trailer da última parte da 6ª temporada:
E que encerramento! O medo de que a série pudesse desmoronar em sua reta final era real – afinal, quantas histórias incríveis já não perderam a mão no último ato? (“The Walking Dead”, “House of Cards” e “How I Met Your Mother”, estamos falando de vocês). Mas Cobra Kai soube dar a volta por cima e entregar uma conclusão digna, trazendo de volta tudo aquilo que fez os fãs se apaixonarem: lutas eletrizantes, humor na dose certa, reviravoltas absurdas e, acima de tudo, evolução.
O Torneio Sekai Taikai foi um golpe de mestre. Expandir o conflito para uma escala global deu peso à narrativa sem perder a essência da rivalidade entre os dojôs. As lutas foram intensas, bem coreografadas e repletas de momentos de tirar o fôlego, como todo fã merecia. Mas a verdadeira vitória da série não veio no tatame – veio no arco dos seus personagens.
Johnny e Daniel, que passaram décadas presos ao passado, finalmente superaram suas diferenças de forma orgânica, provando que crescimento e redenção são possíveis. Johnny, em especial, teve uma das melhores evoluções da TV recente, saindo de um cara fracassado e perdido para um sensei, pai e amigo de verdade. Seu final foi puro fan service no melhor sentido: emocionante, merecido e absolutamente fiel ao personagem que conhecemos lá em 1984.
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A nova geração também brilhou em seu desfecho. Tory, uma das personagens mais complexas da série, teve um arco redentor emocionante, provando que sua força ia muito além do karatê. Miguel e Sam, desde sempre o coração da série, encontraram seu próprio caminho e consolidaram-se como os herdeiros naturais do legado Miyagi-Do. E Chozen, ah, Chozen! Se alguém roubou a cena na reta final, foi ele. Desde sua chegada, seu humor e sua força transformaram cada momento em que apareceu em ouro puro, e sua participação no torneio foi um dos ápices emocionais da temporada.
Agora, Cobra Kai se despede, mas o universo de Karatê Kid continua com “Karatê Kid: Lendas” no horizonte. E se essa série nos ensinou alguma coisa, é que o verdadeiro espírito do karatê não está apenas nos golpes ou nas rivalidades, mas sim no respeito, na evolução e na capacidade de transformar legados em algo eterno. A chama de Miyagi-Do e Cobra Kai não se apagou – ela apenas passou para a próxima geração.
Oss, e sem misericórdia!
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