Crítica | A Nuvem e o Homem e como a graça se perdeu no tempo
(Foto: Little Lamb Films/Divulgação)

Crítica | A Nuvem e o Homem e como a graça se perdeu no tempo

Filme indiano A Nuvem e o Homem foi exibido após a coletiva do Festival Filmes Incríveis, ao qual ele fará parte.

Parte da grande diversão de qualquer festival de cinema é entrar na sala de cinema para assistir um filme sobre o qual você não sabe nada. Sem um algoritmo da Netflix empurrando-o para você. Sem hype. Sem atores ou diretores conhecidos. Apenas uma sinopse e um horário viável. E você tem que sentar e assistir na tela grande sem multitarefas. Às vezes você encontra uma joia escondida ou um fracasso ambicioso. Para mim, A Nuvem e o Homem se encaixa na segunda categoria.

Embora o resultado final do filme do diretor indiano Abhinandan banerjee (“Três Obsessões”) não tenha sido dos melhores na minha concepção, é evidente o apuro técnico na obra e um carinho em uma premissa original e nada comercial. Aliás, tudo escrito nesse texto até então foi dito – com outras palavras – pelo diretor da Reag Belas ArtesAndré Sturm, durante a coletiva de imprensa do Festival Filmes Incríveis (FFI), que precedeu a exibição do filme ao qual escreverei a seguir.

A Nuvem e o Homem

Um homem comum se relacionando com uma novem pode dar certo? (Foto: Little Lamb Films/Divulgação)

Em A Nuvem e o Homem, Manik (Chandan Sen) vive na gigantesca metrópole de Calcutá, mas leva uma vida solitária. Ele cuida de suas plantas e alimenta seu pai, que está muito idoso e frágil. Quando seu pai morre, ele começa a desenvolver uma espécie de relacionamento com uma pequena nuvem no céu ensolarado da capital de Bengala Ocidental.

As ambições do filme derivam de seu roteiro econômico e relativamente sem palavras, ritmo lento, o comportamento enigmático de Manik e sua intenção de ser uma peça de humor. Isso deixa ao espectador a oportunidade de olhar ao redor da cena, absorver os visuais e pensar sobre a simbologia do sol, da nuvem, da chuva e da sombra.

Isso funcionou nos primeiros 30 minutos iniciais, enquanto eu relaxava no ritmo do filme. Mas, convenhamos, desenvolver um relacionamento entre um homem comum e uma nuvem, é realmente uma tarefa difícil. Nada realmente se desenvolve; nem ideias, nem enredo, nem personagem. O filme é muito prejudicado pela gama limitada do ator principal – ou pela forma na qual banerjee o conduz. Depois de um tempo, minha mente flutuou nas nuvens e se afastou da tela, mesmo olhando fixamente para ela durante toda a projeção. No entanto, o som era imersivo e parte da cinematografia era cativante, transportando efetivamente o espectador para outra parte do mundo.

Crítica | A Nuvem e o Homem e como a graça se perdeu no tempo
Embora tecnicamente bem apurado, faltou consistência num longa que poderia funcionar melhor se fosse um curta (Foto: Little Lamb Films/Divulgação)

Há sim grandes cenas e acredito que o final, que propõe uma linda catarse – embora não entenda o motivo de mudança na cinematografia da última cena – sejam interessantes e condizentes, sinto que faltou desenvolvimento para um longa-metragem. Tive a impressão de assistir um excelente curta que foi esticado. Até por isso é notória a qualidade do longa, mas talvez menos é mais e o tempo é rigoroso.

Em última análise, especialmente em um festival de cinema – visto que ele irá compor o FFI -, um fracasso ambicioso ainda pode ser melhor do que um bom filme de gênero saindo direto da fábrica de pré-montados Hollywood e estou feliz que o grupo Belas Artes tenha dado uma chance. E, imagino que haja um público para quem Manik e a nuvem falarão volume.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.