Arnaldo Antunes em seu novo álbum, 'Novo Mundo'.
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação.

Crítica | Arnaldo Antunes volta inquieto mas sem perder a sensibilidade em ‘Novo Mundo’

Após mergulhar em uma sonoridade minimalista, com canções mais introspectivas acompanhadas apenas pelo piano de Vitor Araújo em “Lágrimas no Mar” (2021), Arnaldo Antunes é movido mais uma vez pela inquietude e faz dela a matéria prima de Novo Mundo, seu mais novo álbum, marcado pela retomada de um som mais eletrônico e pesado, ainda mantendo a sensibilidade.

Ao longo das 12 faixas, o cantor e compositor paulistano equilibra reflexões críticas sobre o mundo atual com a poesia, que é sua marca, e momentos mais delicados e marcados pela emoção. Tudo isso marcado por experimentações com drill, batidas eletrônicas, sintetizadores e momentos acústicos, orquestrados pela excelente produção Pupillo (bateria, percussão) e a presença dos músicos Kiko Dinucci (guitarras e violões), Vitor Araújo (teclados e piano) e Betão Aguiar (baixo).

Capa de 'Novo Mundo', mais novo álbum de Arnaldo Antunes.
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação.

A Sequência de abertura já mostra a força do álbum, com a faixa título fazendo um panorama geral do cenário distópico em que vivemos e trazendo o rapper Baiano Vandal recitando os versos de “Mundanoh”. Em seguida vem “O amor é a droga mais forte”, faixa em que Antunes retoma sua veia roqueira para entoar o amor como resistência a frieza e ao individualismo em voga.

Uma das gratificantes surpresas de “Novo Mundo” são as duas músicas em parceria com David Byrne, ambas cantadas em português e inglês. A primeira, “Body Corpo” que vai numa direção mais dançante e traz uma boa combinação das vozes dos dois artistas, e “Não Dá pra ficar Parado Aí na Porta”, com uma letra que brinca com oposições e reforça essa dinâmica da dupla.

Arnaldo Antunes em seu novo álbum, 'Novo Mundo'.
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação.

Outra excelente parceria aparece em “Pra Não Falar Mal”, em que Antunes se junta a Ana Frango Elétrico para uma deliciosa canção que evoca um indie rock com toques de brega. a faixa funciona como um contraponto mais leve ao início intenso, chegando a remeter ao álbum “Iê Iê Iê“, lançado pelo artista em 2009. Acordarei mantém o tom mais positivo e esperançoso com um belo arranjo acústico conduzido pelo violão de Kiko Dinucci e o piano de Vitor Araújo.

“Tire o Seu Passado da Frente” é uma das faixas mais fortes do disco e que se assemelha com as composições de Arnaldo com os Titãs. Ela retoma o teor crítico com uma letra direta e provocativa: “não é porque foi oprimido que vai virar opressor / não é porque foi abusado que vai ser abusador / não é porque foi detido que vai virar ditador / não é porque foi desmamado que vai ter medo de amor / tira o seu passado da frente / tudo pode ser diferente.”

“Sou Só” é mais um belo encontro de Arnaldo com a amiga e parceira Marisa Monte. Aqui a já conhecida combinação das duas vozes guia toda canção com uma letra delicada e poética. “Viu Mãe” é uma composição inédita feita em parceira com Erasmo Carlos, ainda antes do falecimento do artista em 2022 e chega como um presente. “Tanta Pressa Pra Quê?”, encerra o disco em alta com um samba-rock composto em parceira com Marcia Xavier.

Em Novo Mundo, Arnaldo Antunes olha para o mundo contemporâneo de forma crítica porém sem nunca cair no pessimismo ou no discurso apocalíptico alarmista. Aqui, o poeta mantém sempre uma reserva de esperança e um olhar apurado para as belezas entrelaçadas ao caos, dando forma a um dos seus melhores álbuns nos últimos anos.

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